Ilustração | Daniel Kondo
Sempre que eu vou comprar um notebook, o vendedor tenta me empurrar uma garantia estendida. Como você deve ter intuído, eu compro notebooks com uma freqüência fora dos padrões. Dificilmente um notebook dura na minha mão o tempo suficiente para aproveitar uma garantia estendida. Obrigado, não quero. Mas juro que não é muquiranice da minha parte, moço.
Se soubesse o que vem pela frente, computador nenhum ia querer trabalhar comigo. O que para mim é uma viagem, para o pobre é poeira, sacolejo, abre-fecha, liga-desliga, reinicia. Por que diabos esse careca não seleciona as fotos antes de descarregar? E dê-lhe processamento. Não há Intel que dê conta.
Perdi mais um notebook domingo passado – e de repente me vi nostálgico, relembrando os falecidos, feito uma viúva serial. A história do fim dos relacionamentos com meus ex-laptops daria um livro. No mínimo, um guia de viagem.
O primeiro que pifou foi um Mac, em 1998, tão logo desembarcamos na Turquia: o teclado endoidou com a beleza de Istambul e se recusou a funcionar. O segundo – um MacBook daquela série que parecia lancheira de criança – morreu afogado por uma taça de vinho branco. Depois daquilo parei total com Chardonnay (devo essa evolução pessoal a Steve Jobs).
Mudei para PC, mas não tomei jeito. Perdi um laptop numa pane elétrica em Olinda. Um outro foi para o espaço, apagando todo o HD, logo depois de uma visita a Inhotim. Ano passado a tela de um notebook ainda novo empastelou em Lisboa, e quase levou junto dois meses de fotos que eu não tinha becapeado.
O notebook que se foi esta semana não morreu: foi surrupiado por um gatuno em Goiânia, durante um embarque na rodoviária. Foi então que aprendi: perder um laptop nessas circunstâncias é ainda pior do que quando o bichinho simplesmente morre.
Desta vez, à tristeza de comprar um equipamento novo somaram-se as agruras de camelar de site em site para trocar as senhas que estavam gravadas no computador. Senão eu corria o risco de um impostor assumir a minha vida no Facebook. Somos mantidos vivos por instrumentos. Esse Gmail é meu, ninguém tasca, eu criei primeiro!
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