Garrancho (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Meu computador escreve a mão!

Quatro pênaltis perdidos? Faxina nos Transportes? Doença de Chávez? Nada disso. Para mim a notícia mais interessante da semana foi a que saiu no Estadão de segunda-feira: nos Estados Unidos o ensino da escrita cursiva está prestes a ser banido das escolas.

Já há algum tempo é dispensável ter letra bonita, de agora em diante vai ser ocioso simplesmente ter letra. Compreende-se: letra de mão é uma coisa que a gente usa sobre papel em branco. E papel em branco hoje em dia é algo que só se vê em gaveta de impressora.


Pena. Mais uma habilidade humana que vai ser extinta, feito pregar botão e fazer pipoca na panela. Escrever a mão vai ser uma atividade tão exótica quanto é hoje desenhar letras góticas. Não demora e até os médicos vão parar de garranchar suas receitas – basta inventarem uma família de tipos chamada Zgryftsblufx, que só possa ser descriptografada pelo scanner do farmacêutico.

As novas gerações não sentirão o prazer de usar o seu primeiro caderno universitário. Que, como o próprio nome não indica, aparecia na sua vida na estréia do ginásio (titio traduz: ensino médio), mais ou menos junto com o seu primeiro pelo pubiano. (Sim, dava um comercial da Valisère para garotos.)

Atire a primeira espiral quem não passou por aquela fase constrangedora de botar bolinha no lugar do pingo do “i”. Ops – tem gente que ainda não superou essa fase, perdão.

O que mais intriga nesse fim da letra cursiva é o fato de isso levar inevitavelmente ao fim da assinatura. Quem não escreve não assina. Estou errado?

O que virá por aí? Assinaturas eletrônicas, leitores de digitais e de íris não são a mesma coisa. Tudo isso pode até identificar você, mas não expressa quem você é.

Talvez a assinatura do futuro seja esse avatar fuleirinho que criamos para botar a nossa cara na internet. Um avatar é mais do que uma assinatura: é um logotipo pessoal. O meu é uma bóia amarela (desculpe).

De repente um dia a escrita a mão volte a ser valorizada. Pelo sim, pelo não, continuar escrevendo uma ou outra coisa a mão para não perder a letra. E não vou jogar fora minha pipoqueira.

Assine o Viaje na Viagem por emailVnV por email
Visite o VnV no FacebookViaje na Viagem
Siga o Ricardo Freire no Twitter@riqfreire


38 comentários

Outro dia em Paris (chique, né), pude ver os mais lindos papéis de carta !!! Muito legal esta critica a este estilo de vida que a mim não convence.Em casa não tenho microondas há alguns anos, nada como uma comida viva!!!!Adoro estourar pipoca no fogão!! Escrever … sou daquelas médicas que faz questão de que o paciente entenda a receita, não é preciso fazer muito esforço para isto 🙂
É tão dificil se relacionar com o outro ? E para quê??? Cada um no seu casulo, vai ser assim ….

Tentando resumir em poucas palavras ,minha reflexão após ler a noticia no jornal foi sb como se compotariam os homens da idade da pedra ao serem informados que seus descentes não aprenderiam a caçar e não precisariam construir armas ,que arco e flecha seria artigo de museu 😳

Ricardo falasse da íris, tem um primo meu que o notebook dele só liga pelo scaneador de retina, aí um dia desses ele bebeu um pouco a mais do que o tolerável, que nem o computador conseguiu identificá-lo… Não ligava de jeito nenhum por causa da vesgueira alcoólica… hehehe

Agradeço minha mãe (quase) todos os dias por ter me feito fazer toda semana, quando era pequena, CADERNO DE CALIGRAFIA! Lembram né?! Todo pautado com espaçamento maior para letras maiúsculas e menor para letras minúsculas. Ainda existe isso?! Pois bem, sou elogiada até hoje pela minha letra e me orgulho muito dela, redonda, legível, ainda que pra minha mãe não seja redonda o suficiente (mas isso fica pra terapia)… rss
Enfim, em relação aos médicos, não acho ruim de maneira alguma que imprimam as receitas. Conheço uma mãe que quase perdeu o filho por dar o remédio na dosagem errada por causa da letra do médico que era um garrancho!
Mas ainda tenho esperança! A prima da minha melhor amiga tem 17 anos e mora em Salvador e mandou para a tia aqui em Brasília uma carta, à mão, dizendo o quanto gostava dela. Podia ter pegado o telefone ou mandado uma SMS e ainda sim preferiu escrever!

A gente vai perdendo a habilidade e nem percebe.
Vai escrever uma página inteira a mão, ela dói… A minha, pelo menos!

Também adoro colecionar Moleskines de viagem, mas eles estão voltando cada vez menos preenchidos! 🙁

Informo a quem interessar possa: faço pipoca na panela, escrevo cartas, cartões de aniversário e cartões postais. Sim, sou antiquada.
E sim, quase tive um troço quando fui a um médico aqui e o cara me deu uma receita impressa: quer dizer, nem aquela brincadeira de tentar desvendar os garranchos…

Acho que o fato de sermos saudosistas significa que estamos ficando melhores. (sim, eu acredito firmemente que, a exemplo do vinho, eu não fico mais velha, fico melhor). 😉

    Eu tenho que confirmar essa informação: a Marcie manda sim cartões de aniversário e Natal e (pasmem!) escritos a mão. São lindos e estão super bem guardados, junto com minhas lembranças mais importantes.

    Muito bacana, Marcie. Se eu pudesse escreveria aqui no blog com uma caneta. Também adoro pipoca feita na panela, toda vez que passo por um pipoqueiro em alguma praça ou porta de escola, faço questão de comprar a minha, tão simples e tão gostoso!

    Nada se compara a uma carta escrita a mão! Que bom que esse hábito ainda não foi extinto!

Eu sempre faço pipoca na panela. É muito, muito mais gostoso. Mas realmente escrevou muito pouco a mão. E da-lhe colecionar Moleskines de viagem para não perder a mão de escrever.

Atenção: Os comentários são moderados. Relatos e opiniões serão publicados se aprovados. Perguntas serão selecionadas para publicação e resposta. Entenda os critérios clicando aqui.

Assine a newsletter
e imprima o conteúdo

Serviço gratuito