Vácuo (minha crônica no Guia do Estadão de 6a.)

Geleira Piloto, Patagônia chilena

Fiquei sabendo do terremoto em Concepción e Santiago como você: pela televisão, no sábado de manhã. A diferença é que, naquele momento, eu estava prestes a embarcar para o Chile.

Não, eu não estava indo para o aeroporto pegar um voo que seria cancelado antes mesmo que eu pudesse fazer o check-in. Eu não me encontrava no conforto da minha casa, mas em Ushuaia, na Argentina, a cidade mais meridional do planeta, pronto para embarcar num navio que me conduziria do lado de cá para o lado de lá do fim do mundo. O problema é que, do lado de lá do fim do mundo, o mundo parecia estar realmente acabando.

Me agarrei ao mantra que me salva nessas horas. “Na CNN é sempre pior, na CNN é sempre pior”, repetia para mim mesmo. Se o cruzeiro estava confirmado, é porque havia condições de segurança. E de mais a mais, eu não podia repetir o que tanto critico – gente que cancela viagem a Aruba porque deu gripe suína na Argentina, ou evita a Grécia porque viu na TV que anteontem teve manifestação de rua. O terremoto tinha sido no centro do Chile, a 3.500 quilômetros do lugar aonde o navio me levaria. Três mil e quinhentos quilômetros, caramba. São Paulo-Natal deve dar isso.

Na verdade, o que me preocupava é que, uma vez dentro do navio, eu ficaria três dias totalmente isolado do mundo. Sem telefone e sem internet. Sem blog. Sem twitter. Sem poder dizer para ninguém – ei, fiquem tranquilos, estou bem. E sem saber do desenrolar dos acontecimentos.

Embarquei ainda preocupado com o tsunami que atingiria o Havaí, onde mora a minha amiga Lucia, a qualquer momento. E sossegado pelo fato de terem suspendido o alerta de tsunami no Chile.

Desembarquei três dias mais tarde – agorinha há pouco; escrevo na terça – e o tsunami contornou o Havaí, mas não poupou algumas partes costeiras do Chile. Onde estou, no entanto, não houve estrago nenhum.

Ainda assim, me encontro em outra situação que a maioria dos viajantes abomina – a de estar pronto para viajar por um país traumatizado por uma catástrofe recente. Ainda falta um pouquinho para eu chegar lá: hoje tomo o barco de volta à Argentina, e só volto ao Chile daqui a uns quinze dias.

Mas quer saber? Tenho certeza de que, daqui a duas semanas, chegarei a uma Santiago completamente resoluta em tocar a vida para frente, varrendo a última poeira. Se for assim, você já sabe o título da crônica. Na CNN é sempre pior.

15 comentários

Pois então. Tenho passagem marcada para o Chile para o final de Abril. Foi emitida há uns dois meses, com milhas. 10 dias entre Atacama e Ilha de Páscoa, além de Santiago.
Estou achando que até a data da viagem (22/04) a situação geral do país estará plenamente normalizada, mas o problema maior é o receio dos meus pais e amigos, que insistem para que eu deixe a ida ao Chile para uma outra oportunidade e acabam me contaminando um pouco com esse terrorismo familiar.
Agora estou nesse dilema: vou assim mesmo, ou troco o destino? Nesse caso, a alternativa que tenho em mente seria Venezuela – Los Roques e Isla Margarita – pra enfim conhecer de perto o paraíso da bóia.
O que acham? Sugestões são bem vindas!!
:o)

    Atacama e Ilha de Páscoa foram tão afetados pelo terremoto quanto Brasília foi afetada pelas chuvas torrenciais e deslizamentos da Costa Verde no Rio, no comecinho desse ano.

    São regiões distantes mais de 1.500km do epicentro do terremoto. Não foram afetadas de forma alguma.

    Pensa assim: se vc tiver com viagem marcada para Foz do Iguaçu, vai desmarcar porque houve deslizamentos de terra em – por exemplo, hipoteticamente – Ubatuba?

