Às quinze para as duas da manhã, a rua Ana Néri está erma. O restaurante Don Carlini, instalado num lindo casarão antigo, acaba de apagar as últimas luzes. Nas casas vizinhas, quase todas comerciais, as portas de ferro estão abaixadas e os letreiros, apagados. Do nada, porém, aparece um carro, e estaciona na calçada oposta ao restaurante. E outro. E mais outros dois, que preferem estacionar na rua da esquina.
Às 5 para as duas já há uma pequena aglomeração na porta do número 282. É quando chegam três homens, num carro que não percebi qual era, e abrem a porta. Vai começar mais uma função dos Churros da Mooca, a confeitaria mais original de São Paulo.
Os Churros da Mooca só abrem duas vezes por semana: às duas da madrugada do sábado e às duas da madrugada do domingo. As filas começam antes de abrir e vão até a hora de fechar, às 11h30 da manhã.
As filas se devem não apenas ao sucesso dos churros, mas também ao modo artesanal com que são feitos. Você chega, faz o seu pedido (uma "roda" grande, média ou pequena) e ganha uma senha. Então o seu Toninho (que eu pensei ter fotografado, mas na verdade gravei um videozinho de 3 segundos que não serve para nada), que opera a fritadeira há 50 anos, vai fazer, uma por uma, as rodas encomendadas. Entre o pedido e a entrega, conte em esperar uns bons 40 minutos.
Vale a espera? Vale. O folclore conta, claro, mas os churros são muito bons. Quer dizer: não tem nada a ver com os churros de carrinho. A massa é diferente e não leva recheio. Também não é como os churros espanhóis fininhos (que acho que chamam de porras). Na verdade é um belo bolinho de chuva modelado como espiral.
Com um copo de chocolate gelado, fica uma djilícia.
P.S.: olha uma foto do (fofíssimo) seu Toninho aqui.
Correção: na verdade porras são churros gordos típicos de Madri. Os fininhos são churros mesmo. Mas nenhum dos dois é servido em formato de roda.
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