A pedido do meu chapa Ilan Kow, do Guia do Estadão, fui conferir a nova zona boêmia-gastronômica dos altos da Avenida Angélica -- a uns doze quarteirões de onde moro. A matéria que saiu hoje no Guia é a versão "curta" do texto. Aí vai a versão "longa", que foi preterida por questões de espaço.
Nem só de consultórios médicos e laboratórios de análises clínicas é feita a parte alta da Avenida Angélica. Tradicional ponto de estabelecimentos dedicados a medir nossos triglicérides, a região nos últimos tempos também tem sido escolhida por lugares firmemente empenhados em elevar nossos níveis de colesterol.
A bem da verdade, o decano do pedaço está lá há mais tempo do que qualquer laboratório: é o fabuloso Sujinho, na rua Maceió – disparado, o melhor lugar da cidade para desobedecer o seu médico e se entregar a uma bisteca "ao ponto pra mal" com batatas portuguesas (quase chips, só que mais grossas). São três restaurantes praticamente no mesmo ponto, mas o ambiente da esquina original (o único que faz jus ao nome) é imbatível. Melhor que comer lá, só mesmo pedir para entregar em casa – assim você não precisa ficar com vergonha na hora de roer o osso.
A uma quadra dali, já na Angélica, encontra-se aquela que talvez seja a mais interessante casa de shows de São Paulo, o Tom Jazz.
Com mais conforto que o antigo Supremo Musical, e mais aconchego que o Bourbon Street, o Tom Jazz oferece acústica e visão perfeitas de qualquer ponto da sala. A repetir-se a situação da semana passada, ainda deve haver ingressos para o show de Fafá de Belém, que canta clássicos de Chico Buarque com acompanhamento estelar (Cristóvão Bastos ao piano, Roberto Sion ao sax...).
Um pouco adiante na mesma calçada, no número 2.435, num casarão centenário onde morou um jornalista da BBC, abriu esta semana o bar Salommão.
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Ali, as paredes de tijolos aparentes e as cadeiras propositalmente desparelhadas contrastam com telões LCD sintonizados em canais de esportes. A qualidade da cozinha é garantida pelo Daniel, que veio da Brasserie de Erick Jacquin. Peça a porção de carne-seca com chips de mandioquinha, de preferência acompanhada por uma encorpada cerveja Terezópolis Gold.
Na ruazinha paralela, a Minas Gerais, o Vira-Lata oferece a comida nouvelle caipira de Eduardo Duó num avarandado lindamente cenografado, como sempre, por Fuad Murad. A rua desemboca numa quadra da Avenida Paulista que pouca gente sabe que tem esse nome. A esquina registra a única baixa recente da região: o Zeibar's, que fechou depois de pelo menos uma década reunindo almas gêmeas (pelo menos por uma noite). Em compensação, seu vizinho Metrópolis está renovado e continua um dos singles' bars mais movimentados da cidade. Do outro lado da pracinha, a providencial Frutaria Paulista previne ressacas com água de coco e açaí 24 horas.
A Minas Gerais contorna a pracinha e continua em direção à Doutor Arnaldo. Numa viela sem placa (mas com púlpito de manobrista) esconde-se o Sal Gastronomia, que durante dois anos funcionou no pátio da Galeria Vermelho. A partir desta semana, no entanto, o restaurante ganhou um espaço protegido – dividido praticamente meio a meio entre o salão e a cozinha envidraçada, onde todos os cozinheiros são carecas.
O espaguete de quinoa com legumes consegue ser tão gostoso quanto as cadeiras de Pedro Useche. De sobremesa, peça o brigadeiro com castanha-do-pará e sorvete de paçoca.
Não estranhe se, na saída, você passar por uma convenção de proprietários de Harley-Davidsons. Um dos QGs dos harleymaníacos de São Paulo fica no meio da quadra, no Pegasus Moto Bar (atualmente, em reforma).
A muvuca deve aumentar no começo de abril, quando inaugurar, na esquina da Doutor Arnaldo, o megaboteco Espetaria Porto Paulista. Mais um motivo para você não encarar a hora do rush na Rebouças.
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