Nunca engoli as matérias que costumam apresentar o hotel Château Frontenac, mais conhecido cartão postal da cidade de Québec, como um hotel luxuoso e exclusivo. Só de ver pelas fotos dava para perceber que se tratava de um hotel grandalhão e meio fake. Estando em Québec, porém -- ossos do ofício --, resolvi me encaixar numa das visitas guiadas, que saem de hora em hora.
Então, pasme: ao fim da visita eu já estava afeiçoado ao hotel. Pode, Arnaud?
Gostei porque o tour é informativo e honesto. Não tenta fazer do hotel o que ele não é. Até a caracterização dos guias como personagens de época (pode ser um hóspede, uma camareira) ressalta a natureza meio disneyana (avant la lettre!) do hotel.
Negócio seguinte: no fim do século 19, as províncias unidas do leste do Canadá convenceram a província de British Columbia a fazer parte da federação prometendo uma ligação ferroviária entre Vancouver e a costa leste. A ferrovia foi construída pela Canadian Pacific Railway. Na época, o trajeto de Vancouver a Montreal levava cinco dias inteiros.
Como pouca gente se sujeitaria a passar cinco dias inteiros dentro de um trem, a Canadian Pacific começou a construir hotéis nos pontos intermediários. Para agradar à elite da época, a companhia decidiu construir hotéis que imitassem castelos europeus. Só que cheios de janelas, claro. O primeiro foi em Banff, em 1888. O hotel de Quebec foi inaugurado em 1893. (Só em 1980, quando se tornou suficientemente antigo, foi designado monumento histórico do Canadá.)
A localização é fantástica: no topo da colina onde está a Cidade Alta de Québec. Antes do Frontenac, ali existia outro palacete. O primeiro morador do local foi o Conde de Frontenac que lhe emprestou o nome. O conde instalou ali a primeira casa da parte alta da cidade, e deu início à construção da muralha que até hoje está de pé.
No início eram pouco mais de 100 apartamentos. Depois de sucessivas expansões (incluindo a grande torre do seu interior), hoje o hotel tem mais de 600 unidades. Os corredores são cavernosos e os restaurantes e bares seguem o estilo inglês. Os apartamentos são confortáveis. Uma curiosidade: o hotel leva oito anos para renovar todos os quartos -- o que significa que a renovação não termina nunca.
O momento verdadeiramente histórico da vida do hotel foi quando as potências aliadas se reuniram secretamente ali, em 1944, para planejar a invasão da Normandia que pôs fim à Segunda Guerra Mundial. O hotel foi esvaziado e um enorme aparato de segurança montado na cidade. Ninguém poderia ver que Churchill e Roosevelt estavam por lá. A população, claro, notou que algo importante estava acontecendo. Mas o boato que vazou é que o Papa estaria em Québec.
(Se non è vero, è ben trovato)
O tour custa 9 dólares canadenses e é feito em inglês ou francês. Gostei. É interessante ver um cartão postal por dentro
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