Mais um texto da filial do blog no ViajeAqui que eu trouxe para cá por falta de permalink.
Está fazendo dois meses que eu escrevi um post explicando por que não votaria no Cristo Redentor nessa eleição das 7 novas maravilhas do mundo. (Para ler, é só rolar a página – é o sexto post, com data de 10 de abril.) Apesar de continuar decidido a não votar, devo dizer que diminuiu bastante a minha rabugice com relação a esse Big Brother dos monumentos.
Dois fatos novos me levaram a reconsiderar a minha posição. (Ha ha. Como se alguém tivesse prestando atenção. Mas, enfim...)
Um: a designação das Pirâmides de Gizé – a única maravilha do mundo antigo ainda de pé – como hors-concours, com vaga garantida entre as sete vencedoras, conferindo um mínimo de moralidade à eleição.
O outro: a entrada com força da iniciativa privada na campanha. Sou radicalmente contrário a qualquer centavo do meu imposto gasto pelo governo nessa brincadeira; mas se bancos, veículos de comunicação e operadoras de celular compraram essa briga, parabéns, acho ótimo. É marketing da melhor qualidade.
Mesmo (quase) entrando nesse clima de Copa do Mundo via SMS, porém, continuo achando graça das projeções econômicas que andam fazendo. Dependendo da fonte, já li que, caso o Rio emplaque o Cristo entre as sete maravilhas, vão ser gerados entre 80 mil e 250 mil empregos. Ha ha ha. É como se a eleição do Cristo fosse criar uma Olimpíada permanente no Rio.
(Vem cá: por que toda campanha eleitoral – até mesmo quando não envolve cargos políticos – tem que trazer promessas hiperbólicas de emprego?)
Se o Cristo conseguir se eleger (e acho que, com essa reação de última hora, ele se elege), o Rio e a Embratur vão ter algo novo para divulgar em suas campanhas. Não é pouca coisa: faz tempo que não temos nenhum fato turístico novo para divulgar. Mas, por favor, não esperem essa avalanche toda de gente no aeroporto no dia seguinte ao anúncio do resultado da eleição.
Veja por você mesmo. Vamos considerar dois finalistas que devem ser eleitos. A Acrópole, em Atenas, e as pirâmides de Chichén-Itzá, no México.
A Acrópole vai lhe parecer mais importante do que era antes da eleição? Se você me permite, posso responder: certamente não. A Acrópole é muito maior do que esse concurso.
E Chichén Itzá? Você por acaso vai perder o sono se não correr para lá nas próximas férias? Du-vi-do. Agora: as operadoras vão ter uma cereja a mais para oferecer em seus pacotes a Cancún. Passeio a Chichén Itzá! Uma das sete maravilhas do mundo moderno! Talvez, por causa disso, você vá pegar praia no México, e não, tipo assim, em Aruba.
Mesmo se não vierem tantos gringos quanto os otimistas esperam, é certo que a visitação ao monumento crescerá imensamente, por conta do turismo local e doméstico. (Já está crescendo. Outro dia li uma carta de leitor n'O Globo reclamando de flanelinhas que resolveram cobrar 20 reais para estacionar nas redondezas.) Espero que o dinheiro que eventualmente apareça da tal fundação suíça seja usado para fazer o que a prefeitura, o Estado e a União não dão conta: organizar o acesso de uma vez por todas (instituir a venda de passagens de trenzinho com hora marcada pela internet; policiar o acesso rodoviário; construir um estacionamento junto à estação do trem).
Enfim, já consigo ver alguma utilidade nessa eleição.
Mas, voltando ao meu papel de chato, gostaria de lembrar que o fato mais importante para o turismo brasileiro não está em votação pelo celular – mas em Brasília, no Congresso Nacional. Me refiro ao projeto que derruba (ou, em seu substitutivo mais conservador, facilita) a exigência de visto para turistas americanos e canadenses – e que finalmente deixaria o Brasil em igualdade de condições com México, Caribe, Peru e Argentina na disputa dos turistas mais cobiçados do continente.
Isso sim ia ser uma maravilha.
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