Ilustração | Daniel Kondo
Tenho ficado tanto tempo fora de São Paulo que, da penúltima vez que voltei, o porteiro novo foi conferir meu nome na lista de moradores antes de me deixar subir pelo elevador. Na primeira saída de carro, um outro porteiro quase não me abriu a porta da garagem.
Estive de volta rapidinho no início da semana, e agora me tiraram a garagem de vez. Não foi usucapião, não. Eu alugava a vaga de três senhoras que não tinham carro. Elas venderam o apartamento, a vaga foi junto.
Foi em bora hora. Agora meu carro dorme no estacionamento de um hotel na quadra em frente. De noite, a saída para a minha rua é fechada, o que torna necessário contornar o quarteirão para retirar o possante. Pronto. Era o empurrãozinho que faltava para eu sair de táxi à noite. Estou feliz. É o fim da minha síndrome de pânico de blitz de lei seca.
É claro que eu tinha uma explicação plausível para dirigir depois de jantar com vinho ou caipiroska (e nem estou falando de um hábito de trinta anos). Praticamente só vou a restaurantes nas redondezas, a 5 ou 10 minutos de casa, por ruas onde é impossível andar a mais de 40 por hora. Nunca vi blitz nesses caminhos, e nunca me senti pondo em risco a vida de ninguém.
O endurecimento da legislação -- agora com dosimetria de penas para mensaleiro nenhum botar defeito -- finalmente me fez enxergar os fatos com sobriedade. Se dirigir depois de beber já não fosse uma imbecilidade em si, no meu caso usar o carro não era sequer econômico ou prático. Os restaurantes que freqüento ficam a 10 reais de táxi da minha casa (o manobrista custa R$ 20). Na saída, táxis vazios aparecem muito mais rápido do que o meu carro.
É uma estratégia que vale para todo mundo que não dispõe de um motorista da rodada: explore os restaurantes das redondezas, para onde o táxi não custe mais do que o valet. É um bom começo.
Lembra quando você achava o cinto de segurança a coisa mais incômoda do mundo? Eu lembro. Hoje me sentiria pelado se não estivesse afivelado.
A propósito, recebi hoje minha primeira multa por dirigir falando ao celular. Qual precisa ser a dosimetria para eu aprender?
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