O que o Brasil pode aprender com Londres 2012 | Alison McGowan

Estação St. Pancras, Londres

Continuando a série de reflexões sobre o viajante independente por blogueiros convidados (o primeiro texto foi O viajante independente também existe, por Tony Gálvez), publicamos agora a contribuição da incansável Alison McGowan, do Hidden Pousadas Brazil.

Alison é inglesa e está radicada há muitos anos no Brasil; vale a pena ouvir o que ela tem a dizer.

Manda ver, Alison:

–> O efeito dos grandes eventos esportivos na chegada de viajantes independentes:
o que o Brasil pode aprender com a experiência das Olimpíadas de Londres

Texto | Alison McGowan

A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 oferecem uma enorme publicidade espontânea para o Brasil e trarão um aumento significativo ao turismo, junto com a possibilidade de mais pessoas visitarem lugares fora das sedes dos eventos. Tem certeza disso? Viajei para Londres em junho de 2012, um mês antes do começo das Olimpíadas, para ver a realidade frente às mesmas expectativas por lá.

Com 30,7 milhões de visitantes em 2011, a Grã Bretanha é um dos países mais visitados no mundo e a expectativa era enorme de que as Olimpíadas trariam um número ainda maior. 600 a 700 mil pessoas estavam sendo esperadas só para os Jogos e mais ainda para outros eventos culturais antes e depois, como o Jubileu da Rainha.

O que fica claro agora, é que tem mesmo muita gente vindo para as Olimpíadas, mas há também muita gente que está evitando visitar não apenas estes lugares mas também o país em geral por não quererem pagar os preços absurdos de hospedagem e enfrentar o caos já anunciado nos transportes.

A situação específica de Londres está ainda pior porque o LOCOG, o comitê organizador das Olimpíadas, decidiu devolver 25% dos 40.000 quartos que tinha solicitado há 7 anos. O resultado é que a cidade de repente está com muita hospedagem disponível apenas algumas semanas antes dos jogos. A operadora Thomas Cook está oferecendo hoje, na primeira semana de julho de 2012, pacotes para os Jogos com 50% de desconto. O Wall Street Journal estima que não haverá aumento nenhum no número de turistas este ano.

O que aconteceu então? Como sempre, é uma combinação de vários fatores.

1. O preço da hospedagem. Com 40.000 quartos pré-reservados, os hotéis aproveitaram para subir o preço dos quartos cobrando até 4 ou 5 vezes mais. Conseqüentemente, o viajante independente (V.I.) sumiu junto com os estudantes estrangeiros que costumam lotar as escolas de inglês nesta época.

2. A expectativa irreal de que o “eventeiro” (o turista que viaja especificamente para um evento) iria visitar outras partes do país depois dos jogos. Vale lembrar que o eventeiro puro e o V.I. são dois tipos de turistas completamente diferentes. Quem viaja atraído pelo evento normalmente vai apenas para aquele evento e não se importa, pelo menos nesta visita, com as outras atrações e regiões do país.

3. A percepção do V.I.  (adquirida por reportagens nos jornais e na TV) de que Londres teria um transporte caótico durante os Jogos.

4. A falta de qualquer estratégia diferenciada focando o V.I. para o período das Olimpíadas. Além disso, a própria British Airways está com uma campanha que diz “Não viaje durante as Olimpíadas”.

5. A falta de divulgação dos eventos acontecendo em outras partes do país depois das Olimpíadas.

O que deveríamos fazer no Brasil para maximizar a publicidade gerada pelos grandes eventos esportivos? E como poderemos evitar os erros ocorridos em Londres?

• Primeiro, precisamos reconhecer a importância do Viajante Indepente, que compõe 70% dos turistas vindo para o pais, e que não é apenas o mochileiro como muitos costumam pensar. O V.I. possui necessidades e expectativas completamente diferentes do eventeiro cujo interesse é especificamente a Copa do Mundo e/ou as Olimpíadas.

