Instituto Ricardo Brennand

O que significam as listas de ‘melhores do mundo’ do TripAdvisor

Instituto Ricardo Brennand

Escrevi sobre isso na minha coluna desta semana no Estadão e acho que vale a pena repercutir aqui.

Se a internet fosse um shopping center, o TripAdvisor seria uma de suas principais âncoras – talvez não com o mesmo espaço de Google, Facebook ou YouTube, mas com uma loja talvez maior que a do Twitter ou do Instagram, e pelo menos equivalente à da Amazon. A internet do crowdsourcing encontrou no TripAdvisor a incubadora perfeita para evoluir e moldar a internet de redes sociais superpostas que temos hoje.

E lógico (e divertido!) que o TripAdvisor produza listas, e é compreensível que anuncie essas listas como a expressão do “melhor” em qualquer categoria. Também é legítimo que os destinos ou estabelecimentos classificados aproveitem para repercutir a informação de que estão entre os “melhores” da cidade, do país ou do mundo no seu departamento.

O que pega mal é que toda a imprensa compre a idéia de que se trata de uma lista de “melhores”, e que tenham sido “escolhidos” pelo TripAdvisor, como se fosse uma eleição.

A cada lista que sai, aparecem as perguntas. Mas o Sancho é mesmo a melhor praia do mundo? Escuta, é verdade que o Instituto Ricardo Brennand (16º no ranking) é melhor que o Inhotim (23º)? Peralá: sério que o Instituto Ricardo Brennand (16º) é melhor que o Louvre (17º)?

Sempre é bom lembrar: nenhum ranking do TripAdvisor (nem mesmo aquele que classifica os hotéis, restaurantes ou atrações de um lugar) é sobre o melhor em termos absolutos. O que o TripAdvisor mede é o grau de satisfação do usuário – um conceito muito mais complexo e, quando bem entendido, muito mais útil.

O nível de satisfação medido pelo TripAdvisor não reflete a qualidade absoluta — mas a qualidade percebida, influenciada pela expectativa prévia e pelo preço pago.

Um estabelecimento de menor qualidade absoluta que tenha surpreendido positivamente seus clientes acaba conseguindo um ranking melhor que outro, de maior qualidade absoluta, que não tenha conseguido entregar tudo o que os seus clientes imaginavam. Nada garante que os públicos que tenham julgado os dois concorrentes sejam parecidos, tenham o mesmo nível de exigência ou valorizem os mesmos itens.

As notas também podem ser influenciadas artificialmente – tanto de maneira legal, quando os estabelecimentos estimulam seus clientes a postarem resenhas (o que é bastante saudável), quanto de maneira suja, com resenhas de usuários falsos (uma prática que o TripAdvisor se empenha em coibir). Na vida real, como muitos que aproveitam o tesouro de informações do TripAdvisor para planejar suas viagens já sabem, não dá para se contentar com o ranking: é preciso ler e interpretar as resenhas.

Ou seja: pelo bem da informação, essas (ótimas e divertidas) listas tipo “os melhores segundo o TripAdvisor” deveriam ser noticiadas como “os mais bem avaliados do mundo pelos usuários do TripAdvisor”.

Combinados?

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32 comentários

Eu sempre faço minhas viagens como base também pelo TA. Sempre vejo hotéis e confronto diversas informações. Procuro ver os detalhes que alguns leitores colocam. Sempre peguei bons hotéis ou então com realidade bem semelhante o que estava no TA. Os rankings colocados pelo site, acho que dá para nós vermos o quanto de coisa boa e bonita há pelo nosso Brasil e pelo mundo. Mas o TA como direcionamento de hospedagem e mais algumas coisas, eu acho excelente.

