Miami

Miami: 10 passeios culturais

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E por essa você não esperava: Miami também é cultura. Aqui vão 10 sugestões de passeio que passam longe de shoppings e outlets.

(Alguns, porém, estão perto da praia.)

1 | Walking Tour da Miami Design Preservation League

South Beach

Nos anos 70, o coração art-déco de Miami Beach era conhecido como “a sala de espera de Deus”. Seus predinhos baixos, habitados por velhinhos que viviam dos parcos rendimentos guardados para a aposentadoria, estavam mais decrépitos que seus ocupantes. O mercado imobiliário estava de olho na área, para ali fincar arranha-céus com vista para o mar. Para tentar evitar que o bairro déco viesse abaixo foi fundada em 1976 a Miami Design Preservation League. Deu resultado: em 1979 o bairro foi incluído no Registro Nacional de Lugares Históricos, primeiro passo para que os predinhos fossem preservados.

Todos os dias, às 10h30 da manhã (e às quintas também às 18h30) a própria Liga de Preservação promove uma caminhada guiada pelo bairro. Em pouco menos de duas horas, você fica por dentro da história de Miami Beach e aprende a reconhecer os traços básicos da versão local do estilo art-déco.

South Beach

Resumindo rapidinho: Miami Beach foi fundada em 1915, pouco depois de inaugurada a primeira ponte unindo a ilha ao continente. Plantações de coco e abacate deram lugar a campos de golfe e aos primeiros hotéis, pensados para oferecer uma alternativa aos rigores do inverno a americanos ricos do norte. “Em Miami Beach agora está 25ºC”, anunciava (em graus Farenheit, claro) um outdoor da Quinta Avenida num gélido janeiro nova-iorquino. Dois acontecimentos deram fim a essa fase: o furacão devastador de 1927 e o crack da bolsa de 1929.

Nos anos 30, porém, as medidas de estímulo à economia do New Deal do presidente Roosevelt introduziram férias pagas (de uma semana por ano!), uma novidade para os americanos. Miami Beach acabou reconstruída pensando não mais nos milionários, mas na classe média. O estilo art-déco, apresentado ao mundo na Exposição Mundial de Paris de 1925, se revelou ideal para a construção de hotéis com baixo custo. O gabarito baixo evitava também gasto com elevador. E assim, com um boom de construções que durou mais de uma década, Miami Beach ganhou o maior conjunto arquitetônico art-déco do planeta.

South Beach

Depois da Segunda Guerra, a prosperidade dos anos 50 levou ao desenvolvimento de áreas acima da rua 15, com hotéis grandões em terrenos pé na areia. Aos poucos, o miolinho original de South Beach foi entrando em decadência — e carregando a cidade inteira, que nos anos 70 se tornou um balneário barato e fora de moda.

A situação só veio a mudar, e radicalmente, a partir da campanha de preservação de South Beach. Entre os anos 80 e 90, Gianni Versace (que comprou um palacete italianado na Ocean Drive), Calvin Klein (que fotografou um anúncio do perfume Obsession no hotel Breakwater), Miami Vice (cuja equipe de produção fez do bar do hotel Cardozo, hoje propriedade de Gloria Estefán, seu ponto de encontro), agências de modelos (Elite, Ford, Wilhelmina) e gays em geral tornaram South Beach ultra cool. Chris Blackwell, fundador da Island Records, que já tinha no currículo ter posto o reggae (e Grace Jones) nas paradas mundiais, transformou predinhos caindo aos pedaços em hotéis-butique, que reinariam sem concorrência até a renovação do Delano, à altura da rua 16, que marcou o início da recuperação dos hotelões pé na areia, o que viria a ocasionar nova decadência para os hoteizinhos baixos do miolinho original.

South Beach

Hoje a área entre as ruas 5 e 15 está brega de novo, povoada por bares de música estridente que servem drinks gigantescos e açucarados. À hora em que o tour acontece, no entanto, está tudo ainda calmo: perfeito para caçar as diferenças (e semelhanças) entre platibandas, eiras, beiras, peitoris, sancas e marquises que caracterizam as diversas fases do art-déco de Miami Beach — um senhor patrimônio que, bagaceirice dos bares à parte, está superpreservado. É um passeio ~histórico~ da melhor qualidade.