    Isla Margarita não vale a pena, não é o Caribe que imaginamos. Los Roques vale https://www.viajenaviagem.com/category/los-roques

    A partir de sexta-feira estarei no Chile e relatarei ao vivo minha viagem. Estarei em Santiago na segunda-feira.

    Mas como o André Lott já disse, nem Atacama nem ILha da Páscoa foram afetados.

    Obrigada pelas dicas, meninos! Estou bem convencida a manter o roteiro original.

    Andre, vou usar a tua explicação pra acalmar minha mãe. Sabe como é mãe.

    Riq, ficarei no aguardo dos updates direto de Santiago!

    Valeu!

Decisão acertadíssima do Riq, tenho a impressão que a midia está ficando cada dia mais sensacionalista (aqui também), certamente não é hora de viajar a turismo para as áras mais atingidas, contudo lugares como o Atacama e sul do Chile não sofreram nada, Santiago foi parcialmente atingida mas sem tanta gravidade, eu nem cancelaria uma viagem para a capital chilena agora.

Eu preciso arrumar um banner com esse mote “Na CNN é sempre pior” e mandar pra minha família. Pq a depender do sensacionalismo da mídia… Dessa última vez eu fiquei muito chateada c/ o q foi noticiado. Pq a situação pré-tsunami era de mta calma aqui no Havaí, todos salvaguardados, mas na TV parecia o fim do mundo.

Para mim há dues características humanas frente as catátrofes: a certeza da nossa fragilidade e também a nossa inteireza (integridade). O medo paralisa e é terrível, mais a ânsia da voltar a normalidade faz muito bem as pessoas a mesma sociedade.
Mis mejores deseos para el pueblo chileno.

Você nos fortalece nas nossas decisões de viajar, isto é muito bom pois, acaba com um terrorismozinho que rola por aqui cada vez que vem uma noticia destas, gripe suina, terremoto.É bom ter alguém que nos coloque na real!

Ontem veio um anúncio de página inteira no Globo, em nome do governo do Chile, agradecendo aos brasileiros pela ajuda e solidariedade. Muito bonito.

Mas sabe que não é por medo da minha parte? É que como meus filhos não iriam, eles começaram a ficar assustados imaginando os pais no meio da catástrofe.
Pensando bem, quando eu for mais pra frente, vou levá-los, hehe, assim não tem stress!

O Chile é um país que me impressiona de uma forma muito positiva. Tenho uma grande admiração pelo povo chileno, vivendo em um país que é lindo, lindo, lindo, mas que está sempre sujeito a algum cataclisma – um terremoto, um vulcão… Pois hoje, apenas uma semana depois desse terremoto violentíssimo, e com as réplicas ainda alcançando mais de 5 na escala Richter (cada uma já seria um terremoto “de respeito”, não?), li no jornal que as escolas de Santiago já voltaram a funcionar desde 4a.f.! Se isso não é tenacidade… Estou segura que daqui a 2 ou 3 semanas, os santiaguinos vão estar recebendo os turistas com toda a pompa possível – e suspeito que haverá umas promoções maravilhosas para o próximo inverno… 😉

Riq, tenho que contar, com vergonha, que desmarquei minha viagem pra Santiago. Vou deixar o Chile mais para o fim de ano…
É bem provavel que eu vá para Lisboa agora.

    Magina, Ana Claudia, a coisa tá esquisita mesmo, os tremores não param. Eu vou manter a minha passada até por uma questão jornalística. Acredito que quando passar por Santiago, daqui a quase vinte dias, as coisas estejam já OK. Mas a onda de cancelamentos agora é totalmente compreensível e nada irracional.

    (Por outro lado, acho que os que não tiverem medo vão se dar bem, haha.)

Atenção: Os comentários são moderados. Relatos e opiniões serão publicados se aprovados. Perguntas serão selecionadas para publicação e resposta. Entenda os critérios clicando aqui.

Assine a newsletter
e imprima o conteúdo

Serviço gratuito