Minha querida cunhada Aline era a checadora de tarifas do Freire's. Entre 2001 e 2004 (quando fiz a última atualização do site, antes de começar a dedicar todo meu tempo internético ao blog), uma vez por ano ela conferia as diárias de todos os hotéis e pousadas listados no site (nunca contei, mas devem ser pelo menos uns 200).
Não era uma tarefa fácil.
Primeiro porque -- como qualquer um de vocês que já tenha tentado fazer uma reserva numa pousada não muito estrelada deve saber -- é enorme a chance de você ser atendido por alguém que não sabe, ou não pode, dar as informações que você quer.
- A moça que faz isso tá pra cidade, dava pra senhora ligar mais tarde?
Depois, porque a técnica de coleta de informação do Freire's requeria que ela se passasse por turista, evitando ser reconhecida como pesquisadora. Por dois motivos. Um, prosaico -- quem acreditaria na existência de um guia chamado Freire's? O segundo era de natureza prática: ao informarem tarifas oficiais, hotéis (invariavelmente) e pousadas (com menos freqüência) tendem a divulgar as tarifas-balcão, bem mais caras do que as praticadas na vida real. (Na minha opinião, publicar as tarifas oficiais dos hotéis é o único defeito objetivo do Guia 4 Rodas.)
Claro que eu me precavinha, com um disclaimer (pára-queixas? desqueixumador?) explicando que os preços tinham sido coletados informalmente e estavam sujeitos a alterações. Informalmente, no caso, significava pela Aline.
As pesquisas eram feitas sempre em outubro e novembro, quando seria mais fácil pegar as tarifas de baixa e de alta temporada. "Vocês já têm preço pra janeiro?", era a segunda pergunta do script. Às vezes não tinham. "Ahn. E você lembra quanto vocês cobraram no verão passado?". Não era mole, não.
Às vezes eu digitava errado o número do telefone -- mas ela, antes de me perguntar se o telefone estava certo, ligava para a Telemar ou outras pousadas da cidade, e na maioria das vezes me corrigia o número sem que eu precisasse voltar aos meus alfarrábios.
E quando a pousada não atendia? Ela não sossegava até achar alguém que informasse se a pousada ainda existia ou não.
De vez em quando ela me contava ter sido reconhecida pela pessoa que tinha atendido sua ligação no ano anterior.
- Ô, dona Aline! Como vai?
Uns dois meses atrás, já fraquinha, a Aline soube que talvez eu atualizasse o Freire's de novo este ano -- e ficou preocupada que eu não pudesse contar com ela para a checagem das diárias. Mas não fugiu à luta. "Devagarzinho eu dou conta", ela disse ao Nick, que só me contou esse episódio agora.
Bonitinha.
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