Sobre os preços abusivos para a Copa: meus 20 centavos :-) 1

Sobre os preços abusivos para a Copa: meus 20 centavos :-)

Fonte Nova

| Arena Fonte Nova, Salvador |

Ontem a edição impressa da Folha de S. Paulo saiu com a manchete “Bilhete aéreo para a Copa já custa 10 vezes mais”. Referia-se à tarifa escandalosa da ponte aérea (ida e volta) para o dia do jogo de abertura da Copa — R$ 2.400 pela TAM, R$ 1.900 na Avianca, R$ 1.700 na Gol (não deve ter aparecido Azul porque a cia. não tem ponte aérea).

A tarifa é escandalosa, sim — mas não é exclusiva da época da Copa. Trata-se da tarifa mais alta das cias. aéreas para o trecho. Se você quiser comprar, hoje, uma ponte aérea Congonhas-Santos Dumont para a próxima sexta-feira à noite, encontrará essa tarifa de R$ 1.200 ida na TAM. Sem direito a jogo inaugural de Copa do Mundo nem Bruce Springsteen no Rock in Rio nem show de fogos em Copacabana.

O mancheteiro da Folha chegou à conclusão de que as passagens tinham “aumentado 10 vezes” porque o repórter que fez a pesquisa encontrou o mesmo trecho, ida e volta, por incríveis R$ 250, para viagens em março, abril ou maio.

Hahaha, isso sim deveria ser a manchete: CORRA, TEM PONTE AÉREA A 250 REAIS IDA E VOLTA!!! É o tipo de tarifa que a gente nunca acha quando precisa viajar. Eu nem me lembrava mais que essa tarifa existia! Programe suas viagens entre São Paulo e Rio de Janeiro com meses de antecedência, fora de feriado, e a ponte aérea volta a ser baratinha!

(E a propósito: se você vier do Rio para São Paulo para qualquer jogo da Copa, NÃO venha de ponte aérea. Guarulhos é muitíssimo mais perto do Itaquerão do que Congonhas. Anote para as próximas pesquisas, dona Folha…)

:mrgreen:

Uma manchete não-sensacionalista diria “Cias. aéreas suspendem tarifas descontadas em dias de jogos da Copa”. Está muito simpática às cias. aéreas? Melhor pôr mais pimenta? Eu ponho: “Cias. aéreas cobram tarifas de Réveillon em dias de jogo da Copa”.

As tarifas continuariam escandalosas (como de fato são), mas a informação estaria correta.

O mérito da matéria foi ter provocado uma discussão que deveria ter acontecido no dia seguinte à escolha do Brasil como sede da Copa. Por que diabos ainda não temos um plano logístico para os deslocamentos aéreos durante a Copa? Por que a ANAC, o Ministério do Turismo e a Embratur ainda não sentaram com as aéreas para falar sobre o assunto? Como serão reforçadas as rotas dos jogos mais importantes? O que fazer com a torcida da Itália, que só saberá no último dia da fase de grupos se o próximo jogo vai ser em Manaus ou em Porto Alegre? (Eu faço essa pergunta há ANOS.) Vamos ter vôos fretados? (Temos tempo hábil para atrair charteiras até a Copa?)

Deixo aqui meus 20 centavos:

–> Vai ser caro mesmo

As passagens talvez não custem um Réveillon todo dia de jogo da Copa, mas não espere promoções para dias de jogos importantes. Seria assim em qualquer lugar do mundo.

–> Está muito cedo para comprar

Se as passagens já aparecem no sistema apenas pelo preço top, significa que mais caras não ficarão… então não há por que comprar agora. Ainda não houve o sorteio das chaves, a definição da tabela nem sequer o sorteio dos ingressos requisitados no site da Fifa. Só os mais paranóicos comprarão passagens internas nessas condições, com essa antecedência.