Walking Tour da Miami Design Preservation League

  • Todos os dias às 10h30 (5ª às 10h30 e 18h30). Saída da lojinha/museu da Liga, no calçadão da praia, em frente à rua 10. Ingressos a US$ 25 (US$ 20 para maiores de 65). Dá para comprar na hora (chegue com 20 minutos de antecedência). Os tours são conduzidos em inglês. Os ingressos dão direito a visitar o museu da Liga. Site: aqui.

2 | Wynwood Arts District

Wynwood

Uma cidade que já tem o maior acervo de arquitetura art-déco do mundo precisa de alguma outra marca registrada visual? Precisar, não precisa. Mas Miami inventou outra.

Wynwood é um bairro do continente, imediatamente ao norte de Downtown, cujos galpões baratos começaram a atrair galeristas no comecinho dos anos 2000. Em 2009, um deles teve a idéia de criar Wynwood Walls, uma galeria de street art, na NW 2nd Ave. entre as ruas NW 25th e NW 26th.

Wynwood

Foi a senha para que o graffiti se espalhasse pelas paredes externas dos galpões das quadras vizinhas. Grafiteiros top do mundo inteiro foram convidados a contribuir com suas obras (nossos Osgemeos e Kobra estão entre eles). E Wynwood virou o segundo museu a céu aberto da cidade.

Wynwood

Não faltarão críticos para desqualificar os murais do bairro. Mas para um turista leigo (presente!), é um passeio fascinante e repleto de possibilidades instagrâmicas 🙂

Wynwood

Qualquer dia de sol é interessante para passear por lá. O segundo sábado do mês é o dia mais movimentado, com todas as galerias abertas ao público e food trucks funcionando das 18h às 22h no terreno baldio da esquina da NW 2nd Ave. com a NW 23th St.

Mas você não vai passar nem fome nem sede se for em outros dias: o Panther Coffee (2390 NW 2nd Ave., entre NW 23th e NW 24th), o Coyo Taco (2300 NW 2nd Ave., entre NW 23th e NW 24th) e o Wynwood Kitchen and Bar (2550 NW 2nd Ave., entre NW 25th e NW 26th) fazem ótimos pit stops gastronômicos.


Wynwood Arts District

  • NW 2nd Ave., entre ruas NW 22th e NW 27th, suas transversais e paralelas. Site: aqui.

3 | PAMM (Pérez Art Museum Miami)

PAMM

O museu está em sua terceira encarnação. Começou em 1984 como Centro de Belas Artes; em 1996, tornou-se o Museu de Arte de Miami. O último batismo aconteceu em 2013, quando se transferiu para a sede atual, no Biscayne Boulevard com vista para o Porto de Miami. O nome homenageia um benemérito, Jorge M. Pérez, que contribuiu com 35 milhões de dólares para que o prédio fosse terminado (o terreno pertencia à prefeitura de Miami, que também entrou com 100 milhões de verdinhas na parceria público-privada).

PAMM

Em seu novo endereço, o museu ganhou um perfil mais alto, pela qualidade da arquitetura do novo prédio e também por incorporar um sobrenome latino ao seu nome oficial — mostrando que nem só de Guggenheims, Gettys e Whitneys vive a benemerência cultural americana.

Ao contrário do que se pode imaginar, o acervo não inclui apenas artistas latino-americanos: seu foco é arte contemporânea, mas as obras provêm de artistas das três Américas, da Europa e da África. A coleção de Pérez (110 peças) doada ao museu, porém, é basicamente latina.

PAMM

O museu tem um ótimo restaurante, o Verde (reserve aqui). É um passeio gostoso de fazer de bicicleta desde Miami Beach. Pode ser combinado com um pulinho em Wynwood. Em 2016, o museu vai ganhar um vizinho (que deveria ter ficado pronto este ano): o Patricia and Philip Frost Science Museum, que está de mudança para um prédio retrô-futurista ao lado. Com dois museus, o lugar onde estão vai fazer jus ao seu nome oficial: Museum Park.


PAMM – Pérez Art Museum Miami

  • 1103 Biscayne Blvd. Fecha 2ª. Abre de 3ª a domingo das 10h às 18h (5ª até as 21h). Ingresso: US$ 16 (menores de 18, maiores de 62 e estudantes: US$ 12). Dá para ir de Trolley e de MetroMover. Site: aqui.

4 | Museu Vizcaya

Vizcaya

Um pedacinho de Veneza à beira da baía Biscayne: esta foi a idéia do milionário James Deering ao construir sua Villa Vizcaya na primeira década do século passado.

