Hype-se quem puder

Deptford, sudeste londrino, no NY Times
Deptford, sudeste londrino, no NY Times

Outro dia eu entreouvi uma troca interessante de tuítes entre a Paula Bicudo e a Marcie.

A Paula comentou com alguém que o Time Out era o seu guia favorito. Foi quando a Marcie entrou para dizer que não gostava do Time Out, não.

O mais curioso é que eu consigo não apenas entender, como concordar com as duas.

Eu acho o Time Out o melhor guia para cidades grandes que existe. Porque nenhum outro tem tanto senso de, sei lá, urbanidade. As cidades são apresentadas muito além das atrações turísticas. Os textos têm opinião e personalidade.

Mas de vez em quando o Time Out me bota em belas roubadas — e daí eu entendo a Marcie. Na ânsia de te levar a lugares ainda não tomados dos turistas, eles acabam te levando a lugares que não têm por quê serem tomados por turistas :mrgreen:

Claro que isso não acontece apenas com o Time Out, mas com qualquer guia que queira te levar ao cume do ápice dos píncaros do cool.

Semana retrasada aconteceu, vejam vocês, com o New York Times. O caderno de viagem publicou uma ótima matéria de um cara que eu sigo e admiro, o Benji Lanyado (que trabalha no Guardian britânico). A matéria era sobre Deptford, um bairro de imigrantes no sudeste londrino que desponta como a nova fronteira descolada, depois que Shoreditch e Hoxton, em East London, foram cooptados pelo mainstream.

O problema é o que o tal pedaço muvucado de East London (Shoreditch/Hoxton), que já teria sido cooptado pela caretice, ainda continua bastante alternativo para os padrões do visitante de Londres, acostumado com Kensington e West End.

O artigo faz todos os disclaimers necessários, não esconde que Deptford é pobre e cheira a perigo, mas ainda assim a imprensa inglesa caiu matando. O Telegraph, jornal sério, mandou um repórter ao lugar para mostrar a matéria e registrar a reação, estupefata, dos moradores. O Mail, tablóide, exagerou a não mais poder, e disse que um bairro  assolado pelo crime agora estava no roteiro obrigatório dos turistas americanos.

Deptford, sudeste londrino, no Telegraph
Deptford, sudeste londrino, no Telegraph

Do imbroglio todo, fico com a conclusão a que eu já tinha chegado há um tempinho:

Não adianta. Nós, os uncools, chegamos sempre ou muito cedo ou tarde demais aos lugares incensados pelos hips. É bom sempre estar um passinho à frente da multidão. Mais do que isso, é por conta e risco…

18 comentários

“É por isso que turista não pode e não vai ser cool. Melhor deixar pra ser cool em casa e curtir as áreas bacanas que fizeram o lugar famoso”[2}

Luciana, adorei a colocação; também não consigo ser cool “all the time” viajanto, tô sempre vestida do jeito confortável que me visto aos finais de semana e nem sempre posso/quero gastar uma infinidade de $$$ para comer no restaurante ultra-mega-hypado, mas confesso que gosto de uma descobertazinha.

O Time Out já me levou em lugares bastante divertidos, como por exemplo o bairro de Lavapiés em Madrid, que pouco escuto falar por aí, mas onde me diverti a beça e comi o melhor bacalhau da minha vida, num bar-restaurantezinho divertidíssimo (depois posto o nome aqui, tá anotado lá em casa).

Enfim, sou uma fanática-assumida-antiecológica-doida por guias em papel, e entre eles, por gostar de cidades (calçada, asfalto, etc), gosto muito do Time Out, e comprei até mesmo os criticados por mim mesma Wallpaper; o de BsAs é bem legal, tinha ido a vários lugares indicados no guia, principalmente nos passeios e o meu hotel era indicado lá (o Design Suítes, que não é nenhuma novidade.

Riq, adorei ser citada no post! Bjos e bom congresso pra ti. Te vejo no twitter.

Marcie, vou te convencer a gostar do Time Out, você não é fresca, apenas seletiva! Bjos

Lendo com cuidado o que a Flávia e a Luciana escreveram, acho que no fim das contas, eu tenho um ladinho “cool”, sim… Afinal, espero o ônibus todo dia de cara pro Pão de Açúcar e pro Corcovado, e não tô nem aí, é só a velha rotina… 😆

    ah, não, Paula, era pra ter invejinha se eu estivesse indo caminhar na praia, não esperar o ônibus, né? 😉

    Carla, e eu que pego a marginal todos os dias? Quer comparar?