Depois de divulgada a tabela e feito o primeiro sorteio dos ingressos, aí sim as cias. aéreas começarão a sentir a real demanda — e em muitos trechos e dias serão oferecidas passagens mais baratas que as top. (Se essas tarifas não aparecerem, é porque os preços estão certos…)

–> Surgirão alternativas

Anote aí: o preço alto e a inflexibilidade das tarifas aéreas farão surgir um transporte rodoviário alternativo a serviço dos torcedores. Alô carioca: se o aéreo estiver esses 2.400 pilas da matéria da Folha, você não toparia um ônibus ida e volta ao Itaquerão por quinhentinho? (Só o táxi de Cumbica ou Congonhas para o Itaquerão deve estar uns R$ 200 ida e volta.) Prevejo uma legião de turistas gringos aproveitando o intervalo entre os jogos da sua seleção para cruzar o Brasil de ônibus fretado…

A mesma coisa deve acontecer com a hospedagem. A oferta de apartamentos (e quartos) em sites como AirBnB, Alugue Temporada e Zap Temporada deve crescer bastante e quebrar o galho de quem não quiser pagar tarifa de Réveillon durante a Copa.

–> Muita coisa vai micar

Lembra do Réveillon do Milênio? O mico vai se repetir em muitos lugares. A dificuldade de acesso (distância + pouca disponibilidade de vôos) pode fazer os gringos (e brasileiros de outras cidades) desistirem de cidades-sede remotas; os ingressos podem acabar majoritariamente na mão dos moradores, frustrando cias. aéreas e hotéis. Jogos de pouca expressão (alô Burkina Faso x Costa Rica!) também devem micar entre visitantes, se o preço do deslocamento e da hospedagem for o mesmo de Espanha x Argentina. E mais: hotéis, resorts e pousadas fora de cidades-sede precisam se preparar para DIMINUIR preços, e não aumentar, se quiserem ter hóspedes durante a Copa.

–> Perder esse freje? Nem pensar!

Fico com pena de amigos queridos que querem fugir do Brasil durante a Copa. Menin@s, não façam isso! Vocês estão agindo como um(a) velh@ rabugent@ de cidadezinha do fim do mundo, que não quer estar no seu cafundó justo no dia em que o circo fiiiinaaaalmente vai passar!!!

Dando tudo certo (uma micareta de 30 dias, um mês repleto de meios-expedientes no trabalho, festerê total) ou dando tudo errado (um mês inteiro de estado de emergência anti-manifestantes), será inesquecível! Como você vai contar pros seus netos que perdeu essa?

Leia mais:

Adri Lima na Copa das Confederações

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112 comentários

Bacana, mas só esqueceu de citar a RBBV que foi onde surgiu essa discussão e está fazendo um trabalho brilhante com a hashtag #CopaAbusiva.

Como sempre o VNV copiando boas ideias para aparecer… #prontofalei

    Rodrigo Neves, isso foi tema de reportagem na Folha Online. Se houve alguma falha, foi a da Folha Online em não repercutir a fonte.

    O VnV sempre cita fontes de notícias que repercute aqui. Muito mais do que vários blogs que chupam conteúdo do VnV e copiam-e-colam.

    Ai, meu saquinho… vamos lá.

    Estou me manifestando:

    1) em resposta a um tuíte de @denisemustafa, de ontem às 10h48, endereçado a mim, e que foi bastante retuitado na minha TL, e à qual deixei para responder hoje, com tempo e cabeça fresca:

    https://twitter.com/denisemustafa/status/389749447254491136

    2) em razão de uma polêmica que tomou conta de todo o Twitter — não apenas de um nicho ou uma patota — durante o dia de ontem e que passou a ser alimentada também pelos órgãos oficiais

    3) porque escrevo sobre aspectos econômicos, logísticos e turísticos da Copa do Mundo há vários anos, aqui no blog e no Estadão (e falo do assunto também na BandNewsFM). Semana passada dei uma palestra na Fonte Nova, em Salvador, num evento da Rede Bahia, com o tema Como o Brasil pode ser campeão do turismo. Eu estudo o assunto. É um tema do meu repertório. Eu tenho praticamente obrigação de me manifestar sobre o assunto.

    Fui procurar agora a hashtag #copaabusiva e… caramba, desculpe, acho bastante infantil achar que um tuitaço de blogueiros de viagem vai mudar a política de preços de passagem no Brasil.

