Filtro solar (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração: Daniel Kondo

Quando foi que desaprendemos de ir à praia?

Eu tenho uma teoria. Quem desensinou as pessoas a curtir praia foram os pacotes para o Nordeste.

A coisa funciona assim: te põem num hotel meio mal localizado, sem praia boa por perto. Daí todo dia às 7h30 da manhã passa um ônibus pra te levar a uma praia, duas ou três praias distantes.

Quanto mais longe for a praia, mais valorizada será pelos turistas – que passarão o dia dentro de um ônibus, e terão um tempo mínimo para fazer o que se fazia quando sabíamos ir à praia: tomar sol, caminhar, tomar umas e outras, cair n’água, desacelerar.

Ninguém parece se importar. Mais de meia hora numa praia é um desperdício: tiradas as fotos para o Facebook, é hora de partir pra próxima. Não visitar todas as praias é impensável – vai que justo aquela que eu perdi seja a melhor?

Daí que virou absolutamente corriqueiro a pessoa perder um dia de sua vida em Fernando de Noronha camelando de bugue de praia em praia, sem aproveitar nenhuma. É o “ilha tour”, uma espécie de city-tour de praia. As mesmas pessoas que reclamam que tudo é caro em Noronha desembolsam com prazer uma grana preta pelo privilégio de passar um dia inteiro na ilha sem pegar praia direito.

A coisa fica ainda mais complicada quando se tenta fazer isso por conta própria. Há quem planeje com minúcias como visitar quatro ou cinco praias em Florianópolis num mesmo dia – a receita mais infalível para passar as férias internado num engarrafamento-monstro.

O pior é que o litoral inteiro do Brasil está totalmente mapeado. Você já pode sair de casa sabendo quais são as praias de mar calminho, de ondas, com estrutura, selvagens, para azarar.

Mas em vez de ir direto naquele pedacinho de areia e água salgada que melhor responde à pergunta “Qual é a sua praia?”, não: as pessoas fazem questão de fazer sua própria pesquisa. E quando encontram a sua praia, não têm tempo para curtir como deveriam (nem para voltar todas as vezes que poderiam).

Enquanto isso, eu, que adoraria poder ficar um dia inteiro numa praia só, passo o dia de praia em praia – fazendo o levantamento que esse povo não vai aproveitar.

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42 comentários

2 praias em um dia só, só se for aquelas praias-irmãs, coladinhas ao lado e que dá pra chegar numa caminhada.

Fora isso, é desperdício de tempo e de praia.

Abs.

Perfeito, comandante! Na minha última ida a praia, fiquei sem fazer naaaaaada por horas. Sem remorso! Parece que bate um sentimento de estar desperdiçando as férias no povo, cruzes!

Olá, vejo que vc está em Alagoas…por acaso já passou por Maragogi ou Japaratinga? Sao belas. Estive lá neste fim de semana.

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