Verdade é muito legal uma lista que reflete a sensação do usuário e eu mesmo sempre faço minhas avaliações no Trip. Belo post Parabéns

Eu geralmente uso o TripAdvisor mais para buscar informações sobre hotéis e restaurantes. No caso dos hotéis, busco detalhes que talvez não fiquem aparentes nas fotos e informações que aparecem no Booking ou no site do próprio hotel. Às vezes o hotel tem boa localização, bom preço, ser de boa qualidade, etc, mas pode ser que esteja passando por alguma reforma que atrapalhe um pouco a experiência. Também busco fotos reais dos hóspedes, porque as fotos que aparecem no Booking muitas vezes passam por tratamento de imagens, etc.

É claro que há a necessidade de se filtrar essas informações. Eu acho que inclusive os cometários postados vão além da mera (in)satisfação do hóspede/cliente. Muitas vezes uma crítica do tipo “horrible” tem a ver com a visão do mundo da pessoa: já me aconteceu de eu ficar em hotéis com quarto de tamanho bem razoável, mas que hóspedes norte-americanos pensam ser de tamanho minúsculo. Muitas vezes pode acontecer também falsa resenha negativa, como por exemplo, algum “desafeto” postar alguma foto bem desabonadora, mas sem qualquer indicação de que a foto seja realmente do hotel ou restaurante.

Quanto às listas e rankings de atrações, museus, praias, lugares, etc, eu não levo muito em consideração, até porque eu mesma já vi as notas dadas por pessoas conhecidas que são totalmente discrepantes. Por exemplo, duas amigas com a mesma bagagem cultural, etc, atribuírem notas “ruim” e “excelente” para o mesmo museu.

Aprendi a interpretar as avaliações do Trip Advisor depois de cair em uma roubada em Buenos Aires chamada ” The Argentine Experience ” (caro, superavaliado, case de marketing graças aos patrocinios aos blogueiros brasileiros da cidade ). Hoje procuro checar se as avaliações não são feitas por turistas deslumbrados de primeira viagem e também confronto com opiniões nas páginas do TA de outros países. Dá muito mais certo depurar assim…

Ricardo Freire e suas análises, sempre com muito bom senso. Acho o TripAdvisor uma ótima ferramenta para planejar viagens, uma bela ajuda na escolha de hotéis, restaurantes, mas claro que sempre devemos filtrar as informações. Isto vale não só para o TA, mas para qualquer site ou blog de viagens.
Parabéns pela matéria.

A parte mais relevante do Tripadvisor (e dos bookings.com, hoteis.com, etc) é justamente a caixa de comentários. Não dá simplesmente pra aceitar a posição x de y de tal lugar/atração/hotel/restaurante. Tem que dar uma lida crítica nos reviews até pra ver se o tal bendito lugar analisado tem a ver com seu próprio perfil.

ótima coluna riq
abs

Eu amo essas listinhas mais ate pra conhecer lugares, hoteis e atrações que ainda não tinha ouvido falar. Mas é lógico que, assim como as resenhas publicadas, não devem ser encaradas de maneira absoluta. São muitas as complexidades que envolvem a formação das listagens.

Mesmo porque quem avalia o Instituto Ricardo Brennand pode sequer conhecer o Louvre, ou vice-versa.

    Nao entendi o que quis dizer com seu comentário. Está dizendo que são públicos diferentes por que motivo? Conheço os 2 e evidente que o Louvre é um dos maiores museus do mundo, com obras de valor incalculável, todavia, não tira o brilhantismo do IRB, pois a visita é muito enriquecedora é bonita.

    Leonardo, infelizmente (ainda) não conheço nenhum dos dois mas acho que o que a Yara quis dizer não tem relação ao tipo de público e sim ao fato de que nem todo mundo que opinou sobre um ou outro já esteve nos dois.

Pois é. E por isso às vezes a gente acaba quebrando a cara com algum estabelecimento ou local bem rankeado no TripAdvisor. Aconteceu comigo em Cusco, onde fiquei num B&B que está sempre no topo das acomodações no TripAdvisor, mas que é extremamente simplório. Como há muitos mochileiros que escolhem aquele destino, qualquer coisa decente e barata recebe rasgados elogios….

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