Xis (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo

Quando viajo, as letras e os sons me parecem tão interessantes quanto as paisagens, os monumentos, as bebidas e as comidas do lugar. E não me refiro à música, não: adoro estar exposto a uma língua diferente, aos letreiros, ao sotaque.

Acho graça em descobrir que consigo ler as legendas em catalão. Alugarei carro quantas vezes for a Aruba e Curaçao, só para ouvir papiamento no rádio. A cada nova viagem a Portugal entendo uma nova nuance (ou nuança….) do falar luso, o que renova minhas esperanças de um dia não soar tão caricato ao tentar imitar o português de verdade.

Estive agorinha pela primeira vez na Galícia, e mais até do que entrar na Catedral de Santiago de Compostela ou me esbaldar em vieiras, navalhas e berberechos, o que eu ansiava mesmo era por ouvir galego.

Caso você tenha fetiche zero por idiomas, explico: o galego é uma língua ibérica, falada no noroeste da Espanha, que registra inúmeras semelhanças com o português. Um dia já foram a mesma língua. Os artigos do galego são “o”, “a”, “os” e “as”; o plural de “especial” é “especiais”. Uma “calle”, em galego, é uma “rúa” (assim, com acento). E quase sempre onde tem jota em português você vai achar um xis no galego: xantar, xornal, Xosé, viaxar.

Mas alguém precisa viaxar a um lugar para ouvir a língua? Eu sei, eu poderia ter simplesmente dado uma busca no YouTube. Mas queria descobrir in loco.

Pois bem. Ao atravessar a fronteira, comecei a procurar uma rádio tagarela. Achei logo a Radio Galicia. E…

Decepção. Falado, o galego tem aparência, cor, cheiro, temperatura, textura e consistência de espanhol. Os mesmos nasais duros. O mesmo “s” pesado, que nunca desliza para som de “z” (“casa” soa “cassa”). E o imperdoável: a mesma língua-presa do espanhol ibérico no “c” e no “z”, que torna impossível pronunciar Azucena (“Athuthena”) comendo farofa. Enfim, a coisa toda me soou como portunhol falado por espanhóis. Foneticamente, a Catalunha me parece mais próxima de Portugal.

Em compensação, a Catedral de Santiago de Compostela é deslumbrante, e as vieiras, as navalhas e os berberechos valem a viagem.

Os carros desta viagem são alugados com todos os seguros pela Mobility Cars.

O grupo Pestana e as Pousadas de Portugal apoiam esta viagem.

O Mondial Travel é a assistência viagem oficial do #viajenaviagem no projeto Europa de carro.

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10 comentários

Não sei não Ric, mas esse negócio de Catedral de Santiago de Compostela tá me parecendo influencias do Paulo Coelho…

Eu também tenho gosto por ouvir os sons locais. E o interessante é que esses sons locais das minhas viagens ficam durante muito na minha memória. Ainda me lembro do gralhar dos corvos no Coliseu e do barulho das ambulâncias em Roma, diferentes das de Porto Alegre. E faz pouco, ao mexer nas minhas coisas da última viagem, ao olhar o mapa do metrô de Barcelona, me veio muito vívida na memória, a voz gravada da moça que anuncia as estações do metrô: “urquinaona”, “Jaume premierrr”, “bogatell”, “iacuna” (por sinal, a estação do meu hotel).

Ah, gostei muito do catalão, pareceu uma mistura de francês com portugues, e fácil de compreender no contexto. Quando reservei online os ingressos para a Sagrada Família, eu nem troquei a página do catalão para outra língua! 🙂

Também adoro idiomas. O Galego para mim é o português falado nas brenhas do Brasil, ou por uma criança quando começa a falar, porque tem sabor daquele idioma ainda em formação, o galego-português,lembra a época que estudávamos as cantigas de escarnio e mal dizer (Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louve’en em meu trobar;. Se você seguir um pouco mais pela estrada chegará ao Principado de Astúrias, e não estranhe ao ouvir um publicidade do Goberniu del Principau d’Astuires e pensar que é seu Creyson que está falando
Hai dalgun camín que nun
foi capaz d’atopar.
Vuelvo entós
per los mesmos pasos que
llevarenme n’aquel tiempu
a faceme pedante, que
non llistu, y
llamber les ferides que
Ficieronme los tus olvidos
y el mieu vieyu de
nun podete volver amar.

Tb adoro adivinhar o que ta escrito.Em Bilbao eu lia os menus sempre em catalao e depois olhava a traduçao pra ver se eu acertava mesmo o pedido.

nada mais lindo do que conhecer os lugares pela língua e pelos sotaques – tb adooooro! 🙂 bjs!

Também adoro novas línguas e o catalao é muito semelhante ao portugues, e no contexto geral, compreensível!

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