De como nascem as viagens

Los Roques, Venezuela

1/janeiro/2005. Viagens podem ser desejadas ou indesejadas. Podem ser arranjadas. Podem ser adotadas. (Podem ser abortadas, também.) Viagens podem ser prematuras. Viagens podem ser até gêmeas (junte duas viagens numa só, e voilà). Poderia ser diferente, mas a verdade é que a maioria das viagens nasce por descuido, mesmo. Em cima da hora você se dá conta de que vem aí um feriadão ou o fim do ano ou as férias das crianças e precisa cumprir suas obrigações domésticas. (Viagens assim costumam ser geradas do jeito mais papai-mamãe que existe: indo direto ao anúncio da CVC no jornal de domingo, sem preliminares nem nada.)

As melhores viagens, no entanto, nascem (a) de aventuras irresponsáveis ou (b) de projetos maduros de longo prazo. Você se apaixona por um livro, por um filme, por uma comida, por uma foto, por uma idéia e imediatamente começa a gestar uma viagem que algum dia, se tudo correr bem, verá a luz.

Comigo já aconteceu de tudo quanto é jeito. Minha viagem mais esdrúxula e inesperada nasceu de um “Caraca!” que eu ouvi na mesa ao lado da minha, no trabalho. Um mês e meio depois eu poderia ser visto usando 20 mil milhas Smiles para voar até a Venezuela e passar o feriado de Corpus Christi no arquipélago caribenho de Los Roques, onde tirei a foto que ilustra este post. (Num dia que eu estiver sem assunto eu conto essa história inteira.)

A viagem para a qual estou embarcando hoje começou a nascer há uns cinco anos.  A idéia era ir à Cidade do Cabo e a Sydney numa mesma empreitada, e na volta escrever alguma coisa como “Todos os Rios de Janeiro do mundo”. (Não me venha com São Francisco, Hong Kong ou Vancouver – Rio de Janeiro que é Rio de Janeiro tem que estar no Hemisfério Sul e ter clima, no máximo, subtropical.)

A coisa voltou à tona em fevereiro de 2004, quando eu sentei para reescrever meu primeiro livro, o “Viaje na Viagem” (que vai sair em algum momento de 2005 – se eu conseguir terminar –, lotado de informações inéditas, com o título “Almanaque Viaje na Viagem”). Eu tinha passado os últimos quatro anos perambulando nas horas vagas pelo litoral brasileiro, por conta do meu guia de praias (www.freires.com.br). Nesse tempo todo, as viagens para longe foram poucas, e todas vapt-vupt. Reescrever o livro provocou em mim a mesma comichão aeroportuária que o “Viaje” costuma provocar nos leitores. Além do quê, em alguns momentos eu me senti um pouco enferrujado. Como reescrever um livro louvando as grandes viagens superplanejadas, se fazia anos que eu não empreendia nenhuma viagem assim?

Foi então que resolvi colocar o Japão no roteiro. Pronto. Eu já tinha uma grande viagem para ficar superplanejando até janeiro chegar.

Tecnicamente, vou dar uma volta-ao-mundo. Mas não é uma viagem volta-ao-mundo como uma volta-ao-mundo deve ser feita – cheia de escalas que provoquem choques culturais. Não. Meu roteiro é razoavelmente tranqüilo, com poucas escalas, numa seqüência que faz sentido. O que eu fiz foi aproveitar uma tarifa volta-ao-mundo para empreender uma viagem fora das rotas pré-existentes.

Para quem se interessa por detalhes técnicos: as alianças de companhias aéreas e os grandes consolidadores de passagens têm tarifas tentadoras para quem quer dar a volta ao mundo. Nos consolidadores você pode conseguir pechinchas tipo 1.000 e poucos dólares – só que, além de obrigatoriamente começar e terminar a viagem no Hemisfério Norte, você vai ter que encarar vôos em companhias engraçadas de países esquisitos. Para nós aqui embaixo a tarifa melhor é de 3.000 dólares na classe econômica*, oferecida pelas alianças de grandes companhias aéreas (Star Alliance, da Varig, ou OneWorld, da American).

(Só entre nós: na verdade, a tarifa volta-ao-mundo mais barata que existe é a de 11.000* dólares viajando em primeira classe – que é mais ou menos o preço de um bilhetezinho do Brasil pra Europa ali na frente do avião. Meu amigo Gianfranco Panda Beting, que é muito mais chique que eu, já fez essa viagem umas três vezes – clique aqui pra ver o que ele conta.)

Para montar uma volta-ao-mundo você precisa, então, de duas coisas: escolher uma aliança de companhias e ter um agente de viagem experiente, que saiba lidar com os podes e os não-podes dessa tarifa. Eu escolhi a Star Alliance por ser a única que voava direto à África do Sul (e para coletar milhas Smiles em todos os trechos), e já tinha o Rubens, da Aviotur, meu super agente de viagem desde o milênio anterior. Apesar de o Panda recomendar ir na primeira classe e na direção oeste (duas decisões que ajudam você a driblar os efeitos do fuso horário), eu vou de econômica mesmo, por uma questão de pindaíba, e na direção leste, porque a seqüência de lugares fica mais interessante (em linhas gerais, vou do menos para o mais civilizado). Primeiro Cidade do Cabo, depois Cingapura, então Sydney, daí Japão e por fim Nova York. Prometo pelo menos um postal por escrito de cada escala (eu falei pelo menos).