• Segundo, precisamos de objetivos, estratégias e táticas diferenciadas para o V.I., 97% dos quais pesquisam a viagem e hospedagem online, em vez de usar agências de viagem ou operadores de turismo.

• Terceiro, precisamos investir em campanhas publicitárias, portais de turismo e mídia social em inglês e espanhol, e não apenas em português.

• Quarto, precisamos oferecer capacitação em marketing internacional e inglês fundamental a quem tiver interesse em atrair o V.I. estrangeiro.

• Finalmente, precisamos reconhecer a importância de blogueiros como Tony Gálvez, Patricia Ribeiro, entre outros e de portais de viagem como Instituto Eco Brasil e o próprio Hidden Pousadas Brazil. Diferentemente do jornalista que publica um artigo num jornal numa data específica, estas pessoas e sites divulgam o Brasil internacionalmente e proativamente 24 horas por dia, 7 dias da semana, além de informar, influenciar e se comunicar com milhões de V.I.’s diretamente.

A imagem do Brasil no exterior continua sendo uma mistura do negativo (violência e preços muito altos) e positiva (sol, praia, carnaval, futebol e alegria). A publicidade gerada pela Copa do Mundo e as Olimpíadas deve ter um efeito muito bom sobre o número de turistas entrando no país. Vamos ver se conseguimos evitar os erros de Londres, principalmente em relação ao viajante independente, e trabalhar em conjunto para viabilizar esta ação.

Leia também:

O viajante independente também existe, por Tony Gálvez

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9 comentários

Vou para Londres entre 21 e 24 de julho/13, saio de Londres, vou ate Frankfurt e depois São paulo. Como devo ir do hotel até o aeroporto London Gatwick, o vôo é às 09:50 hs ? Estamos em 4 adultos com malas.
Se puder ajudar, o que fazer em Londres? Vou ficar no Sofitel St James Hotel. Obrigado pelas respostas anteriores, foram muito valiosas, alem das informações que já colhi no site do VnV. grato

Precisamos aprender a andar! Eu diria que ainda nem conseguimos engatinhar.
Passei uma semana em Belém agora no final de junho. 1ª viagem à Região Norte. Tive muita dificuldade para organizar essa viagem. Falta de informação. Não desisti porque sou teimosa e insistente. Se não fosse o VnV e os seus derivados não daria nem para começar. A minha maior preocupação era o hotel. Felizmente, dei sorte na escolha que fiz. Mas lá também não foi fácil. Imagine que em Belém a segunda-feira é morta. Quase todas as atrações fecham e muitos restaurantes também.
Transporte coletivo (ônibus) nem pensar. Não sabemos como funciona. Então só táxi. Grande parte da frota é nova e os motoristas de táxis, entusiasmados que são pela sua cidade, passam esse sentimento ao turista nos prestando um excelente serviço.
Belém é uma cidade encantadora, com tantas atrações que não cabem em uma só viagem. Senti que o povo tem uma vocação nata para receber visitantes. Eles valorizam o que são e o que têm. Os interessados em conhecer e desvendar as nuances daquela rica cultura voltam com uma boa bagagem.

Muito bom! E lembrar que o efeito Copa e Olimpíadas terá obviamente uma força mto importante no momento dos eventos, mas o grande impacto será após eles e é ai que devemos focar.É a palavra mais falada do momento depois de sustentabilidade: LEGADO!

Pois é. E não só para as Olimpíadas. O Brasil é totalmente despreparado para o Viajante Independente. A começar por nosso sistema de ônibus que é confuso e complicado, sem a possibilidade de comprar um passe diário ou semanal que permita andar quantas vezes se queira de transporte público.

Até o elogiadíssimo transporte de Curitiba eu, como turista, acho complicado de usar. Na prática, termino usando apenas o ônibus turístico, mas este não abrange todas as atrações da cidade.

Por sinal, tendo estado em Londres a menos de um mês, a impressão que eu tive é que eles ainda não estão preparados para as Olimpíadas e desconfio que não vão estar, quando começarem os jogos.

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