Vizcaya

O encanto do lugar está em ser tão absurdo e despropositado. O que na verdade se visita não é a réplica de uma villa veneziana e de seus jardins no mangue subtropical de Miami — mas a cabeça de um ricaço que não sabe o que fazer com seu dinheiro. Um paralelo quase adequado é o museu Cloisters, de Nova York, composto de partes transplantadas de mosteiros e castelos da Europa (a diferença é que a Villa Vizcaya foi inteiramente concebida localmente).

Vizcaya

O mais engraçado de tudo é que, se você visitou o Venetian em Las Vegas, vai achar o Museu Vizcaya bastante autêntico. This is America, pessoal.


Viscaya Museum & Gardens

  • 3251 S Miami Ave., Coconut Grove. Fecha 3ª. Abre de 4ª a 2ª das 9h30 às 16h30. Não funciona em Thanksgiving e em 25 de dezembro. Ingresso: US$ 18 (US$ 12 para maiores de 62 anos, US$ 6 para crianças entre 6 e 12 anos; grátis até 5 anos). Dá para ir de Trolley e MetroRail. Site: aqui.

5 | Bonnet House (Fort Lauderdale)

Bonnet House

Outra casa construída para um milionário passar o inverno — mas é o oposto absoluto da Villa Vizcaya. O terreno foi dado de presente por Hugh Taylor Birch (nome de várias ruas em Fort Lauderdale) para sua filha Helen (uma musicista) e seu genro Frederic Bartlett (um pintor e escultor), como presente de casamento.

Bonnet House

Os dois construíram, nos anos 20, uma casa com jeitão de plantation house da Louisiana, só mais rústica, integrada à natureza da Flórida. A morte prematura de Helen quase condeonou a casa ao abandono, mas nos anos 30 Frederic se casou com Evelyn “Lilly” Fortune, que tinha por hobby a jardinagem, e a casa se tornou o centro de suas vidas.

Bonnet House

Todos os objetos e ornamentos da casa são de autoria de Frederic — e somados aos jardins de Lilly compõem um conjunto admirável. Ao contrário da Villa Vizcaya, porém, o que se sobressai na Bonnet House é a ausência de luxo e ostentação.


Bonnet House

  • 900 North Birch Rd, Fort Lauderdale. Tel.: 954/563-5393. Fecha 2ª. Os jardins abrem de 3ª a domingo das 9h às 16h. A visita à casa é exclusivamente guiada. Acontece de 3ª a domingo às 9h30, 10h30, 11h30, 12h30, 13h30, 14h30 e 15h30. Ingresso casa + jardim: US$ 20 (só jardim: US$ 10). Site: aqui.

6 | Museu Wolfsonian

Wolfsonian

Este museuzinho adorável fica no coração de South Beach — na Washington entre ruas 10 e 11. Seu acervo é baseado na coleção de Mitchel Wolfson Jr., focada em objetos relacionado ao design industrial, às viagens, às telecomunicações, ao art-nouveau e à propaganda política.

Ou seja: não pense em mestres da pintura ou da escultura. O barato do Wolfsonian é o contraste entre peças que registram a evolução do consumismo americano versus a exaltação do homem socialista. E tudo faz ainda mais sentido em Miami.

Desde 2007, o Wolfsonian é um departamento da FIU, Florida International University. Uma visita a seu acervo não consome mais do que duas horas e é um grande programa pós-praia 🙂


Wolfsonian Museum

  • 1001 Washington Ave., tel. 305/531.1001. Fecha 4ª. Abre de 5ª a 3ª de 10h às 18h (domingo a partir das 12h; 5ª e 6ª até as 21h). Ingresso: US$ 7 (maiores de 62 anos e crianças entre 6 e 12 anos: US$ 5; crianças até 5 anos: grátis; 6ª entre 18h e 21h: grátis). Site: aqui.

7 | bass museum

Bass

Constituído a partir da coleção de John e Johanna Bass, o bass museum of art (assim, em minúsculas) traz a arte contemporânea quase que para a beira da praia: está bem num trecho em que a Collins não tem prédios para tapar a vista do mar.

