Os sites especializados, como o Mercado & Eventos (obrigado, Rodrigo!) e o Panrotas, deram na sexta; a Folha noticiou neste sábado: a Accor vai devolver à Costa do Sauípe as instalações de seus dois Sofitel no dia primeiro de agosto.
Ainda na sexta, falando ao Mercado & Eventos, o secretário de turismo da Bahia se apressou em dizer que os hotéis não serão fechados, e que haveria até um interesse do Breezes -- o único empreendimento bem-sucedido em Sauípe -- em administrar todos os cinco resorts do complexo. Na mesma matéria, o site anuncia como iminente também a saída do Marriott, que opera dois hotéis por lá desde a inauguração. (Não há nenhuma menção ao grupo português Pestana, que também atua em Sauípe no controle das seis pousadas em torno da Vila Nova da Praia.)
No começo da noite de sexta o Panrotas especulou uma hipótese (repetida hoje pela Folha) que foi exatamente a que me veio à mente ao saber da notícia: quem deve vir ocupar o lugar dos Sofitel é o grupo espanhol Riu Hoteles, concorrente do também espanhol Iberostar em todo lugar onde haja sol e turismo de massa.
A saída do Sofitel faz todo sentido. A marca é a única bandeira da Accor que enfrenta problemas no Brasil. Enquanto Ibis, Formule 1 e até Mercure têm conceitos bem entendidos pelo mercado, o Sofitel projeta uma imagem bem menos luxuosa do que a companhia gostaria. E, convenhamos, ter dois resorts semi-micados em Sauípe não ajuda a marca em nada.
O Sofitel Suítes (foto acima), apesar de charmoso e elegante, nunca conseguiu se posicionar no mesmo nível dos resorts mais caros (em todos os sentidos) à classe A, como o Praia do Forte Eco Resort, o Transamérica de Comandatuba e os Club Meds. (Pior: acabou vendo o vizinho Breezes entrar para esse time, debaixo do seu nariz.)
O outro hotel do grupo no complexo, o imenso Sofitel Conventions (foto acima) foi pensado para ser um convençãozódromo sofisticado, mas acabou atraindo tão poucas convenções que precisou ser rebatizado como Sofitel Costa do Sauípe. Se havia ainda dúvidas acerca do erro de ter entrado em Sauípe, elas acabaram de se dissipar logo depois da inauguração do Sofitel Jequitimar, no Guarujá -- que deslanchou instantaneamente, praticando diárias de luxo e atraindo convenções e eventos a não mais poder...
À diferença do que se diz por aí, porém, eu não acho que o problema de Sauípe esteja no empreendimento (estrutura, layout, localização ou administração atual). O problema está no mix inicial de hotéis, escolhido por quem decididamente não era do ramo (a Previ e o grupo Odebrecht). Sabe aqueles shoppings que abrem com as lojas erradas, mas onde tem uma âncora (ou um supermercado) que dá certo? Sauípe é assim. O projeto é bom. O Breezes é um grande sucesso. Mas o Sofitel e o Marriott não tinham nada que estar ali.
(Tanto o Marriott quanto o Renaissance -- que é do mesmo grupo -- teoricamente seriam ótimos para atrair americanos a Sauípe. Só que não basta construir um hotel americano para fazer americanos pegarem praia no Brasil. Tem as questões do visto complicado, da falta de vôos diretos -- o gringo em questão precisa ter muita, muita vontade de ir para uma praia desconhecida na Bahia para não acabar se decidindo por uma temporada no México ou no Caribe, onde não se exigem vistos e nenhum resort está a mais que duas horas e meia de Miami ou Dallas.)
A se confirmar a vinda do Riu para o lugar dos Sofitel, ganha Sauípe e ganha a Bahia. Porque o Riu, a exemplo do Iberostar, não vai se contentar em disputar o minguado mercado doméstico, que está encolhendo (com o dólar barato, o antigo habituê de resort prefere viajar ao exterior ou então embarcar num cruzeiro). Pelo contrário, o forte dessas redes é buscar o turista europeu -- oferecendo uma alternativa nova no seu portfólio ao sujeito que já se bronzeou na Costa do Sol, em Maiorca, nas Canárias, em Chipre, na República Dominicana, no México e em Cuba.
Os resorts da Bahia e do Nordeste que continuarem buscando hóspedes majoritariamente no Brasil (e que não tenham o cachê do Praia do Forte Eco Resort, do Transamérica ou dos Club Meds) vão continuar sofrendo. Até porque, se não bastasse o dólar baixo a afugentar clientes, um dos mais importantes canais de distribuição (senão o mais importante), a CVC, tem dado toda a ênfase possível à venda dos seus cruzeiros. (É como se o Carrefour resolvesse promover mais os seus produtos de marca própria do que os que compra da indústria.)
Com Breezes, Iberostar, Vila Galé Marés e agora dois Riu, o litoral norte da Bahia vai ser um território quase exclusivo dos resorts all-inclusive -- que oferecem comida e bebida dia e noite (o Iberostar chega a ter buffets 24 horas) sem nenhum extra para acertar ao fim da temporada.
Eu não dou três verões para todos os resorts de praia do Brasil (está bem: do Nordeste) aderirem ao sistema. Ou, pelo menos, oferecerem essa alternativa. Pulseirinha verde? Assine essa comanda, por favor. Pulseirinha roxa? Pode se servir no buffet de petiscos da piscina, senhor.
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