Ivetão (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo

Treze anos atrás, numa sexta-feira como esta, eu estava num avião para o Recife, a caminho do melhor carnaval da minha vida. Nos quatro dias seguintes, eu desafiaria leis elementares tanto da física quanto da educação física, e pularia os três principais carnavais do Brasil num ano só.

Naquele carnaval de 1999 eu saí no Galo da Madrugada, na Pitombeira dos Quatro Cantos, no Salgueiro, no Bloco Eva, no Crocodilo, na Varig, na Vasp e na Transbrasil, fazendo um ziguezague maluco movido a cerveja e guaraná em pó.

Sempre pensei que cada etapa do périplo – ouvir de perto as orquestras de metais em Olinda, desfilar na Sapucaí, ir atrás do trio elétrico em Salvador – ocuparia um espaço equivalente na minha memória da aventura.

Quanto mais o tempo passa, no entanto, mais um evento se sobrepõe a todos os outros.

Já era terça-feira de Carnaval e eu estava no meu hotel, nas lonjuras de Itapuã, me recuperando dos excessos dos dias anteriores (Recife no sábado, Rio no domingo, Salvador na segunda). O plano era enrolar até o fim da tarde, quando iria para o camarote de Daniela Mercury. Mas daí o celular (um StarTac tijolão) tocou.

Era a minha amiga Karla Sarquis, que na época trabalhava no Caderno 2. “Olha só, consegui pra vocês saírem no Bloco Eva, no alto do trio. Tão a fim?”

Sair num bloco em cima do trio é como assistir a um show em cima do palco. Mas só ao chegar ao Campo Grande me dei conta de que íamos presenciar um momento histórico. Aquele era o último desfile de Ivete Sangalo como crooner da Banda Eva. Na quarta-feira de cinzas ela partiria para a carreira solo.

Quem vê Ivete hoje estrelando um em cada três comerciais nos intervalos do horário nobre da TV não imagina como aquele passo era arriscado. Com exceção de Daniela Mercury, todas as outras cantoras de trio que tentaram a carreira solo tinham se ferrado.

Durante todo o desfile, uma Ivete emocionada embargava a voz a cada faixa de carinho estendida nas sacadas dos edifícios da avenida Sete. A mulher mais chorava que cantava. “Não vou ficar sozinha, é de ladinho que eu lhe acho”.

Foi o Carnaval do século. Pra minzinho e pra Ivetão.

Leia também:

Pulando de carnaval em carnaval (a saga completa)

Siga o Viaje na Viagem no Twitter@viajenaviagem

Siga o Ricardo Freire no Twitter@riqfreire

Visite o VnV no FacebookViaje na Viagem

Assine o Viaje na Viagem por emailVnV por email


15 comentários

Inveja branca. No mesmo ano, eu estava num dos blocos, no chão mesmo rsrs, com as mesmas amigas que hoje são mães de família, mulheres casadas, com compromisso rsrs

Atenção: Os comentários são moderados. Relatos e opiniões serão publicados se aprovados. Perguntas serão selecionadas para publicação e resposta. Entenda os critérios clicando aqui.

Assine a newsletter
e imprima o conteúdo

Serviço gratuito