Viagens com papai: aonde ele te levava? 1

Viagens com papai: aonde ele te levava?

Garopaba

| Garopaba, Santa Catarina |

Sou de uma geração que não conheceu resorts quando criança. No meu tempo a Disney era um sonho exclusivamente infantil — os pais economizavam para mandar os filhos em excursão, não iam junto. O cardápio de destinos de férias não era baseado no anúncio de domingo da CVC, mas nas cidades onde houvesse parentes. Isso, claro, até a sua família conseguir realizar o sonho da casa de praia própria, a partir do quê todas as férias já tinham destino certo. Viagem de avião era uma ocasião: uma comitiva levava e outra buscava qualquer pessoa que fosse voar. (Ah, sim: e ver avião pousar no aeroporto era programa para levar crianças no fim de semana.)

Por todas essas razões, não tenho muitas lembranças de viagem com meu pai (a partir de agora denominado “o Pai”). Mas posso creditar a ele a inoculação do vírus viajante na minha corrente sangüínea. O Pai nasceu em Sergipe e foi casar com a minha mãe (doravante “a Mãe”) em Porto Alegre. Por trabalhar no Banco do Brasil e por ser Bicho Carpinteiro no horóscopo chinês, o Pai fez a Mãe (e os cinco filhos que viriam entre 1953 e 1971) se mudar 16 vezes de cidade. Eu sou da segunda geração dos filhos, o sanduíche (dois pra lá, dois pra cá) e peguei quatro mudanças, entre os 3 e os 12 anos: de Porto Alegre para Aracaju, de Aracaju para o Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro para Brasília e de Brasília de volta a Porto Alegre. Tenho certeza de que foi essa perambulância que me fez assim peripatético :mrgreen:

Me lembro de longas (e calorentas) viagens de ônibus a Aracaju. Mas me lembro também quando eu e minha maninha Beth, 6 e 5 anos, viajamos sozinhos de Electra do Rio a Porto Alegre para o casamento do meu tio (o resto da família foi no nosso Opala com banco inteiriço na frente).

Teve apenas uma viagem que eu pedi pra fazer e ele nunca me atendeu: ir ao Rio Quente, quando a gente morava em Brasília.

Em 71, quando voltamos ao Sul, pedi para ir sozinho de ônibus (36 horas pela Real Expresso; o ônibus quebrou em Uberlândia e precisou ser substituído, atrasando mais 6 horas, e eu sem conseguir avisar a família). Foi minha primeira viagem independente, aos 12 anos 😀

Em Porto Alegre o Pai se aposentou, e o apartamento funcional de Brasília virou uma casa em Garopaba, Santa Catarina, na época em que a praia tinha uma igrejinha muito mais bonita do que essa que aparece na foto (aumentaram a torre, foi um crime). Mas lá pelos 15 anos troquei os longos verões catarinenses (quem passava por média no meu colégio tinha férias de 20 de novembro a 1º de março) por cursos intensivos de verão em Porto Alegre (talvez venha daí minha queda por cidade grande).

Com os filhos crescidos, o Pai e a Mãe começaram a fazer viagens longas. De dois em dois anos eles pegavam uma excursão com a Abreu. A mais esfuziante foi uma volta ao mundo, em que a Mãe voltou tão confusa que não distinguia Manila de Los Angeles. A última viagem deles foi a mais maluca: o Pai alugou um carro e cruzou a Europa em várias direções, só na adrenalina de poder correr nas auto-estradas. Não sei se a Mãe e a minha tia-avó Vó Ana (tá viva ainda! quase 100 anos!) acharam tão divertido quanto ele.

Cada viagem, claro, produzia uma quantidade ilimitada de slides, que eram baratinhos para revelar e requeriam uma sessão especial para ser vistos, no escurinho da sala de estar.

Quando é que eu poderia imaginar que aquelas sessões de slides resumiriam a minha vida dali a 35, 40 anos?

E você? Que viagens lembra de ter feito com o seu pai? Que influência ele teve no seu perfil de viajante? Conta pra gente!

Feliz dia dos pais para todos os pais e todos os filhos!

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39 comentários

Adorei a história! Minha primeira viagem foi com +/1 mês de vida, de volta para Manaus, onde meus pais trabalhavam na época. Minha mãe veio pra São Paulo no final da gravidez pq lá os hospitais eram péssimos (início dos anos 80). Mudamos para Campinas uns dias antes de completar 1 ano, viajei com meus avós enquanto meus pais cuidavam da mudança. Fui algumas vezes visitar meus padrinhos em Curitiba quando era criança, mas sem pais. Com pais mesmo, eram só as viagens anuais para Ubatuba – 1 semana sempre no mesmo hotel, que não lembro o nome. E claro, para o sítio do meu avô em Socorro (que ainda visito bastante até hoje). A primeira viagem internacional foi aos 12 anos, uma roadtrip pela Califórnia + Las Vegas com uma família de amigos dos meus pais – em uma época que viagem internacional ainda era super incomum. A partir dos 15 anos fui esperta, sempre viajava 1 vez por ano com amigos e 1 vez com meus pais. Não dei uma de adolescente rebelde que não quer ficar junto dos pais. Sempre curti muito nossas viagens, sempre acabavam sendo as melhores do ano pq o orçamento é maior hehehe Ainda mais que eu que escolho o destino e faço a programação. Nunca consegui fazer viagens grandes com amigos, só com família mesmo – pq orçamento, férias, desejos, etc nunca batem!

