Bom. Dizer que estamos numa zona pouco turística de Veneza é o que costuma ser definido por pessoas que falam inglês melhor do que eu como um "understatement". Na verdade estamos numa zona pouco gentística de Veneza -- um cantinho esquecido do Dorsoduro que não parece estar no caminho de ninguém.
Mas temos vista para nosso próprio canaletozinho e para a igreja de San Niccolò dei Mendicoli, o que não deve ser pouca coisa. Só a localização meio fora de mão é que explica que essa vista, mais o charme do Hotel Tiziano (um prédio do século XV totalmente renovado por dentro) tenha custado meros 120 euros com café, uma pechincha para um 3 estrelas em Veneza.
Os temores de uma má localização, porém, se dissiparam assim que saímos para dar um rolê. A sete minutos e meio daqui está a parte mais animada do Dorsoduro, nas vielas que levam às estações San Basilio e Zattere do vaporetto, e sobretudo no Campo Santa Margherita -- que da última vez que estive aqui, há 10 anos, gramei para descobrir, estando hospedado em San Marco.
Mais bacana até do que as áreas boêmias são os vestígios de vida de verdade que se encontram aqui e ali.
Um causo engraçado aconteceu na volta do jantar. Já estávamos na parte tranqüila (e nem tão iluminada assim) do sestiere quando uma família de cinco italianos passou pela gente e pediu informação. Antes mesmo de entender o que eles perguntaram a gente já foi dizendo que não era daqui (imagine, dar indicações em Veneza, tendo chegado seis horas antes).
Depois que passamos por eles, no entanto, entendi que eles estavam procurando justamente o hotel onde estamos, o Tiziano.
E daí eu falei que achava que era pro outro lado (eu não tinha feito exatamente aquele caminho na ida). Peguei o mapa, mostrei.
Eles ficaram ressabiados -- era coincidência demais -- e foram seguindo a gente à distância, como com medo do que poderíamos aprontar virando o próximo beco, sempre menos iluminado que o anterior.
No lugar deles, eu também teria medo
No final, eles não podiam acreditar. Acho que perderam a chance de ganhar na loteria -- encontrar, à noite, numa zona erma de Veneza, dois brasileiros que sabiam ensinar como chegar a um lugar ainda mais obscuro, é desperdiçar toda a sorte por um benefício muito pequeno
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