Mão à palmatória: Brasil acertou na reciprocidade à Espanha

Brazilian Day em Nova York, 2009

Não que alguém se importe com o que eu escreva mas, como quem me acompanha sabe que sou um ferrenho crítico à política de reciprocidade diplomática no turismo, preciso reconhecer que as medidas tomadas pelo Itamaraty contra a Espanha alcançaram sucesso com uma rapidez impressionante.

Segundo acordo firmado ontem entre diplomatas brasileiros e espanhóis (leia aqui), quem hospedar brasileiros na Espanha (ou espanhóis no Brasil) não precisará mais registrar a carta-convite em cartório. Um modelo de carta-convite será publicado nos sites dos ministérios do exterior dos dois países, e bastará que seja preenchido com a identidade e o endereço do anfitrião.

A mesma regra valerá para brasileiros que usarem a Espanha apenas como conexão para outros pontos da Europa, onde as regras de emissão de cartas-convite são bem mais simples do que as que as espanholas. Bastará informar a identidade e o endereço do anfritrião no país para onde se dirige.

Foram também acertadas medidas que permitem assistência diplomática a brasileiros que tenham sido barrados no aeroporto, e que possam ter acesso a sua bagagem em caso de permanência de mais de 24 horas na salinha de deportação.

E sim, foi muito bacana ver a presidente Dilma tocar no assunto no discurso de recepção ao rei Juan Carlos.

Eu achava francamente que as medidas brasileiras (1) não iam dar em nada e (2) desencadeariam uma onda de retaliação truculenta dos nossos agentes de imigração contra quem não tem nada a ver com isso, turistas espanhóis desavisados ou independentes (tente pagar uma reserva em pousada do exterior, tente…).

Felizmente estive redondamente enganado nas duas suposições. Não que alguém esteja ligando para isso, mas deixo aqui meus parabéns ao Itamaraty e aos agentes da imigração brasileira.

Agora: continuo condenando a reciprocidade diplomática no quesito exigência de visto de entrada. É uma política que não conseguiu derrubar nenhum visto de entrada para brasileiros e, na prática, serve apenas para fechar o Brasil a mercados emissores importantes, como Estados Unidos e Canadá. Nosso orgulho não nos permite sequer adotar o modelo do Chile e da Argentina, que cobram o visto no aeroporto.

Além disso, não se esboçou nenhuma reação de reciprocidade positiva a novidades como a autorização eletrônica SAE para entrar no México (por que o Brasil não oferece uma SAE aos mexicanos?) ou o recente empenho dos americanos em agilizar a concessão de vistos aos brasileiros.

E vou avisando que, como sempre, não vou defender este ponto de vista na caixa de comentários. No Brasil é mais fácil defender a eutanásia do que o fim do visto para americanos.

Mas não me queira mal, por favor. Como você pode ver por este post, quando os fatos se impõem eu não tenho problema nenhum em dar o braço a torcer.

Leia também:

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42 comentários

Concordo!!!

Mas espero que melhore ainda mais.

Aqui entre nós. A Espanha tá precisando dos nossos turista que amam fazer compras!

Abs!

Acho que a medida em relação à Espanha já veio muito tarde, mas é claro que aprovei. O que acontecia em Barajas era um absurdo e uma humilhação. Eu, como mãe de uma linda moça em viagens pela Europa, jamais permiti que ela tivesse que botar os pés naquele maldito aeroporto.

Quanto ao visto para os americanos, estou totalmente de acordo com o Riq. É claro que a época é de crise, mas é público e notório que os americanos – a população lá é bem maior que a brasileira – adoram viajar e detestam qualquer tipo de burocracia ou gastos desnecessários ou extras. Então, com um país que já está caro em serviços – o nosso – eles vão preferir destinos tão pitorescos quanto o Brasil, mais baratos e sem pagar as taxas que o Brasil cobra pelo visto(como reciprocidade). Com isso, nós perdemos mais do que eles, com certeza.

Eu conheci um norte-americano no começo desse ano em Posadas na Argentina e ele me contou super triste que se sentia muito mal tratado por sul-americanos em geral (e que ele achava que aconteceria isso qdo ele esteve na Ásia e lá ele foi muuuito bem tratado) e que achava um absurdo ter que pagar um valor alto em visto para cada país que ele visitava por aqui…

Lembro que ele disse não ter ido ao Paraguai para conhecer as ruínas jesuíticas nem ao Brasil pra conhecer as cataratas brasileiras pq era tudo difícil/caro pra ele… então ele se focou só na Argentina onde ele já estava…

Realmente acho que precisamos, como país, pensar melhor nos aspectos de turismo. Durante a viagem que estou fazendo agora (6 meses – http://www.aquioualgumlugar.com), encontrei muita gente que diz que quer vir para o Brasil, muitos americanos, mas a questão do visto (tempo e tb dinheiro) tornam outros destinos mais atrativos. Conheci inclusive um americano que disse que só conheceu o aeroporto porque foi barrado no Brasil. De fato, o visto pode ser um impeditivo. Mas tb acho que precisamos pensar em infra-estrutura e o inglês. Impossível não comparar a estrutura de turismo de outros países e avaliar todo o potencial que temos a explorar e todos os itens a melhorar. Enfim, temos um país lindo para ser visitado cada vez mais! Precisamos fazer a nossa parte.

