A Sylvia mandou o link para essa crônica superdivertida da minha amiga de infância (quando a gente tem 20 anos a gente ainda é criança, concorda?) Martha Medeiros, que saiu ontem na Zero Hora.
Aposto que ela deve ter recebido um zilhão e meio de emails de leitores que não perceberam a ironia do texto. Vejam que delícia:
Só os tolos não mudam
Martha Medeiros (Zero Hora, 4/4/2007)
Já publiquei meia-dúzia de crônicas sobre o que eu considerava ser a melhor coisa do mundo: viajar. Reli algumas delas e suspirei diante da minha inocência. Acreditava que era um prazer supremo estar num local distante, absorvendo outra cultura, outros costumes, levando a vida sem horário, sem rotina e sem estresse. Tsk, tsk.
Hoje, olho para meu sacrossanto lar e me vem a certeza de que nenhum lugar do mundo pode ser melhor. Nenhuma cama de hotel é mais confortável que a minha, nenhum frigobar é tão bem abastecido quanto minha geladeira, nenhuma vista é mais inspiradora do que a que vejo da minha janela e não tem Torre Eiffel ou Taj Mahal que seja páreo para meu sofá em frente à tevê.
Nas vezes em que sou obrigada a sair de casa, deparo com Porto Alegre, e Porto Alegre, você sabe, é demais. Para que se meter numa cidadezinha intramuros na Itália, qual a graça de zanzar por Tóquio sem entender o que está escrito nos luminosos, que prazer há em atravessar uma rua em Londres e correr o risco de ser atropelada? Eu devia estar louca quando acreditei que viajar era excitante.
Há quem precise mudar de ares de vez em quando. Já tive este surto também: mudar de ares. Uma bobagem tremenda, mas, se for recomendação médica, então suba para alguma cidade da Serra - de carro. Pegue uma praia em Santa Catarina, ainda há caminhoneiros que dão carona. Tem mesmo que ser em outro país? É preciso gostar muito de viajar para expor assim seu elitismo. Ok, o Uruguai é logo ali, tem ônibus que sai toda noite.
Ir mais longe do que isso é falta de juízo. Ninguém em sã consciência pode achar divertido ficar trancado numa pousada enquanto chove a cântaros, perder horas em museus e igrejas, pagar uma fortuna por uma Coca-Cola, passar por ignorante tentando falar em outro idioma, pegar um táxi sem conhecer o trajeto, ter que comprar uma lembrancinha para os que ficam e ainda dormir longe do próprio travesseiro.
Por isso é que eu digo: viajar não é legal. Não há nada tão espetacular lá fora. O mar do Taiti não é tão azul quanto nas fotos, a cordilheira dos Andes é um morrinho à-toa e em Nova York não tem nada para se fazer. Bom é ficar na casa da gente, sem mala pra arrumar, sem ter que posar para fotos, sem visitar monumentos. Por favor, não me contrarie. Você não imagina o esforço que estou fazendo pra me acostumar aos novos tempos.
Obrigado, Sylvia! Beijão, Martha!
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