Fiz questão de dar um pulinho em Caraíva no final do meu périplo de janeiro pelo litoral da Bahia. Tinha estado pela última vez por lá em maio de 2007, quando a vila estava em obras, de cabeça para baixo: estavam instalando a rede elétrica -- por cabos subterrâneos, conforme exigido pela população, numa batalha de uma década. Subi um post sobre isso na época, intitulado O metrô de Caraíva?.
Aproveitei a vibe da viagem -- estava andando de ônibus desde Salvador -- e testei o jeito roots de ir e voltar. Peguei o buzão de linha no Arraial d'Ajuda, no desembarque da balsa de Porto Seguro. Há dois ônibus por dia; três na temporada. O bumba leva pouco mais de duas horas para percorrer os 65 km da balsa a Caraíva, indo pela antiga estrada de terra entre Arraial e Trancoso.
A estrada estava bem terraplenadazinha (não chovia de verdade há três meses no Sul da Bahia), condição que varia bastante ao longo do ano. Mas o principal defeito do caminho foi consertado: as pinguelas precaríssimas de madeira podre que metiam medo foram substituídas por pontezinhas de concreto.
A chegada, porém, continua igual: carros ficam na margem norte do rio Caraíva e os bípedes atravessam de canoa, a um preço fixo por cabeça (R$ 2,50).
Felizmente, "igual" é o adjetivo que me veio imediatamente à cabeça quando comecei a andar pela cidade. Na aparência, nada tinha mudado em Caraíva. A chegada da luz não aumentou a área construída nem a altura das edificações. O jeitão da cidade continuava o mesmo -- o que mostrava o acerto da resistência dos moradores aos postes.
Na verdade, não tinha como ser diferente, mesmo. A luz de gerador era a menor das esquisitices do lugar. As condições objetivas que afastam o turismo mais careta -- a estrada de terra, a proibição de tráfego de carros, a areia fofa e quente das ruas, a inviabilidade prática de bate-voltas -- não foram alteradas. Caraíva está igual. Só que melhor.
Foi a minha primeira vez no verão em Caraíva -- o que me permitiu ver claramente por que tanta gente gosta de lá. É bem menos cheio do que Arraial ou Trancoso, com praticamente zero visitantes de fora. A ocupação da praia é bacana, com destaque para o bar bacanérrimo da pousada Tainá e as tendas baixinhas do Bar da Praia.
Mas foi só à noite que a ficha acabou de cair. Caraíva ligada à rede elétrica está muitíssimo melhor do que a Caraíva dos geradores, porque não tem mais cheiro de queirosene queimando nem trilha sonora de motorzinho de gerador. Som, agora, só da MPB esperta do Bar do Porto ou dos forrós do Ouriço e do Pelé.
Preciso voltar.
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