Sou temporão e não tenho muito registro de viagens com meu pai. No máximo íamos de carro de Campos dos Goytacazes, onde nasci e morei até os 16 anos (eca!), ao Rio de Janeiro, numa viagem que durava o dia inteiro, tinha a parada obrigatória no posto Esso de Araruama (o que tinha um tigre enorme!) e uma espera de mais ou menos duas horas até podermos embarcar na balsa que fazia a travessia dos carros pela baía da Guanabara.

Fora isso, nossos verões e invernos eram passados em Atafona (que sofrimento!!)uma praia completamente sem graça, sinônimo de paraíso para meu pai. As vezes conseguia escapar para BH, onde minha irmã morava, o q melhorava muito as férias (lembro de frequentar o clube Cruzeiro e ficava espantado em ver que lá havia 9 piscinas!!!).

Com certeza essa carência de viagens me motivou a ser beeeem mais curioso com o nosso planeta, buscando QUALQUER alternativa para praias amarronzadas e metrópoles interioranas (adoro BH, mas tem outra definição para a cidade?).

    JB, o Tigre da Esso te marcou, igual para mim nas viagens que eu ia para São Paulo com minha avó e meu tio/padrinho quando era pequena. Graças a meu pai e meu padrinho, adoro uma estrada…

Puxa, essa é uma pergunta interessante, Eu não me lembro de ter feito nenhuma viagem interessante com o meu pai. Sim, quando eu era criança, as mais interessantes foram nas redondezas de onde morávamos. Viajemos de carro e meu pai jamais foi um interessado em viagens longas. Em contra partida, os meus filhos não poderão reclamar. Sempre que possível, estamos também pegando a estrada com eles, aqui nos Estados Unidos! Muitas histórias virão pela frente, prometo!

Eu acho que já nasci com o gene da viagem, pelo simples fato de os meus pais terem sido imigrantes. Para quem ainda não sabe esta história: meu pai, Polonês, fugiu do gueto, durante a II Guerra, via Pérsia e Japão, indo parar na China, onde conheceu e casou com minha mãe. Minha mãe, de descendência Russa, cujos pais fugiram da Rússia durante a revolução de 1917 e foram morar em Harbin, China, onde ela nasceu.
Instaurado o comunismo da China, fugiram, como apátridas para o Brasil. Passados os primeiros tempos aqui, que foram difíceis, começaram a viajar e nunca mais pararam. E nem eu.
Minha primeira viagem, sozinha com meu pai, foi para o Rio, a bordo de um Electra. Lá naquela salinha lá atrás, que ele dizia ter “alugado” só para nós.
Seguiram-se várias viagens, com ou sem minha mãe, pela América Latina ( #vibana desde cedo, eu… 🙂 ) e algumas pelo Brasil.

Lendo o post me senti praticamente retratada… Moramos em muitas cidades, pois meu pai era funcionário público e vivia sendo transferido de lá pra cá. Viagens com ele eram sempre as mesmas: para a casa dos avós paternos, em Socorro, para a dos avós maternos, em Amparo, e para as duas praias que ele achava desertas o suficiente (na época) pra gente passar uns dias em julho e/ou em janeiro: Peruíbe e Iguape. Sempre de carro, eu e meus 2 irmãos (na época, agora somos 4) brigando no banco de trás do DKW ou da Variant.
E depois, como o Riq contou, tinha a famosa sessão dos slides na sala escurinha. Tenho quilos de slides, ainda hoje. E é neles que eu encontro a história das minhas primeiras viagens!

Ah! O meu Super-Herói-Pai me ensinou tudo o que aprendi sobre viajar e quase que tudo sobre a vida!
Hoje se corro o mundo é por causa dele!

Eu também não tenho muitas lembranças, já que quase não viajávamos. O que eu me lembro realmente era que passávamos as férias inteiras de verão em um apartamento alugado por temporada em Teresópolis, já que várias pessoas da família tinham casa ou apartamento nesta cidade da serra fluminense e como nós não tínhamos, a saída era alugar apartamento por 2 meses no verão. Eu curtia muito, pois havia os primos e a cidade ficava repleta de jovens nesta época.

Filha de pais separados os passeios com meu Pai eram sempre muito esperados , nosso destino era certo ou casa da avó no interior , que sempre nos esperava com bolinhos de chuva e café com leite a qualquer hora da madrugada pois sempre chegávamos na madrugada , ou uma casa “surpresa ” na praia alugada sem as facilidades da internet …Mas o que marcou é que o carro Sempre quebrava … Kkkkkk e passávamos horas brincando , enquanto meu pai conserva !!!!

Acampamento selvagem no canyon Fortaleza, Aparados da Serra, quando ninguém mais conhecia a região. E em praias desertas (totalmente) de Florianópolis. Isso existiu um dia!
Meu pai carregava o carro com TUDO que precisávamos e ficávamos um mês isolados do mundo, o lugar todo só pra nós. Café com leite condensado, pois nao existia leite longa vida, banho de rio, mar ou de água da chuva, pois a água que tinha era pra beber e cozinhar… E a cada ano ele incrementava a estrutura, com reboque, banheiro ecológico, geladeira, tanque de água…
O resultado disso? Ótimas lembranças de liberdade, prazer pela vida ao ar livre e viagens a lugares remotos, e facilidade de adaptação em viagens independente das condições… Feliz dia dos pais!!!

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