    Paulinha, vamos ter que arrumar um jeito pra você ser “cool” também… 😆 Mas, a sério, sabe que a gente acostuma? De vez em quando tenho que me forçar a prestar atenção na beleza da paisagem!

A Flavia escreveu:

“Cool não é conhecer os lugares que pessoas cools frequentam; é frequentar aqueles lugares como se eles fossem a extensão da sua casa, de uma forma natural; não é ser blasé porque vc tá dando carão; é ser blasé porque vc faz aquilo todo santo dia, ou toda santa semana, aquilo é o seu estilo de vida. Se não for assim, vc é wannabe”

É por isso que turista não pode e não vai ser cool. Melhor deixar pra ser cool em casa e curtir as áreas bacanas que fizeram o lugar famoso – a maioria delas são lugares onde todo turista vai mesmo. Isso não significa ignorar lugares menores interessantes, tem turistas e turistas – gente que só vai em lugar que tem o conforto da sua terra natal e gente que encara uma aventurazinha pra ver uma coisa típica.

Mas se preocupar de ir onde o pessoal cool vai me parece um esforço desnecessário, afinal, você não vai fazer parte desse grupo mesmo porque não mora ali e não tem continuidade. E culturalmente falando, os motivos que levam esse grupo a considerar um lugar cool podem ser muito diferentes dos seus. Eles estão indo lá porque estão cansados de um determinado padrão que não é o seu, então não tem porque você estar cansado de um padrão que nunca viu.

    Meninas, altíssimo nível essa pensata complementar de vocês! Adorei!

concordo muito com a flávia. também nem sei explicar muito o motivo, mas me amarro em ir atrás dos lugares que ainda não são “novidade” para a maioria.
e com londres então, tenho um lance diferente… até porque é a cidade que eu mais amo no mundo. e tenho um tesão bárbaro por ir atrás desses lugares onde só encontramos londrinos mesmo. olho pra eles nos mapas e digo “é aqui mesmo!”. quanto mais longe e exótico, melhor.
exemplo de lugar longe e habitado somente por locals: hampstead, richmond, swiss cottage… e de lugares estranhos que me dão uma saudade louca: bethnal green, leyton, newcross gate… piro caminhando por ali e me sentindo um deles 😎

Hummm…Confesso que tenho esse deslumbramento de querer chegar antes dos outros (é ridículo, mas eu sou assim), e não sou muito da linha mainstream, a não ser em casos específicos (não desdenho de lugares tradicionais – eu não gosto é da “Vila Olímpia” das cidades).

Mas mesmo sendo desse jeito, concordo com vc Ricardo: fui a Shoreditch ano passado, e mesmo eu, que sou chatíssima nessas coisas, não consideraria o lugar tomado pelo mainstream; fui a um bar lindo, bem decorado, bebida e comida ótimas (tirei ele do Rough Guide ou Lonely Planet não lembro mais), e tinha gente bonita – mas lá já dava pra ver, pelo preço e pelas pessoas, que ali já era o bar “depois que saiu na Vejinha” – mas super hiper agradável. Ao lado no entanto, tinha alguns bares e restaurantes fazendo a linha mais descolada. Adorei o bairro, e gostaria de ter tido tempo em Londres para conhecer mais (minha irmã, que mora lá, achou meio estranho tudo; tinha ido uma ou duas vezes praquelas bandas, mas ela quis me levar na mesma noite pra Candem Town, que ela adora -eu acho um pouco molecada demais, mas confesso que tive uma noite divertidíssima e ela me levou a lugares que seguramente eu não iria – detalhes apenas nas ConVNVenções, 😆 ).

