Gratinée (minha crônica no Divirta-se do Estadão)
Ilustração | Daniel Kondo
Passei a última hora tentando apurar quem cunhou o termo “comfort food”. Tudo o que descobri foi que desde 1997 a expressão virou verbete em dois dicionários americanos. Sendo tão recente, acabou passando para o nosso português no original.
Se você costuma ler resenhas de restaurantes, já deve conhecer o conceito. “Comfort food” é a comida que vale por um colo de mãe. É quando um chef desiste de ser cerebral ou autoral ou sutil, e apela para ingredientes e temperos cuja digestão é feita diretamente pela memória afetiva.
É provável que a expressão não tenha passado para o italiano. Todo repertório gastronômico da Bota, da bisteca à milanesa à pizza margherita, fala ao coração do bambino que mora em você. Não existe nada mais reconfortante que um prato de lasanha – o grande crítico gastronômico Garfield já nos ensinou. Pena que seja um prato que eu não possa pedir em restaurante. A lasanha da minha mãe levava molho de tomate, presunto e queijo; essa tradicional, com carne moída e molho branco, consegue me deixar mais carente do que estava antes.
Na cozinha brasileira, a comfort food por excelência é a feijoada – quando consumida como se deve, nos leva à cama em posição fetal. Eu tenho uma queda séria por moqueca de siri; enquanto houver na cumbuca, não consigo parar.
Esta semana acho que identifiquei a comfort food mais sofisticada que existe. Era uma tarde fria e molhada em Avignon, e me refugiei no primeiro aberto. Pedi o menu do dia. A entrada era uma sopa de cebola.
Eu tinha esquecido o poder da sopa de cebola francesa autêntica – a que eles chamam de “gratinée”. O caldo, forte e levemente adocicado, não contém um traço físico de cebola. Uma fatia de pão velho vem mergulhada no pote, de onde sairá mais gostosa do que jamais foi. E tudo isso vem tapado por uma grossa camada de queijo Gruyère, que serve tanto para gratinar quanto para dar o golpe de misericórdia final. A sopa de cebola gratinada é praticamente uma pizza líquida.
Neste momento, o que me reconforta é saber que aí em São Paulo o La Casserole faz uma colo de mãe.
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9 comentários
Após anos vivendo na Inglaterra, sei que o termo “comfort food” se refere à aquela que lhe mantém quente e satisfeito, que lhe deixa uma sensação gostosa e de conforto. Não importa o paìs ou a comida em si. Quando ha decepção, saudades, frio, dor, tristeza… muitos procuram uma comida que lhes conforte e os faça sentir melhor. Dai o nome “comfort food”, seja ela lazanha, chocolate, sopa, abacaxi…
Adoro a do Le Suffren, pertinho da Torre Eiffel, estavação La Mote Picquet Grenelle. Pizza líquida, adorei!
Ih, comigo aconteceu o mesmo! Tinha me esquecido de quão suculenta é uma autêntica sopa de cebola gratinada francesa, e pedi num menu (entrada, prato e sobremesa), de entrada a tal sopa, q aliás estava uma dilícia, mas ñ deu prá prosseguir c/o menu …
Essa crônica podia ter sido ilustrada com a cena do Ratatouille que o crítico lembra da infância ao provar o prato ! 🙂
Putz!! Lembrei da mesma coisa no hora!!
Riq, voce esteve em Avignon? Que cidade agradável! Tem muitos e bons restaurantes.
Navegar pelo Rhône, subir a eclusa e chegar até Chateauneuf de Pape, mesmo sem parar.
Lá em cima, no deck, sozinhos, sem o almoço no andar de baixo, em um belo dia de sol, sem mistral, foi um passeio e tanto.
Pode-se contemplar as margens bem tratadas e utilizadas de diversas formas pela população. Sua águas limpas, sem nenhum vestígio de lixo doméstico e esgoto.
Jovens navegando e mergulhando. Restaurantes à beira rio. Ulalá!
Chocolate também é comfort food e quebra um galho quando não tem mais mãe pra fazer lasanha, mingau, purê, etc. etc. 🙄
Pizza liquida é muito bom…
Ric, comemos a mesma sopa de cebola na Place De L’Horloge em Avignon em maio passado e a sua definição dela é perfeita!