Sol! Céu azul sem nuvens! Camiseta! Bermuda! Nossa! Há quanto tempo!
Ainda assim, a névoa ainda não deixou aparecerem as montanhas ao longe. Se eu não soubesse por fotos, não saberia que a cidade está num vale circundado pelos Andes.
Estamos hospedados em Bellavista, uma espécie de Santa Teresa de Santiago -- uma localização perfeita para turistagem.
Do nosso hotel, bastou andar três quadras para pegar o funicular que leva ao mirante do Cerro San Cristóbal, de onde se percebe a dimensão da cidade, esparramada ao longo do rio Mapocho. É a primeira parada ideal.
(Repare na bandeirona no alto do predião. Há MUITAS bandeiras gigantescas em vários edifícios, como a demonstrar que o Chile não se abala ante a adversidade.)
Na descida do cerro daria para dar uma passadinha em La Chascona, a casa-museu onde morou Pablo Neruda, que fica ao lado. Mas na segunda-feira o museu fecha, então deixamos para outro dia (está tão pertinho de casa, não tem pressa...)
Bella Vista está no finzinho do Centro, que é onde se encontram praticamente todos os outros lerês da cidade. Fomos de metrô, na hora do almoço, e voltamos caminhando.
[lerê: programa obrigatório de turista (lerê, lerê...), no jargão aqui do site]
Descendo na estação Puente Cal y Canto você dá de cara com o programa-de-turista incontornável da cidade: a visita ao Mercado Central. Faça o quanto antes, para se livrar dele. Não é uma experiência agradável: você não vai conseguir dar um passo sequer sem que alguém não venha te caçar para entrar num restaurante. O assédio começa antes de você entrar e não pára mesmo enquanto você está tirando fotos ou passeando. Um saco um saco um saco. O lugar é lindo -- uma estrutura de ferro supertrabalhada -- mas não consegui tirar uma foto que prestasse por conta da aporrinhação.
Quase todos os espaços nobres do mercado estão ocupados pelo restaurande Dónde Augusto, que espalha seus tentáculos por onde quer que você olhe.
Eu fui fugindo, fui fugindo, até conseguir entrar num corredor mais vazio. Quando finalmente apareceu um restaurante em que ninguém veio me caçar, eu entrei
Tomei uma paila marina especial -- sopa de marisco com alguma coisa extra para cobrar mais caro de turista; o Nick foi de corvina frita. Estava bem gostoso. Tomamos meia garrafa de vinho. Deu uns 30 dólares.
Ufa. Livres do Mercado, dava para começar a caminhada.
Em poucas quadras se chega à Plaza de Armas, onde ficam a Catedral, a Prefeitura, o Museu da Cidade e a estátua do alto do post.
Mais duas quadrinhas, e olha ele aí, o Museu de Arte Pré-Colombiana -- nesse a gente entrou. (Sim, algumas paredes estão escoradas; aqui e ali você também topa com prédios interditados.)
No museu há poucas coisas realmente chilenas (a maioria dos artefatos veio do mundo maia), mas essas figuras de madeira do sul do Chile nos impressionaram.
Na saída do museu, tomamos um café num "café con piernas", onde meninas longilíneas, calipígias e fafá-de-belênicas trabalham com vestidos curtíssimos e justíssimos, transformando a parte de baixo do balcão, vazada, numa vitrine de bairro da luz vermelha para pudicos. Não tive coragem de fotografar, mas você pode ver uma foto neste post da Claudia Carmello. Sinceramente -- em 1975 podia ser divertido, mas em 2010 achei bem deprê.
O miolo de Santiago é pródigo em contrastes de prédios novíssimos e prédios históricos. Dá pra fazer trocentas fotos como essas.
A área é compacta. Um pouquitito mais e já demos de cara com o palácio de La Moneda, palco do suicídio de Allende. O palácio não tem muito apelo arquitetônico, mas a estátua de Allende é de uma beleza não-convencional para o gênero.
Eu estava procurando um enquadramento interessante quando notei que dava para incluir a palavra "Justicia", do letreiro do órgão público atrás da estátua. Enfim. Momento turismo de esquerda
Do palácio descemos até o "barrio" Paris-Londres. Pelo que entendi, "barrio" tem um significado diferente em chileno; estaria mais para "vila" em brazuquês. O Paris-Londres são apenas duas ruas (a Londres e a Paris) que se cruzam; os paralelepípedos são lindos, e há alguns hotéis antigos que se tornaram albergues.
De lá é uma pernada curta até o Cerro Santa Lucía, um morrinho baixo que se tornou um pequeno parque no coração da cidade. Infelizmente, a escadaria e o mirante estão interditados ao público, por "daños" (efeitos do terremoto). Por enquanto, só dá para passear pelos jardins externos; o portão está trancado.
Contornando o cerro chega-se à parte mais bonita do centro -- uma região conhecida como Parque Florestal, e que tem ruas calmas e arborizadas, com edifícios antigos. É impossível não chegar à calle Lastarria, epicentro do "barrio Lastarria", um aglomerado de cafés, bares e restaurantes mais bem-apessoados do que os de Bellavista.
E dali já estávamos a menos de 10 minutos de casa.
Fechamos o círculo: a região central estava coberta. Pulamos alguns lerezitos culturais -- o centro cultural Estación Mapocho, o Museu de Bellas Artes, o Museu de Artes Visuales -- mas já entendemos a geografia da Santiago central.
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