Por essa eu não esperava: estava em Nova York exatamente no fim de semana da Parada do Orgulho Gay 2012 -- "Pride", para os íntimos.
Esta é a mãe de todas as paradas gays. A primeira -- ainda não com este nome -- aconteceu em junho de 1970, marcando o primeiro aniversário dos confrontos entre policiais e clientes gays do bar Stonewall Inn, no Village.
A permissão oficial para o evento chegou apenas duas horas antes da hora programada da marcha. Os manifestantes saíram da esquina da 6a. Avenida com Waverly Place (próximo ao Stonewall Inn) e se dirigiram ao Central Park.
Hoje a marcha faz o sentido oposto: sai da esquina da rua 36 com a 5a. Avenida e termina no Village, logo depois de passar pelo lugar dos confrontos de 1969.
Para quem conhece -- ao vivo ou pela televisão -- a parada de São Paulo, tida como a maior do mundo, as diferenças são gritantes.
Apesar de grandioso, o evento de Nova York não transfigura a cidade como o de SP. Em São Paulo a Parada Gay compete com o Grand Prix de Fórmula 1 como o evento turístico do ano, mas em Nova York a parada gay não chega a influir no mercado de hospedagem (como acontece com a maratona e semana da moda).
Mas o que marca a distância entre as duas paradas é que a de Nova York é realmente uma marcha, não um carnaval.
É difícil saber sem ter visto ao vivo, já que as imagens que são selecionadas -- e mesmo as que você vai lembrar de ter visto aqui -- são sempre as de go go boys, drags montadas, travestis, transexuais e gente soltando a franga em geral. Todos esses personagens são fundamentais, tanto para a causa, quanto para a festa; sem eles (ou elas!) a parada ia ser bem aborrecida.
Mas esse povo todo dá no máximo um quarto dos participantes.
Durante as três horas que ficamos na esquina da 5a. Avenida com a rua 19, vimos desfilar dezenas de associações comunitárias. Ativistas especializados em várias causas, da igualdade de imigração (pelo reconhecimento de companheiros estrangeiros do mesmo sexo para concessão de permanência) ao combate ao bullying nas escolas aos direitos dos transgêneros.
É bacana ver as muitas grandes empresas que associam suas marcas à parada e trazem seus funcionários LGBT para desfilar.
Até a polícia de Nova York participa: a banda oficial da corporação toca "Over the rainbow" quase em looping, abrindo alas para o contigente de oficiais gays e lésbicas desfilar acenando bandeirinhas do arco-íris.
Outra coisa que impressiona é o número de entidades dedicadas ao abrigo e educação de adolescentes gays expulsos de casa ou sem ambiente na família. O projeto mais sensacional de todos é o It gets better, de combate à alta taxa de suicídio de teens gays, que forma um banco de depoimentos no YouTube de gays adultos assegurando aos mais jovens de que a partir da faculdade tudo será diferente.
Pais e amigos de gays e lésbicas sempre desfilaram. Mas cada vez mais agora marcam presença as novas famílias não-tradicionais.
O trecho mais emocionante do desfile de hoje foi o liderado pelo governador Mario Cuomo, que peitou e conseguiu aprovar o casamento gay no estado de Nova York há 11 meses. Atrás dele vieram casais de gays e lésbicas nova-iorquinos casados desde então.
Chegamos atrasados para ver a Cyndi Lauper, que foi a patrona de 2012 e abriu o desfile. A única celebridade que passou pela nossa frente foi o George Takei, de Jornada nas Estrelas e Heroes, mas estava mais perto da outra calçada e eu não consegui enquadrar.
Foi uma linda tarde de verão em Nova York. E além de aumentar meu respeito pelos ativistas americanos, aprendi uma outra lição --> bermuda cargo é tão 2009! (Amanhã cedinho tomo café e já passo na Gap.)
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