Bass

Instalado numa antiga Biblioteca Pública (e com um anexo moderno), o forte do bass são as exposições temporárias, de curdoria sempre instigante. Atualmente as galerias internas estão fechadas para uma grande renovação — mas o parque em frente continua expondo artistas que valem a visita.


bass museum of art

  • 2100 Collins Ave., tel. 305/673-7530. As galerias internas reabrem no 2º semestre de 2015. Quando em funcionamento, fecha 2ª e 3ª; abre de 4ª a domingo das 12h às 17h. Ingresso: US$ 8. Site: aqui.

8 | Fairchild Tropical Botanical Garden

Fairchild Tropical Garden

A apenas 250 km ao norte do Trópico de Câncer, Miami e o sul da Flórida são “os trópicos” dos Estados Unidos. Por isso a cidade pode se dar ao luxo de cultivar um jardim botânico tropical sem necessidade de estufas.

Qual seria o atrativo do Fairchild Garden para nós, que viemos dos trópicos de verdade e estamos mais do que acostumados a bromélias e orquídeas?

Fairchild

Eu gostei de ter visitado por dois motivos. Primeiro, porque o lugar dá para ser visitado como um parque. E depois, porque o caminho para lá é belíssimo — você passa pelo trecho mais bonito de Coral Gables, onde as ruas e as casas conservam uma densa vegetação. Esse encontro do landscaping americano com a vegetação dos trópicos é ainda mais bonito do que o jardim botânico.


Fairchild Tropical Botanical Garden

  • 10901 Old Cutler Rd, Coral Gables, tel. 305/667-1651. Abre diariamente das 7h30 às 16h30. Ingresso: US$ 25 (maiores de 65 anos, US$ 18; entre 6 e 17 anos, US$ 12; até 5 anos, grátis). Site: aqui.

9 | New World Center

Soundscape Cinema Series

Miami também tem seu prédio by Frank Gehry: o New World Center foi projetado para ser a sede da New World Symphony Orchestra. Arquitetonicamente, o aspecto mais importante talvez seja o de não parecer uma obra de Frank Gehry. Falam maravilhas da acústica.

Quem não consegue ingressos para um dos concertos pode aproveitar o Miami SoundScape Cinema Series, com projeções de filmes clássicos na fachada, que ocorrem entre outubro e maio. É grátis, você pode levar sua cadeirinha ou jogar uma canga no gramado.


New World Center

  • 500 17th St (Washington entre 17 e 18), tel.: 305/673-3330. Programação de concertos aqui. Programação do SoundScape Cinema Series aqui.

10 | De airboat nas Everglades

Como assim, passeio cultural? OK, tô apelando para completar uma lista de 10. Mas veja bem: se você tem mais de 40 anos e se lembra de Ben, o Urso Amigo, pode dizer que o airboat — basicamente, uma jangada movida a um ventilador gigante — é sim um item de cultura… pop. (Os mais jovens certamente terão visto esses bólidos em Dexter).

Há muitos lugares que oferecem esse passeio, mas nenhum é tão charmoso quanto a pioneira Coopertown, que leva turistas pelos canais das Everglades desde 1945.

Coopertown

Um blogueiro mais crítico poderia dizer que o lugar está meio que caindo aos pedaços, mas como eu quero dar um verniz histórico a esse passeio direi que Coopertown não faz concessões à modernidade 🙂 É muito estranho: um passeio divertido na Flórida que não tem nada de disneyano.

Coopertown

Antes de embarcar, os passageiros assistem uma pequena palestra sobre o pântano, seus répteis, quelônios (e ursos).

Coopertown

Depois, você põe um protetor nos ouvidos e…. vrrrrrruuuuuuummmmmm pelo pântano inundado de Ben e Dexter. É cultural, sim, e não se fala mais nisso!

Coopertown


Coopertown

  • 22700 Southwest 8th St, tel. 305/226-6048. Funciona diariamente das 9h às 17h50. Ingresso: US$ 23 (entre 7 e 11 anos, US$ 11; até 6 anos, grátis). Site: aqui.

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5 comentários

Já estive em Orlando e pretendo conhecer Miami tão logo passe a Pandemia e o governo americano abra as fronteiras. Até breve Miami.

Recomendo muito a pizzaria Joey’s em Wynwood! Pizzas simplesmente deliciosas e com sabores bem interessantes (pedi uma com romã por exemplo).

Acredito que o mais bonito e cultural não foi publicado,que é o Museu Morikame e seus jardins centenário,com história da 1° imigração japonesa, local Boca Raton

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