Efeito estufa (minha crônica no Divirta-se do Estadão)
Ilustração | Daniel Kondo
Pode me chamar de retrógrado, mas eu tenho saudade de um aeroporto acanhado e caótico: o velho Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro.
Antes de ser reformado, o Santos Dumont proporcionava o desembarque mais sensacional do planeta. Depois das vistas sensacionais oferecidas pela janelinha, você saía pela porta do avião e recebia o bafo da maresia na cara – praticamente um convite a cancelar os compromissos da tarde e fugir com as suas havaianas para algum lugar perto do mar.
Quando você se recuperava do choque térmico-olfativo-sensorial, enxergava o Pão de Açúcar ao fundo do quadro, e só não saía em direção a ele pela pista mesmo pelo receio de ser atropelado pelo próximo Boeing 737.
Na época que anunciaram a reforma, há seis anos, escrevi um manifesto intitulado “Contra o fim da maresia”. O deputado Fernando Gabeira leu o texto na – o mais longe que um texto meu já chegou.
Recebi críticas – procedentes – denunciando o meu descaso para com a situação dos passageiros em dias de chuva e em especial com relação aos cadeirantes, que precisavam ser carregados no colo a cada voo.
OK, admito: não dava mesmo para ser contra a construção dos “fingers” (pontes de embarque, em português). Mas também não precisavam ter feito uma obra tão equivocada.
O primeiro grande erro é conceitual. O novo Santos Dumont esconde e avilta o terminal antigo, que tinha valor histórico e arquitetônico. O belíssimo saguão anos 50, com painéis que contavam a história da aviação, hoje está completamente fora do caminho de quem passa pelo aeroporto.
O segundo equívoco é técnico, mesmo. A sala de embarque foi projetada como um grande tubo de vidro. Teoricamente o teto transparente daria a sensação de estar ao ar livre até o último momento de permanência no Rio. Na prática, porém, nos dias de sol a sala de embarque se transforma numa estufa de embarque. Num forno de embarque. Numa sauna finlandesa de embarque.
A sala de embarque do novo Santos Dumont é um dossiê de uma prova só que justifica a privatização dos aeroportos no Brasil. Aceita um conselho? Ponte Aérea de volta, só depois das 8 da noite.
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7 comentários
Novo ou velho, reformado ou não…pela vista antes, durante e depois, o SDU é o melhor aeroporto do mundo!
Vamos ver como vai sair esta privatização, cujos editais já colocam a competentíssima Infraero como sócia obrigatória com 49%…
Dureza é estar neste verão no SDU aguardando para embarcar e descobrir que esqueceu em casa o cartão de crédito que lhe daria alguns momentos de ar condicionado na Sala VIP. Nem quero lembrar que aconteceu comigo… 🙁
Algumas salas vips aceitam que você entre apenas fornecendo o número do CPF. Já usei este método no Centurion Club.
Mas cá prá nós , voltar pra casa estando no Rio , é sempre deprê; então que seja o mais tarde possivel 😀
Bom, o Riq reconhece que ausência de finger torna um aeroporto desconfortável (e perigoso) sob chuva para embarque, e humilhante para quem dificuldades de locomoção.
Outros aeroportos usam esse recurso de deixar um teto de vidro, mas com algum tipo de cobertura retrátil que possa evitar esse efeito-estufa. Ou isso, ou um ar-condicionado ultra-potente.
Quanto ao velho terminal, como ele é tombado pelo patrimônio histórico parcialmente, de forma paradoxal tornou-se impraticável reformá-lo para atender ao fluxo atual.
Concordo! Também faço parte do time saudosista que adorava o Santos Dumont velho. E, no mesmo tópico, Congonhas também.