    As passagens vão baixar porque ninguém vai conseguir vender 30 dias de passagem aérea a tarifas de Réveillon, só isso. As tarifas descontadas devem aparecer rapidinho no sistema (as da Avianca já apareceram), por causa da bronca do governo e da reação da opinião pública como um todo, incendidada não por um tuitaço, mas pela repercussão da matéria da Folha. Perto das datas dos jogos importantes, porém, os assentos que sobrarem estarão sendo vendidos exatamente a esses preços.

    (Podemos também fazer um tuitaço contra o preço das diárias das pousadas no Réveillon, que tal? #reveillonabusivo; e contra o preço do abadá do Camaleão no carnaval de Salvador #bellmarquesabusivo)

    Se eu tivesse sido levado a escrever sobre o assunto por causa da sua hashtag, sem dúvida eu teria me referido a ela — até por discordar veementemente do conteúdo. Por que eu me juntaria a uma campanha da qual discordo? Não entendo o seu ponto. Você chegou a ler o meu texto?

    Este texto é uma pensata sobre uma manchete da Folha de S. Paulo que teve enorme impacto na opinião pública — inclusive na rede a que você se refere — e como ela distorce as chances de falar sobriamente sobre o tema (incluindo, agora estou vendo, a rede à qual você se refere). Não serei eu a botar mais sensacionalismo e histeria na fogueira.

    AHAHAHAHAHH
    não entendi a pessoa dizer que tu copiou a ideia se tu tá é discordando.
    ai meus sais!

    Faz tuitaço um também sobre os preços de voos e principalmente hotéis em MUNIQUE durante a OKTOBERFEST!!! 😛

    Olá, Helena! Rede Brasileira de Blogs de Viagem. O Viaje na Viagem é associado à ABBV — Associação Brasileira de Blogs de Viagem, entidade de classe com registro legal.

    https://www.abbv.net.br .

É preciso calma e “sangue frio” para comprar as passagens para a Copa. Ano passado comprei a passagem para o Reveillon do Rio (Ponte Aérea) uma semana antes e paguei os incríveis 250 reais pela TAM, a outra passagem saiu por 14.000 pontos no Fidelidade.

Este ano para o Rock in Rio, a mesma coisa : passagens a 2.500 reais. Esperei e consegui tirar duas passagens de Ponte Aérea pelo Superbonus Santander por incríveis 18.000 pontos.

O problema de querer fugir do Brasil durante a Copa é o preço absurdo também das tarifas internacionais da Tam. Moro em Maceió (não haverá jogos aqui) e geralmente compro passagens pela Tam ou Submarino. O preço da Tam Maceió-Milão, por exemplo, em junho e julho 2014 é R$9.000,00!!! Isto mesmo você não leu errado! Nove mil reias!!! Já comprei em promoção por R$1.800!!! Absurdo!!!
As outras companhias aéreas estão com o preço normal, mas estou com medo de esperar muito e elas lembrarem da Copa e subirem o preço também!

Concordo com suas ponderações sobre o texto do jornal e sobre os preços e recomendações a quem pretende ir aos jogos. Mas não me comovo nem um centímetro por futebol. Pode me chamar de velha rabugenta (só não sou de cidade pequena, sou de Campinas hehehe), mas não pretendo estar por perto. Primeiro que futebol pra mim não existe. Segundo, suportar meu vizinho animal de sela no andar de cima urrando e batendo as patas, no thanks. 3) Não tenho filhos, e portanto não terei netos, e mesmo que tivesse, tenho muitas outras histórias prá contar, não precisa ser justo essa. hahaha 🙂

Na verdade, há um problema ainda mais de fundo nessa história, que é a falta de incentivo à concorrência. Hoje estamos na mão de um duopólio (no máximo dá para colocar a Azul no meio) porque a legislação brasileira faz o que pode para emperrar a entrada de novos players. Quando não é a legislação, é a carga tributária. Fico imaginando se tivéssemos acordos de céus abertos com EUA e Europa, com direito a cabotagem, se esses preços não estariam bem mais camaradas.

    Marco Antônio nenhum país com forte mercado doméstico (por extensão territorial) permite operação de cias. estrangeiras em cabotagem: USA, Canada, Austrália, China, Rússia… todos possuem restrições.

