Minha crônica no Guia do Estadão de hoje.
Estou fora da cidade há duas semanas. Vendo o noticiário, porém, tenho vontade de só voltar depois que acabarem as obras das marginais.
O pior é que sabemos que todo esse transtorno é inútil. Antes mesmo de acabarem a obra, o aumento da frota de carros já terá anulado qualquer ganho de espaço.
Estamos há décadas nessa discussão sobre que tipo de transporte priorizar. Pois bem. A solução para o problema do trânsito de São Paulo não está nem no transporte coletivo nem no transporte individual. A solução para o problema do trânsito de São Paulo está no fim do transporte.
Senhoras e senhores, eu tenho o caminho para esvaziar as ruas da cidade. É simples e baratíssimo: proíbam-se as reuniões! A partir de segunda feira, ponham as reuniões na ilegalidade! Todo mundo trabalhando em casa! Nos escritórios, só as moças do café -- para servir os porteiros, os ascensoristas e as faxineiras.
Peguem o orçamento dos túneis e pontes e avenidas e tatuzões, e comprem laptops para a escumalha. Em vez de metrô (que por mais que se construa nunca chega a lugar nenhum), internet wireless para todos!
É mais fácil proibir as reuniões do que proibir o cigarro. Porque em qualquer reunião buscada aleatoriamente, 95% dos participantes não gostariam de estar lá. 87% estão pensando em outras coisas mais importantes e urgentes. 43% nem sequer sabem por que foram chamados a participar.
Boa parte dessa gente fica zanzando para cima e para baixo pela cidade, para alegria dos repórteres de trânsito, que podem repetir todos os dias as mesmas frases, invariavelmente contendo as palavras-chave “Anhaia Melo”, “ponte das Bandeiras”, “Robocop” e “sentido Castelo Branco”.
Vamos deixar as ruas para quem precisa fazer uso delas: os motoboys, as mães levando as crianças à escola, os consumidores indo às compras.
São Paulo ganharia as manchetes do mundo inteiro. Depois do extermínio dos outdoors, das placas e dos fumantes, a abolição do trabalho no escritório. São Paulo se tornaria a cidade mais moderna do planeta!
Não seria difícil fiscalizar. Basta empregar os mesmos fiscais que fiscalizam tão bem aquela plaquinha do elevador, “verifique se o mesmo encontra-se”. No mais, é só pôr para funcionar um Disque-Denúncia. Sempre vai ter um dedo-duro anônimo para entregar um chefe contraventor.
O único efeito colateral negativo do fim das reuniões seria a volta do caos nos aeroportos. Porque o que ia ter de reunião sendo marcada no Rio, em Belo Horizonte e em Curitiba...
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