Gepeesse (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo

Dizem que você precisa viajar com alguém para conhecer a pessoa direito. Às vezes, porém, uma vez não é o bastante. Atualmente estou fazendo a minha segunda viagem com esta figura, o GPS, e ainda estamos nos conhecendo.

Em primeiro lugar, preciso dizer que não entendo por que se diz “o” GPS, quando até hoje só fui apresentado a gepeesses do sexo feminino. Ou da voz feminina, pelo menos. Acho isso um erro. Toda vez que nos desentendemos, vêm à tona preconceitos antediluvianos sobre mulher na direção.

Para agravar a situação, a gepeesse que viaja comigo desta vez é portuguesa. Às vezes erro uma entrada porque fico meditando sobre as palavras que ela escolhe. Ainda estou tentando entender a diferença entre “viragem” e “curva”. Creio que “viragem” seja uma curva natural e inevitável da estrada, enquanto “curva” seja um movimento intencional para um lado ou para o outro, decidido peremptoriamente pela gepeesse e executado sem maiores questionamentos pelo motorista.

Toda vez que ela diz “Saia na saída!” eu me lembro que em Porto Alegre a gente “cai um tombo”. (Quem não enxerga a beleza dos pleonasmos não sabe o que é viver.) Agorinha há pouco eu felizmente encontrei um lugar no acostamento para decodificar o que ela queria dizer com “faça uma reversão de marcha”. Por uns bons trinta segundos pensei que ela queria que eu desse um cavalo de pau. Mas daí entendi que ela só queria que eu desse… meia-volta.

O problema dos gepeesses, não importa o sexo ou o sotaque, é que eles não são exatos. Você começa a usar um GPS com a ilusão de que o bichinho vai ser como uma calculadora – contas, nunca mais. Só que ele funciona mais como o corretor ortográfico do seu celular, sempre mandando você falar algo que não quer.

É preciso discutir a relação o tempo todo. Tipo: “Q’rida, poish poish, eu gushtava de ir p’la rota panurámica, não p’la autoshtrada!” Ou: “Amoire, não tash a ver q’a rua shtá int’rditada?”

Mas eu me vingo. De vez em quando desobedeço a gepeesse de propósito, porque ela soa muito sexy quando está desnorteada. “Volte para trás assim que for possível! Volte para trás assim que for possível!”. Yeah, babe! Não pára, não pára, não pára!

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35 comentários

Hj uso o GPS, mas não abro mão dos mapas pra definir qual caminho quero fazer e o q ver nele. Minha primeira experiencia foi nos States, apelidamos a coisa de Maryellen, alguem aki lembra dos “waltons”, aquele seriado americano dos anos 70, q acabava c a familia inteira indo dormir e dando boa noite?? pois é o nome veio dai, a gte qdo desligava a dita dava “boa noite maryellen” rsrsrs O susto q ela nos deu lá foi nos manter na autoestrada rumo ao méxico, qdo queriamos ir apenas ao outlet, mas ela estava certa, nós é que não sabiamos q o outlet era na fronteira, quase em Tijuana! Na outra viagem comprei um, gostei do troço, agora na Europa, dessa vez é a maria, com suas rotundas, inversão de marcha, e todas expressões características! mas de vez enquanto ainda me pego trocando o nome delas, e solto um boa noite maryellen…

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