A parte mais chata do planejamento de uma viagem à Europa é, sem dúvida, descobrir o jeito mais barato e/ou mais cômodo e/ou mais eficiente de fazer os deslocamentos.
É uma fase frustrante, porque não temos acesso a todas as informações. Conseguir preços de passagens de trem (para descobrir se vale a pena comprar avulso ou um passe) é um inferno. Calcular passagens aéreas cheias de escalas, com as ferramentas que são postas à disposição do consumidor, é impossível.
Por outro lado, as informações sobre companhias low-cost estão magicamente organizadas por sites como o Skyscanner, campeão de recomendações aqui no blog. Os preços já vêm organizados em gráficos de barras, e já trazem todas as taxas (menos as de bagagem).
As low-cost são muito bacanas, mas não custa lembrar que não foram feitas exatamente para nós, que vamos fazer viagens pinga-pinga cheios de bagagem. O mercado a que elas servem prioritariamente é o das pessoas que moram na Europa e fazem viagens ponto-a-ponto e pá-pum. A alternativa costuma ser passagens caríssimas de companhias aéreas convencionais.
A nossa situação é um pouco diferente. A gente não voa à Europa de low-cost. Não há outro jeito de sair daqui senão numa companhia aérea convencional. E a tarifa que pagamos não é a mais barata possível, não (quem compra a passagem no sentido contrário costuma pagar menos). Essa passagem intercontinental pode ser desdobrada e subsidiar outros trechos. Basta que façamos isso com antecedência e com a ajuda de um profissional.
No fim de agosto eu pedi ao Bruno Vilaça da Superviagem (como poderia ter pedido à Liciana ou a outros ótimos agentes que freqüentam o pedaço -- por definição, agente de viagem que freqüenta o VnV é ótimo, concorda?) uma simulação de diferentes itinerários em companhias aéreas convencionais. A base de todos era o trecho Brasil-Londres-Brasil. Mas o roteiro mais ambicioso dava uma geral na Europa, passando por Lisboa, Barcelona, Roma, Veneza, Paris e Berlim.
O Bruno pesquisou as tarifas publicadas disponíveis no fim de agosto, para embarques em novembro. Não estão incluídas as taxas de embarque (30 dólares, em média, no continente). Atenção: não significa que você encontre essas tarifas hoje. As modalidades de tarifa mudam constantemente, e o bom de ter assistência profissional é justamente ter alguém para monitorar esses movimentos e até recomendar mudanças de itinerário para aproveitar barbadas.
A passagem simples mais barata São Paulo-Londres-São Paulo que o Bruno achou, há 45 dias, foi na TAP, via Lisboa, por 869 dólares (contra 968 e 969 dólares na TAM e na British, direto).
• Lição número 1: nem sempre o caminho mais curto é o mais barato. Não dá para considerar apenas as companhias que fazem a rota direta. Qualquer companhia que vá à Europa pode levar você a qualquer lugar, sozinha ou associada a outras.
Pedi então a ida por Lisboa e volta por Londres. O Bruno achou por 944 dólares na TAP e 969 na British. Ou seja: por um nadinha (64 dólares) a mais, dá para chegar por um canto da Europa e voltar por outro.
• Lição número 2: daria para conseguir um vôo low-cost por menos de 64 dólares para pegar o vôo de volta em Londres. Mas talvez você tivesse problemas com bagagem, ou precisasse mudar de aeroporto em Londres. E não estaria protegido no caso de atraso.
Pedi um terceiro orçamento, cobrindo Lisboa, Barcelona, Paris, Berlim e Londres. Lisboa estava encarecendo demais o roteiro, então o Bruno sugeriu São Paulo-Paris-Barcelona-Berlim-Londres, que ele encontrou por 1.118 dólares. Excelente! Três vôos em cias. convencionais por menos de 100 dólares cada. Se Lisboa encarece demais, então faça-se de low-cost, a partir de Barcelona...
• Lição número 3: pagar até 100 dólares (70 euros) por vôo em companhia aérea convencional é um bom negócio. Quando um europeu escolhe uma low-cost, ele está muitas vezes trocando uma passagem de 400 euros numa cia. tradicional por outra de 40 euros na low-cost. Mas quando a conta é 70 x 40, não é que você esteja rasgando dinheiro ao preferir a mais cara.
O quarto orçamento que eu pedi englobava a Itália, com um vôo de Barcelona a Roma e outro de Veneza a Paris (o trecho entre Roma e Veneza seria feito de trem, prevendo uma parada de alguns dias em Florença). De novo, o itinerário com Lisboa veio proibitivo -- 2.335 dólares. Mas daí ele orçou sem Lisboa, fazendo São Paulo-Paris-Barcelona-Roma//Veneza-Berlim-Londres-São Paulo, e achou 1.310 dólares. 440 dólares mais caro do que a passagem simples São Paulo-Londres-São Paulo. Dá para fazer esses 4 vôos (Paris-Barcelona, Barcelona-Roma, Veneza-Berlim, Berlim-Londres) por menos de 440 dólares? Dá. Reservando com antecedência nas low-costs, você voa pela metade do preço. Mas, na minha opinião, se não fizerem muita falta, são 200 dólares bem investidos.
• Lição número 4: monte seu roteiro com antecedência, fale com um agente e orce todas as possibilidades. Existem muitas alternativas que não aparecem para o consumidor final e que devem ser consideradas.
Obrigado pelo trampo, Brunim!
29 comentários