A mais bela das derrotas
Claro que eu não tô feliz. Mas eu não tô arrasado como a maioria dos colorados, não.
Porque eu viajei pra assistir a um campeonato. E quando cheguei aqui nos Emirados, descobri que na verdade estava participando de um hajj.
Hajj é o nome que os muçulmanos dão à peregrinação a Meca que eles precisam fazer uma vez na vida. Pois o que aconteceu aqui nos Emirados foi um hajj colorado.
Entre 5 e 10 mil pessoas, dependendo da contabilidade de quem você acredita, coloriram os shoppings e os calçadões de Dubai de vermelho e fizeram do estádio de Abu Dhabi um pequeno Beira-Rio. Ou um Beira-Golfo. Mar Vermelho!
Nunca antes na história desse país (sim, a prosperidade econômica e o real valorizado têm muito a ver com isso) um time de futebol mobilizou tantos torcedores numa peregrinação a um lugar tão distante.
Sabe-se, no entanto, que de vez em quando ocorrem acidentes nos hajjs em Meca. Há confusões, pisoteamentos, feridos, mortos. Mas isso não torna o hajj uma experiência menos transcedental para um muçulmano.
(Bater um papo com o Valdomiro, um dos maiores ídolos da história do Inter, como eu bati na embaixada colorada que a Freeway Sports e o Inter montaram no hotel Ramada Chelsea, vale quanto? Para outras coisas existem todos os outros cartões de crédito.)
O hajj colorado a Abu Dhabi não acabou exatamente como a gente imaginava, mas quando a dor da derrota passar vai ser lembrado como o momento mágico em que algo entre 5 e 10 mil pessoas viajaram entre 14 e 24 horas de avião para invadir um país e um estádio. Na minha escala de valores isso é tão valioso quanto qualquer título que se possa conquistar.
(E sempre lembrando que, em 2006, nós fomos o Mazembe do Barcelona. O vexame de ontem é proporcional ao tamanho que o Inter tomou desde então.)
Foi mais ou menos o que aconteceu — só que em âmbito doméstico — com a torcida do Corinthians, que em 1976 invadiu o Rio de Janeiro e depois Porto Alegre e, mesmo tendo amargado mais um ano de fila, jamais vai esquecer aquelas viagens. Perder foi apenas um detalhe de uma aventura de proporções épicas.
Caso o seu time algum dia lhe ofereça a oportunidade de fazer um hajj, e você tiver condições de ir, não deixe a oportunidade passar.
Os colorados que estão aqui em Abu Dhabi ainda saíram no lucro: ganharam uma noite bem dormida, longe das buzinas azuis que devem estar sendo ouvidas até agora no Rio Grande.
Para nós o hajj futebolístico pode ter acabado, mas o hajj turístico continua.
Como eu disse pra Fernanda Zaffari, ao vivo na Rádio Gaúcha: sábado, dia livre para compras.
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76 comentários
O pior não é perder para um time africano na semifinal. É saber que ainda restam 11 prestações da CVC no cartão de crédito.
E ainda tem muitos torcedores colorados que compraram pacotes para a partida final e vão chegar a Abu Dhabi.
Que post legal, Riq! Legal mesmo.
Emocionou até mesmo uma são paulina…
Mais um membro 😉
3 membros.. e olhe que sou Gremista..
((Bem, tenho que rever meus conceitos.. nem sei quem são os jogadores.. humpt))
Adorei o post! Uma justa homenagem aos milhares de colorados [como o meu marido] que cruzaram o oceano para torcer pelo nosso amado Colorado! Nada vai nos separar!
Isso ai Riq!!! É assim que a banda tem que tocar. Para aqueles que se contentam em fazer festa com a derrota dos outros, só lamento… são pequenos demais, mesquinhos demais. Nenhum time merece esse tipo de torcedor. Parabéns aos lúcidos e felizes que torcem por times que conseguem sair das quatro paredes e ir tão longe!!! Bela derrora! Belo texto! Bela lição!
ADORO, A-DO-RO seus raros textos relacionados à paixão pelo futebol. Aquele de Santa Bárbara acho incrível. Esse aqui entra pra listinha (viu o video da Energia das Torcidas?)! Bjo, aguenta a gozação que faz parte e bola pra frente! 😛
Ah, meus amigos baianos que me perdoem, mas achei o sinal da derrota do Inter:
https://globoesporte.globo.com/futebol/mundial-de-clubes/noticia/2010/12/gafe-no-mundial-fifa-troca-escudo-do-inter-pelo-do-vitoria-em-kit-oficial.html
IIh, mandei outro comment com link e acho que foi pro poço…
fiquei sabendo que o Inter havia perdido com uma mensagem do meu pai, no meio de uma reunião
“sou Congo desde criancinha”
rsrrsrs pronto, alfinetei 🙂
mas eu queria que o Inter tivesse ganho. melhor eles do que esse Zamb-sei-lá-o-quê
Tergiversou , mas, como sempre, tergiversou bonito. Boas compras, Riq.
ah…o Inter não foi o mazembe de 2006 não…afinal o adversário era o Barcelona…way different!!!
perder faz parte…do mazembe nem tanto…mas pena mesmo tenho desses 5 a 10 mil colorados pagando a prestação da viagem ainda…vai ser duro esquecer essa derrota!
bola pra frente!
Parabéns Riq, mesmo com a dor teu texto continua leve e divertido. Padrão Riq de qualidade 🙂
Sou tricolor (o original, das Laranjeiras) e nem consigo me conter de vontade de um dia estar aonde você está Riq.
Essa peregrinação é pra poucos. E não é todo time que mobiliza tanta gente pra tão longe.
O Brasil quase todo (exceto o rival do Colorado) tava torcendo.Eu torci muito.
E agora espero poder um dia ver o meu time num “haji” desses.