Perdi meu celular longe daqui, num táxi. Comprei outro. Fui fazer a tal da sincronização de dados com o computador. E então precisei mais uma vez enfrentar a verdade incômoda. Os únicos dados que tenho para sincronizar são números de telefone e endereços de email. Não possuo uma música sequer no computador para passar para o celular.
Tenho vergonha de ser tão jurássico. Logo eu, que praticamente vivo por instrumentos. Minha casa é onde a internet funcionar. Carrego uma memória externa com 500 gigas de fotos para onde eu for. Mas musicalmente estacionei no CD.
Na verdade, suspiro pela dupla LP + fita cassete. Devoto aos vinis e sobretudo às cassetes o amor táctil de que Caetano Veloso fala na canção “Livros” (composta muito antes de pensarem no Kindl ou no iPad).
Gravar fitas era um dos hobbies da minha geração – ou, pelo menos, da minha turma. Nelas a gente criava aquilo que hoje o povo da noite chama de “set list”. A diferença estava no tempo: com 30 ou 45 minutos de cada lado, era preciso concisão e elegância. Você gravava para a posteridade. Uma fita era para sempre – ou pelo menos enquanto desse para ser ouvida.
Era proibido errar. Fita regravada não prestava: os agudos sumiam. Nas mais vagabundas dava para ouvir por baixo o som da música anterior. Então a gente investia. Enterrei uma grana pretíssima (BTNs, ORTNs e cruzados novos) em fitas TDK metal. E ao sair da casa dos meus pais, consegui levar comigo o tape deck Gradiente.
Um belo dia (que nada: um feio dia) toda a minha refinada técnica de soltar o vinil e a tecla pause do tape deck no mesmo micronésimo de segundo tornou-se repentinamente inútil. Entre o advento do CD e a chegada do laptop com queimador de CD-ROM (lembra?) passaram-se anos sem que pessoas comuns pudessem fazer com CDs o que faziam com as cassetes. Perdi um passatempo.
A invenção do mp3 me pegou totalmente desinteressado no assunto. Hoje eu olho para a minha estante de CDs e me dá uma preguiça tecnológica invencível de converter tudo em bytes. Mas algo me diz que não, não vão inventar um iPodzinho que leia a minha estante toda por Bluetooth.
Alguém aí ainda sabe o que é “rewind”?
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