João Colorado

Minha crônica no Guia do Estadão de hoje.

Campeão de Tudo
Campeão de Tudo

Eu ainda estava rouco de tanto gritar pelo golaço do Nilmar contra o Corinthians, quando senti o celular vibrar no bolso. Era a minha irmã Cristina.

“Cris, tô no Pacaembu! No meio da torcida do Inter!”. E ela: “Tá no estádio? Por que não levou o João?”

João é meu sobrinho. Tem 7 anos. A idade-limite para uma criança decidir por qual time vai torcer. Seus coleguinhas de escola são corintianos, santistas, palmeirenses, são-paulinos. Mas minha irmã quer porque quer que ele torça pelo Internacional de Porto Alegre. E acha que o tio aqui é a pessoa indicada a fazer do guri um colorado.

Para você ter noção do tamanho do meu problema: João nasceu na Espanha. Veio direto para São Paulo. Só esteve em Porto Alegre uma vez – para ser batizado. O pai é meio americano, nascido na Andaluzia mas criado nos States. Nunca entrou num estádio, e provavelmente acharia mais natural que fosse a Manuela, a filha mais nova, a se interessar por futebol.

Tudo seria mais fácil se o João pudesse entender a vantagem de torcer por um time de fora da cidade. Só tem a parte boa, João! Quando o seu time ganha, você comemora. Quando perde, quase ninguém se lembra de vir tirar onda. Moleza!

Ser um torcedor do Inter, particularmente, é ainda mais tranquilo. Para começar, todo mundo simpatiza com um time que seja o maior rival do Grêmio. É a ordem natural das coisas. Sabe a luta do bem contra o mal, João? Olha só, nós somos os caras legais.

O Globo Esporte me deu uma mãozinha: fez uma montagem comparando o gol do Nilmar contra o Corinthians aos gols de videogame. Mandei o link pro João. Taí um brinquedinho que os amiguinhos não têm.

E tem mais. Eu não posso prometer, João, mas é bem capaz que o Inter ganhe mais campeonatos do que qualquer um desses times de São Paulo nos próximos anos. Pra que sofrer, guri?

Mesmo quando perder, você não vai se abalar. Porque o seu time é o único que já ganhou todos os campeonatos que um time brasileiro pode disputar. É um time com slogan. Internacional: Campeão de Tudo. Quando vierem te dizer que algum time foi campeão paulista, brasileiro ou do mundo, você vai poder responder: “E daí? O meu time é Campeão de Tudo!”

E se tudo isso for papo furado, você sempre vai poder botar a culpa em mim. Por que você torce pra esse time, moleque? “Ah, porque o meu tio escreveu no jornal, e daí não teve jeito”. Vamo, vamo, Inter!

21 comentários

Excelente texto, Ricardo. O Inter lançou os bonecos do Guinazu e do D´Alessandro. Uma boa estratégia para ajudar na conversão do guri para o lado bom da força.

Em casa, até muito pouco tempo atrás, cada um torcia para um time: eu, corintiana desde pequena, marido palmeirense, filha sãopaulina, enteados cada um torcendo diferente. Era muito divertido porque sempre dava pra tirar onda com alguém. Agora a filha virou casaca e veio pro Corinthians. Sei não: acho que antes era mais divertido.

Não pude deixar de colocar um rápido comentário… VAMO, VAMO, INTER!!!! Capricha nessa Ricardo!!! Mais um colorado pra comemorar títulos!!!

Riq, o texto tá liiiindo !!!
Meu sobrinho paulista é Famengo doente em São Paulo, desde criancinha. Ele vinha pro Rio de uniforme do clube 😉 Tá bem, meu irmão é flamenguista, mas nunca fez proselitismo. E mais, quando pequeno, ele fez a turma toda do colégio torcer pelo Flamengo também, uma graça.

Estou dando muita risada aqui, sozinha, feito uma pateta!
A minha história é quase igual a tua, com um agravante: meu sobrinho, filho da minha irmã colorada, separada, tinha um pai gremista doente!
Devo confessar que o pobre guri sofreu…ele parecia a corda do cabo de guerra, sabe? Cada um puxando de um lado! Quando ia pra casa do pai, era gremista, quando estava na nossa casa, colorado. Tadinho…
Eu usei esses mesmos golpes baixos, além de comprar TODOS os produtos do Inter pra ele: “a tia te dá tudo que tu quiser, tá?”
Eu sei, eu sei…ele era uma criança…isso não se faz…blá, blá, blá…mas olha o lado bom! Hoje ele é colorado fanático e bem venceu o mal! 🙂

Quando tem pressão assim, o moleque tende a não torcer para o time do tio.

Lá em casa é assim. O pai do meu sobrinho é são-paulino e a minha irmã atleticana.

A disputa com o Atlético foi moleza. O difícil foi encarar a equipe do (e o próprio) Rogério Ceni.

Mas já tive alguns progressos. Já consegui levá-lo para um jogo-treino do Cruzeiro com o América-MG, no simpático estádio do Independência (uma das sedes da Copa de 50 e palco de um zebraça).

E em um dos gols do meu time celeste, o meu sobrinho comemorou. A desculpa dele foi: – Ah, tio! Se eu não comemorasse eu ia apanhar!

Hehe…

Atenção: Os comentários são moderados. Relatos e opiniões serão publicados se aprovados. Perguntas serão selecionadas para publicação e resposta. Entenda os critérios clicando aqui.

Assine a newsletter
e imprima o conteúdo

Serviço gratuito