Passei os últimos oito meses planejando tudo nos mínimos detalhes. Agora é torcer para que os imprevistos sejam sensacionais.

*Os valores estão um pouco mais altos agora (aguarde uma página sobre o assunto). A minha viagem de volta ao mundo de 2005 será inteiramente republicada ao longo de janeiro, nos mesmos dias em que os posts originais saíram. Fique ligado.

21 comentários

Riq,
Nao vejo a hora de “montar” este roteiro do RTW.
Como vc mesmo diz, a viagem comeca na preparacao…
Eu moro em Fort Lauderdale, entao a saida e chegada da viagem seria via Miami.
Seria muito importante ouvir algumas das suas sugestoes de roteiros. Tenho apenas a obrigacao de passar pela Coreia (pra visitar a mana.

Ui! Sorry! 😳
Agora que vi o meu “delay”!
Anyway, adorei o novo template do site! Está demais!

🙂

Feliz Ano Novo, já estava com síndrome de abstinência. Vou esperar ansiosamente para ler os posts dessa aventura de volta ao mundo.

Assim que conheci o site, nos tempos do .zip.net, me viciei nos textos e li o blog inteiramente, que bom ler de novo.

Riq e tripulacao,
Primeiramente, FELIZ ANO NOVO!!!!!!!! Com muita paz, saúde e muitas, muitas viagens (o resto vem como consequencia)
Aproveitando este post, estou planejando fazer uma viagem ao redor do mundo em setembro…Vai ser o meu presente de 40 anos
Minha irma está morando no sul da Coréia do Sul (numa cidadezinha mais perto de Tóquio que Seul), quero visita-la e aproveitar e visitar alguns países…
Inicialmente, meu roteiro seria:
MIAMI, VANCOUVER, SEUL, TOQUIO, KYOTO, XANGAI, PEQUIM, SEUL, LISBOA, MIAMI…
Vc acrescentaria algum outro lugar? Tenho entre 30 a 45 dias pra viajar…Fique a vontade pra sugerir melhores datas, roteiros, ok?
Tripulacao, please, ajude-me…

    A idéia de usar uma passagem volta ao mundo para visitar sua irmã é ótima, Claudio. A partir de 30 dias esta viagem fica interessante; com 45, então, melhor ainda.

    As possibilidades são infinitas. Em breve vou publicar na seção “E +” do menu do alto do cabeçalho todas as dicas sobre montagem de viagem volta ao mundo.

    De cara, fique sabendo que não é possível fazer ziguezague. Você só pode passar por Seul e Miami uma vez. E provavelmente vai ter que fazer o Japão antes da Coréia, a não ser que um funcionário da cia. da aliança autorize manualmente.

    Em abril a TAM começa a fazer parte da Star Alliance, então você vai ter mais uma possibilidade de saída e chegada ao Brasil, e de emissão da passagem em português.

Caro Riq:
Tenho 100 mil milhas, smiles, e gostaria de uma ideia em relaçao a um destino.
Tenho 15 dias de ferias em fevereiro. Vc sugere alguma coisa? A ultima viagem que fiz, com sua ajuda, foi Barcelona, passando pela Andaluzia.
Feliz 2010!
Eleonora

    Caso você esteja querendo ir para a Europa, Eleonora, fevereiro está bem em cima da hora. Lembre-se de que a Gol não voa para lá; você vai ter que conseguir emitir passagem-prêmio nas cias. parceiras do Flying Blue — Air France, KLM, Alitalia.

    Eu não estou muito por dentro de como andam essas emissões. Não acredito que esteja fácil, não. Acho que esses acordos funcionam mais para acumular milhas em outras cias. do que para emitir de verdade. Mas posso estar enganado; a Gol está bem mais generosa na emissão de passagens-prêmio do que a antiga Varig.

    Eu estou aqui com uma conexão péssima, sem poder pesquisar. Recomendo que você dê uma passadinha no Aquela Passagem https://www.aquelapassagem.com.br e veja o que o Rodrigo tem publicado sobre os assuntos milhagem, Gol e Smiles.

    Se você for para a Europa, pode entrar por uma capital e voltar por outra, aproveitando os vôos das três cias. da Flying Blue. Fevereiro vai estar bem frio em todo canto, menos na Península Ibérica.

    Por outro lado, você não deve encontrar dificuldades para emitir passagens no Brasil e na América do Sul, com exceção da semana do Carnaval. Você pode usar essas milhas fazendo duas viagens. Uma para Curaçao, por exemplo (30.000 milhas) e outra com ida a Montevidéu e volta por Buenos Aires (20.000 milhas).

Riq, que bacana esta sua ideia de republicar sua viagem de volta ao mundo!
Um dia, se eu conseguir convencer meu marido , quero fazer uma viagem de volta ao mundo ( já até tenho esboço das escalas…).
Ah! Parabéns pelo site. Estou começando a pegar intimidade com ele.

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