Na boa, é mais jogo para o Brasil as coisas ficarem como estão do que liberar o visto para brasileiros entrarem nos EUA e vice-versa. A muambada (de Miami) já está incomodando o varejo nacional.

    Hugo,

    A sacolagem vem incomodando há pelo menos 3 anos o setor têxtil, especialmente o infantil. Tá uma quebradeira geral.

    O problema está aqui dentro, não lá fora. Preços altos, baixa qualidade e variedade, altas margens de lucro, impostos elevados, encargos trabalhistas… Culpar quem vai buscar cenário oposto ainda que no exterior é proibir o doente de buscar remédio. Em vez de encarecer os produtos importados, as empresas e os governantes deveriam é baratear e melhorar o produto nacional, para ele ser escolhido por méritos próprios, não por imposição ou falta de alternativa.

Dentro dos acordos que o Brasil assinou com a FIFA, está lá entulhada nas exigências um sistema de emissão eletrônica (via Internet) de vistos para qualquer pessoa que viaje ao Brasil com ingressos para partidas da Copa 2014 já comprado.

Ou seja: em 2014 teremos algum sistema que permita a viajantes estrangeiros que já vem com ingresso e precisam de visto fazerem a solicitação via Internet antecipada.

Talvez resolvam manter esse sistema depois. Ou não.

Riq querido, voce eh realmente especial.
E eu ligo muito para o que voce escreve!
Parabens.
Beijinhos.

    Eu tb e digo mais: Para minhas dúvidas e inquietações, o VnV é como a Enciclopédia Larousse que minha mãe tinha em casa há mil anos atrás!

Comentário não diretamente ligado à questão da reciprocidade:
“…Tente pagar uma reserva em pousada do exterior, tente…”

De fato, ano passado, fiquei em uma pousada em Carcassone. Fiz a reserva pelo Booking.com, mas na hora da reserva sequer era possível a inserção de número de cartão de crédito para pagamento antecipado. O pagamento deveria ser efetuado no local, durante o check-out e em CASH. Mas recomendo totalmente aquela pousada. Linda e muito bem atendida pelo próprio prorietário

Concordo com a medida de reciprocidade em relação à Espanha, mas não concordo que o Brasil deva abolir a exigência de visto prévio para países que assim o exigem de nós. Já fui uma vez aos EUA (Disney), nos idos tempos em que havia consulado americano em Porto Alegre. Como os EUA não é meu interesse da vez, acho que só me interessarei novamente pelo país do Obama quando efetivamente reabrirem o consulado aqui em Porto Alegre, e com critérios bem claros e estabelecidos para a concessão ou não do visto…

    Chris, o índice de aprovação de vistos americanos de TURISMO para brasileiros já é de quase 94%. Há uma rejeição maior a alguns outros vistos específicos, em geral por falta de documentação, como vistos work-and-travel para estudantes jovens.

    Frank,

    A minha posição sobre manter a reciprocidade nem é tanto em relãção à porcentagem de brasileiros que recebem visto TURISMO e os que são barrados também para turismo. Eu apenas acho que não é válido argumentar contra a reciprocidade alegando que a exigência de visto brasileiro é burocracia e gastos demais para a cabeça e bolso dos norte-americanos e que por isso eles preferem investir em países que não exijam o visto, pois eu, como brasileira não residente em cidade dotada de consulado/embaixada norte-americana, também acho burocrático e caro demais tirar um visto norte-americano, e por isso, prefiro viajar e gastar meu dinheiro em lugares que não me exigem visto prévio que envolvam trâmites burocráticos e gastos extras. Ou seja, esse argumento muito utilizado contra a reciprocidade é um tanto fraco. Mas essa é a minha humilde opinão, e sei que quase ninguém aqui vai corrobrorar a minha tese, hehehe

Também achei acertada a postura com a Espanha, que aparentemente agora vai resolver a situação. Sobre o visto para americanos, canadenses e outros, concordo com você. O turismo no Brasil ainda é muito mal explorado e o turista americano, na hora que descobre que precisa de visto, escolhe uma outra praia para afogar os dólares dele. É preciso achar uma solução que não feche o Brasil e, ao mesmo tempo, também lute para que o visto de entrada para brasileiros seja facilitado por lá.

    tambem concordo, tenho varios amigos que quando veem preco de passagem aerea para o Brasil, preco de resort, e ainda por cima tem que viajar para ter visto, logo desiste e vai para o Mexico, onde as praias sao tao lindas como no Brasil, a comida e’ excelente e os precos de hoteis sao em conta.

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