    Os países que permitem estrangeiras em cabotagem ou estão no espaço aéreo comum da União Europeia (um caso à parte, no contexto do livre mercado de transportes entre vários países pequenos por lá, cada um com mercado doméstico reduzido exceto Itália), ou então são países com apenas uns 3/4 aeroportos nacionais de porte viável que permitem esse tipo de operação pq não tem indústira área local.

    A.L., de fato os mercados são fechados. Por isso acordos desse tipo precisam de reciprocidade. Eu acredito que quanto mais concorrência, melhor, e acho que não é apenas o Brasil que erra ao proibir a cabotagem, mas os outros países também.

    Agora, temos um “problema”, que são os preços loucos das passagens (na verdade, é a aplicação da lei da oferta e da demanda em um cenário distorcido como o nosso). Como resolver? Já tem gente falando em mandar o governo tabelar os preços das passagens. Isso é loucura. É consertar um problema causado por excesso de intervenção estatal com… mais intervenção estatal.

    Outra opção é a liberação extraordinária da cabotagem durante o período da Copa, nos casos em que a empresa já faz a viagem doméstica. Por exemplo, eu moro em Curitiba, e a American vai começar a fazer CWB-Miami daqui a uns dias. Mas tem escala em Porto Alegre. Só que eu não posso fazer CWB-POA pela American, só posso comprar CWB-MIA. Ora, por que não permitir que, durante a Copa, a American possa vender CWB-POA? Ou então imagine uma empresa que, em vez de fazer GRU-? e GIG-?, faz GIG-GRU-?; por que ela não poderia vender bilhetes GIG-GRU na Copa? Imagino que o transtorno operacional adicional é pequeno (um desembarque a mais). De resto, os slots já estão aí, os horários de pouso e decolagem já estão aí…

    E olha que essa seria a solução para aeroportos movimentados, como os do Sudeste, Sul e Nordeste. Para outras cidades da Copa, poderia haver voos adicionais operados por empresas estrangeiras com mais facilidade.

    Também acho que essa soberania do espaço aéreo só nos prejudica. O engraçado é que agora até setores do governo têm falado nisso, mas só da boca pra fora, porque não se move uma palha para mudar a legislação. É tudo politicagem: querem pôr toda a culpa da incompetência do turismo brasileiro nas costas das cias. aéreas e dos hotéis.

    Além de céus abertos, eu acho que toda rota que não passasse por hub (Congonhas, Cumbica, Brasília, Galeão, Santos Dumont, Viracopos e Confins) deveria ter vantagens fiscais.

    E toda rota que servisse a destinos cuja economia dependa principalmente do turismo (Foz, Bonito, Cabo Frio, Porto Seguro, Lençóis, Fernando de Noronha e todos os outros lugares turísticos cujos aeroportos permanecem fechados por falta de viajantes a negócio) deveriam ter estímulo fiscal ainda maior, não importa de onde partissem.

    Achei o texto excelênte, bastante sensato.
    O comentário do Marco Antônio também foi ótimo, principalmente sobre resolver intervenção estatal com mais intervenção, isso me deixa indignado.
    Sobre sair do país bem que eu gostaria, mas uma passagem para cusco, ida e volta em junho, está quase R$ 3 mil, um absurdo.

    Marco Antônio, no médio/longo prazo o mais viável e prático não é abrir cabotagem, mas sim permitir operação em território nacional de cias. aéreas controlads por capital estrangeiro. ISso já ocorre seja com TAM (através de um complicado arranjo acionário e de gestão com a LATAM) e também com a Azul (cujo capital é americano, mas tem o acionista principal com nacionalidade brasileira por ter nascido e vivido 3 anos como criança no Brasil com pais americanos).

    Esse pleito – liberar participação de cias. de capital estrangeiro – seria mais viável e realista.

    Gostei da discussão! É um assunto que o viajante leigo como eu não pensa como td funciona e nem tem informações. Podia virar um post heim Ricardo?! 😀

Riq, infelizmente eu me incluo na classe dos ‘velh@ rabugent@ de cidadezinha do fim do mundo’… Isso aqui vai virar uma zona… Tô fora…

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