Os pais da Sylvia, que já têm oitenta anos mas continuam sacudidos (ou faceiros, como a gente diz lá no Rio Grande), querem descer de carro para o litoral paulista na segunda-feira passando a Páscoa.
A Sylvia pede dicas de hospedagem bacanas -- e dá como parâmetro o Pestana Angra. Ela ouviu falar da Villa Bebek e não quer que seus pais sofram com os mosquitos-borrachudos em Ilhabela.
Vamolá.
Sylvia, infelizmente o Litoral Norte de São Paulo não é assim nenhum Sul da Bahia em termos de hospedagem com estilo. As praias são lindas, os restaurantes não ficam nada a dever aos da capital, mas praticamente não existem hotéis ou pousadas na categoria é-um-destino-em-si, vale-a-viagem-e-nem-precisa-sair ou você-vai-gostar-mesmo-se-chover.
O hotel que mais se aproxima dessa categoria fica justamente em... Ilhabela. É a Maison Joly, que se estivesse na Costa Amalfitana continuaria um hotel elegantérrimo.
É para lá que o concierge do Fasano manda os gringos que querem ver praia em São Paulo. De segunda a quinta as tarifas são menos exorbitantes (o site só informa as tarifas de janeiro). Pergunta: teus pais se dão bem com Off? Mas o problema maior talvez sejam as escadas (que eu me lembre, o hotel não tem elevador).
Sem escadas, existe outra pousada bem elegante, a Canto da Praia, que está à beira d'água. O dono tem cachorros enormes e um piano de cauda na sala. Eu também vou bastante com a cara do Barulho d'Água, que para o meu gosto é a mais charmosa da ilha. Mas os chalés podem parecer rústicos demais pelo que cobram, e existe um córrego que passa dentro da propriedade -- o que potencializa a ação dos borrachudos. Da última vez que fui à ilha fiquei numa pousada simpaticíssima, com cara de pousada de serra, a Refúgio das Pedras; não fica na beira da praia, mas está próxima das melhores praias do sul da ilha.
Na costa sul de São Sebastião, Camburi e Camburizinho se firmaram há algum tempo como um pólo gastronômico, graças sobretudo ao sucesso do restaurante Manacá, do chef Edinho Engel, provavelmente o melhor restaurante praiano do Brasil. (O Edinho continua dono, mas desde o ano passado só pode ser encontrado no seu restaurante em Salvador, o Amado.) Pertinho do Manacá fica a Villa Bebek, o hotel mais comentado do litoral desde que inaugurou, há três verões.
Posso ser chato? Acho um bom hotel, mas não é essa Estrela d'Água toda, não. Fica um pouco longe da praia -- o que em Camburi é um problema, já que as ruas estão constantemente enlameadas, devido àquela mentalidade praia-do-rosa de que ruas enlameadas são ecologicamente corretas. (Uma pousada menos pretensiosa, de que eu gosto muito, é a Canto do Camburi.)
Eu não recomendaria Maresias para quem não surfa ou não quer azarar na areia e varar a noite dançando no Sirena. A praia é linda, mas a urbanização é caótica e não condiz com a fama do lugar. Ali fica um dos raros hoteizões pé-na-areia de São Sebastião, o Maresias Beach; a localização é boa, o gramado é lindo, mas o hotel não tem charme nenhum, coitado. Em Maresias eu gosto de uma pousada pequena, a Verano.
Para mim, o ponto mais bonito da costa de São Sebastião é a Barra do Saí. A praia é pequenininha e cercada de verde, sem construções devassadas para a areia. Para chegar à praia, é preciso caminhar por uma ruelinha (que também pode enlamear, mas é muito mais bonitinha do que qualquer caminho de Camburi). As pousadas são simpáticas, mas nenhuma é cinco estrelas.
A mais charmosinha é a Tiê Sahy, da foto aí de cima (onde eu não gosto do fato da piscina ser devassada para o restaurante). Já a Pousada da Foca tem um astral gostoso, e dá de fundos para a mata. Preciso revisitar a pousada mais antiga do pedaço, a Aldeia de Sahy, da qual eu não guardo boas impressões mas que, pelo que vejo no site, ganhou uma boa guaribada desde a vez em que eu me hospedei (praticamente na encarnação passada, devo confessar).
Das praias de São Sebastião, a que tem evoluído melhor nos últimos anos é Juqueí. Extensa e sem recorte, não é a mais bonita do litoral. Mas é a única dessas praias "públicas" (ou seja, que não são viraram loteamentos/condomínios) que cresce com organização e, sobretudo, calçamento. (Daqui a uns anos, vai ser uma praia bacaninha como qualquer uma das nossas lá no Rio Grande, só que com mar azul, morros recobertos de verde nos cantos e restaurantes padrão São Paulo.) Ainda não visitei o novo Beach Hotel, que tem uma localização excepcional, no canto da praia, e é dos mesmos donos do Beach de Maresias. Outra pousada relativamente recente e muito bem-estruturada é a Pousada Alcatrazes; recomendo (foto abaixo).
Em Ubatuba o departamento hospedagem-com-estilo é ainda mais complicado. À diferença do Hugo, eu acho o Recanto das Toninhas muito fraquinho -- grande demais e insosso demais para fazer parte dos Roteiros de Charme. Existem pousadas simpáticas, mas elas têm estrutura mais simples, como a Ana Doce, no Lázaro, e a Casa Milá, na Almada. Existe uma pousada em Picinguaba -- já quase na fronteira com o Estado do Rio -- que me parece muito charmosa, mas que ainda não visitei, a Santa Martha das Pedras.
Finalmente, em Paraty (que em termos práticos está mais no litoral norte paulista do que no litoral fluminense...), o que eu tenho visto é a incrível acomodação das pousadas do centro histórico, que não renovam seus equipamentos -- sobretudo colchões. Das pousadas de lá, a que mais me agrada é a pequena Urquijo (foto abaixo).
Mas da próxima vez que for, quero testar as novas camas da Pousada do Sandi. Fora do centro histórico, o hotel mais confortável é o Santa Clara, 10 km ao norte da cidade, que recentemente (e, cá pra nós, estranhamente) foi incorporado à rede Mercure.
Para ir de São Paulo à região de São Sebastião há três caminhos possíveis. Chegando por Congonhas, pega-se a nova Imigrantes, que vai dar na Rio-Santos. Chegando por Cumbica, o caminho mais curto é sair da Ayrton Senna em Mogi das Cruzes e pegar a Mogi-Bertioga (mas a sinalização do anel viário de Mogi não é lá muito boa). O caminho mais longo, e mais fácil, é sair da Ayrton Senna na Rodovia dos Tamoios, que vai dar em Caraguatatuba, 30 km ao norte do centro de São Sebastião.
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