Mas eu sou daquelas que iria sem pestanejar para esse bairro que é a modinha dos moderninhos de Londres. Por quê? Porque, apesar de concordar com a Sylvia quando ela fala que o novo é o antigo com nova embalagem, é disso que eu gosto. Eu não diria que é o antigo com nova embalagem, mas sim, é como os lugares eram antes de ser conhecidos:menos cheios, normalmente com mais locais “que contam”, e, se vc chegar antes da onda que encarece tudo, mais “misturado” – vai ser menos pasteurizado. E eu acho que um dos males da globalização foi justamente esse: acima de um determinado patamar, rigorosamente todas as cidades do mundo vão ter restaurantes que poderiam estar em qualquer uma das grandes cidades (exemplos? O Spot poderia estar em algum lugar de Nova York ou Chicago perfeitamente; o Kong de Paris em Nova York, ou LOndres, e por sí vai) – e eu sou fissurada por conhecer não as cidades em si, mas o que faz daquelas cidades as cidades especiais que elas são; e para isso, na minha concepção, eu tenho que ir atrás das pessoas que fazem diferença, longe do povo com instinto de rebanho (sim, podem me xingar). Às vezes não é bonito, como a Sylvia falou; mas tem flavour. Num domingo em Paris passeando pelo canal de Saint Martin, resolvi ir até Bellevue que fica do lado e foi uma experiência interessantíssima, adorei. Mas é que isso tem a ver com o meu conceito de viajar, e o meu conceito de conhecer cidades, que não necessariamente é o de todo mundo.
E por fim: O Ricardo sempre fala que, não importa o que façamos, sempre seremos turistas longe de nossa cidade Natal. E eu acho que não dá pra ser cool fora da nossa cidade natal, por que enquanto turistas, temos aquele deslumbramentozinho que é antagônico ao cool. Cool não é conhecer os lugares que pessoas cools frequentam; é frequentar aqueles lugares como se eles fossem a extensão da sua casa, de uma forma natural; não é ser blasé porque vc tá dando carão; é ser blasé porque vc faz aquilo todo santo dia, ou toda santa semana, aquilo é o seu estilo de vida. Se não for assim, vc é wannabe – o que, convenhamos, é disdainful…Então, concordando com ele, não, nós nunca chegaremos no exato momemnto em que o lugar está naquele ponto de equilíbrio perfeito – a menos que tenhamos informantes locais muitíssimo antenados, e mesmo assim, aquilo certamente não terá o mesmo gosto para nós que tem para eles.

    Flavia , já deves ter visto nos arredores ( de Londres)
    entregadores de leite , que usam carroça, cavalos de verdade , e aqueles tambos de aluminio de antigamente .
    Isso é que eu acho sensacional ! Uma mega industria com todas as ISOs , entregando leite em carroça 😎
    Ter num mesmo local, o modernissimo em convivio-pacifico
    ( e planejado , claro ) com o muito tradicional , são coisas dificeis de encontrar fora das zoropa .
    Por outro lado , quem de nós quer ir pra Londres e ver barraco ? Não é o lugar mais adequado pra isso né ? 😳

    Sylvia já vi sim!!! Eu acho fascinante essa convivência (devíamos aprender com eles). Mas eu tenho fascinação por conhecer o underground, confesso. Não me acho melhor por isso, mas tenho sabe? Quando eu morava em Perdizes adorava voltar pelo Minhocão e ficar bisbilhotando nas janelas, imaginando como seria a vida daquelas pessoas. É mania minha, fazer o quê…

    pãtz, sou MUITO assim flávia. li, reli e rereli pra confirmar não ter sido escrito por mim o que tu acabou de escrever agora. guriiia, será que a gente é irmão? 😎

    Diogo, aqui no VNV tudo pode acontecer…vai ver somos gêmeos bivetelinos separados na maternidade, hehehe (tá bom, já parei com o Prosecco, juro…)

    Agora conta, vc tb tem mania de ver as pessoas na mesa ao lado e imaginar a vida delas, o que elas fazem etc? (tá, eu sou #loucadegrade, eu sei…)

Ah, eu devo ser a pessoa mais “uncool” que eu conheço… Fujo desses locais “ainda não visitados” porque sempre acho que não vão me agradar – e quando resolvo ir, normalmente não agradam mesmo… Vou assinar embaixo do que disse a Sylvia: “ar de pobreza de terceiro mundo, que os gringos adoram, e que eu agradeço por não ter visto”… 😉

O que ocorre , na maioria das vezes , e com a maioria das coisas , é que “o novo” é apenas o antigo com uma nova embalagem.
Lugares-novos e exóticos em cidades tradicionais , quase sempre tem aquele ar-de-pobreza de terceiro mundo , que os gringos adoram , e que eu agradeço por não ter visto.

    até porque, infelizmente, esses ares de pobreza nós temos aos montes no quintal de casa, não é?

Qual será a expressão “in” para mexeriqueira?rsrsrs…até entreouvindo tuítes rola um post fantástico?
Ainda bem que eu nunca tive a pretensão de ser “cool”, nem sou muito aventureira, não. Eu sou maria-vai-com-as-outras: preciso de um monte de informação para ir a lugares novos. E confesso que já tentei alguns desses “novos” bairros em Londres, só pra voltar correndinho para os que eu já conheço. Dizem as más linguas que sou muito frêsca. So be it: assumidíssima!

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