Doktor Alessandro deixou Munique para uma breve temporada de estudos em Kyoto, no Japão. Não é porque ele não tem blog que ele ia escapar de mandar um relato de viagem Aí vai o primeiro do que -- eu espero -- seja uma série. Só a foto é que é minha, porque -- só soube agora e ainda estou em choque -- Dr. Alê aboliu a fotografia da sua vida há oito anos. Mas Alessandro! Agora já dá pra tirar foto com o celular!!!
Sabe aquele Japão, com templos e jardins, que você sempre teve na cabeça ? Pois ele existe! E fica em Kyoto! Kyoto é esse Japão, mas muito mais do que isso.
Enquanto tentava esticar minhas pernas no econômico espaço da assim chamada classe do vôo em que estava e tentava convencer meu corpo que já era à tarde e não de madrugada, preparava-me para pousar no aeroporto de Kansai, perto de Osaka, com todos os medos de um viajante para a) um país desconhecido b) com uma língua para mim ininteligível.
Kansai é o retrato do Japão moderno: eficiência total, poucas filas, limpeza impecável. Até minha mala veio em uma velocidade até então desconhecida para mim, em qualquer aeroporto que eu já tenha passado. Graças ao atendimento de todas as minhas preces, quem iria me receber estava lá, me esperando e falando uma língua ocidental… E com uma simpatia, que eu constataria mais tarde, que não é rara nesse país.
Depois de trocar euros caros por yens baratos, tomamos o trem para Kyoto, praticamente duas horas de viagem. A partir daí comecei a praticar a única forma de comunicar com os japoneses não-falantes de inglês (ou “ingurishi” para os nossos ouvidos…): sorrir, agradecer (não importa em que língua) e se curvar. Depois de ser bombardeado por informações pelo meu acompanhante (que tinha preparado um verdadeiro “dossiê Kyoto” para a minha estadia), chegamos a estação de Kyoto (que já foi descrita em outra oportunidade…)
Apesar do meu corpo dizer que queria dormir, meu guia disse que era hora de jantar. E assim fomos, a um pequeno restaurante no subsolo da estação (que mais parece uma praça de alimentação de um shopping). Nem um pouco confiante, entrei num restaurante – como muitos outros – que tinha todo o cardápio em modelos de plástico, na porta do restaurante. E qual não foi a surpresa, de comer um dos melhores jantares japoneses que já tive. Um sashimi fresquíssimo de atum, um outro peixe cru (totalmente indefinido) com molho de ameixas frescas, tempura crocante e quentinho, um arroz fantástico e, a melhor surpresa da noite, “soba”, um macarrão de trigo sarraceno, frio, com alga nori picadinha por cima, para ser comido com shoyo, cebolinha e wasabi. Perfeito para o verão japonês.
Verão esse, na verdade, amazônico. Kyoto parece uma sauna, com temperaturas acima de 30 graus o tempo todo e muito umidade relativa do ar. De sobremesa ainda tivemos uma espécie de gelatina de algas, transparente, com um pó doce de feijão. Delicioso. A descrição não condiz com a maravilha do sabor.
Os primeiros contatos com essa cidade e essa cultura já revelaram o que se tornaria claro mais tarde: o quão especial é poder vivenciar essa fascinante sociedade, ao mesmo tempo tão familiar, dos inúmeros sushis e sashimis comidos, e tão desconhecida.
(Alessandro Hirata)
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