Vale a pena comprar dólares canadenses

Câmbio para viagem: 5 pitacos para não perder dinheiro

Dólar x real

Câmbio é um dos assuntos mais complicados que existem para nós, leigos. São tantas as variáveis envolvidas – a cotação que importa ora é a de compra, ora é a de venda; às vezes o câmbio requer fazer conta de dividir, e outras vezes, de multiplicar; freqüentemente, o que intuímos ser mais lógico é apenas resultado de um raciocínio erroneamente simplista. É uma pegadinha atrás da outra, pessoal.

A gente, que não entende patavinas de câmbio, tende a enfiar os pés pelas mãos e acaba fazendo mais besteira do que o habitual. Se existir contabilidade criativa em câmbio, não deve estar ao alcance de amadores como você e eu. Só quem garantidamente ganha dinheiro com câmbio é quem está do outro lado do balcão (ou quem compra dólar como investimento de longo prazo, como quem investe em ações).

No câmbio, o dinheiro se torna uma mercadoria. A gente não ‘troca’ dinheiro – a gente vende uma mercadoria que não nos serve (um dinheiro inútil aonde vamos) para comprar uma mercadoria que nos falta (um dinheiro indispensável aonde vamos). É um mundo injusto, onde compram a nossa mercadoria por menos do que vale e nos vendem com sobrepreço uma mercadoria de valor teoricamente equivalente. A única maneira de evitar o preju é entrar para a família do dono do banco ou da corretora.

A maior confusão que vejo nas perguntas que aparecem diariamente nas caixas de comentários é considerar a diferença nominal de valores de moedas como indicador de carestia ou pechincha.

Se dólar custa mais de R$ 4 e o peso mexicano custa R$ 0,30, então é muito mais barato comprar peso mexicano, certo? Errado. A cotação dessa moeda no Brasil (assim como das moedas ‘fracas’ em geral) é desvantajosíssima. O peso mexicano deveria custar, no dia em que pesquisei, no máximo R$ 0,24 (tomando por base o câmbio que você conseguiria no México ao trocar dólares comprados no Brasil). Tem um sobrepreço aí de 20% (muito maior que o IOF que você está querendo economizar!), que você não percebe que existe, só porque está prestando atenção apenas na diferença nominal do peso frente o dólar.

O dólar é o parâmetro pelo qual o real é cotado frente todas as moedas. Quando acontece – como nesse último mês – do real desvalorizar sozinho frente ao dólar, fique certo de que a desvalorização vai se refletir no câmbio frente todas as outras moedas. Quando estive no Peru em junho de 2015, 1 real era comprado a 95 centavos de nuevo sol. Três meses mais tarde, no dia 11 de setembro de 2015, vendi reais em Lima a 68 centavos de nuevo sol. É o mesmo tombo que o real levou frente o dólar.

Conclusão: não fuja do dólar só porque ficou repentinamente mais caro. As outras moedas ficaram repentinamente mais caras também – você é que não estava acompanhando.

Bom. Depois desse blablablá introdutório, aí vão meus conselhos:

Pitaco 1:

    Não compre moedas ‘fracas’ no Brasil

    O mercado de moedas ‘fracas’ (pesos, soles, rands, florins, liras e quetais) é pequeno e atende apenas a viajantes muito inseguros, que acham que precisam desembarcar em qualquer lugar com alguma moeda do país no bolso. A verdade é que não precisam. Todo aeroporto terá uma casa de câmbio aberta 24 horas junto ao desembarque — e se é para perder dinheiro, melhor trocar 100 dólares ali do que comprar essas moedas aqui pelo valor que pedem.

    Veja esse print de cotações do dia 18 de setembro de 2015.


    Cambionet

    O peso chileno estava sendo vendido a R$ 0,0067 (não sei nem como se pronuncia isso). Parece superbaratíssimo, não? Mas se você levasse seus reais ao Chile, conseguiria 170 pesos por real – ou que significa que bastam R$ 0,0058 para comprar um peso em território chileno. A cotação da corretora brasileira equivale a 150 pesos por real. No aeroporto de Santiago, que tem a pior cotação, te pagam 162!

    (Os valores, claro, serão outros no momento em que você lê este post, mas as proporções permanecerão semelhantes.)

    Ou seja:

    Pitaco 2:

    Não leve reais para nenhum destino fora desta lista

    • Buenos Aires
    • Montevidéu, Punta del Este e Colonia del Sacramento
    • Santiago e Valparaíso
    • E só!

    Nessas cidades existe demanda para reais, então a cotação é vantajosa.

    Para todos os outros lugares, incluindo destinos chilenos e argentinos que não estão listados (Ushuaia, Atacama, El Calafate, Lagos Andinos), leve dólar ou a moeda forte do lugar (libra no Reino Unido, euro na zona do euro, dólar canadense no Canadá, etc).

    Sim, eu sei que estou quebrando aquela regrinha de reduzir ao mínimo o número de operações de câmbio — mas o que vale aqui é a regrinha de não fazer nenhuma operação de câmbio excessivamente desvantajosa. Pode até ser possível trocar reais em outros lugares, mas valerá mais a pena levar moeda forte.

    Por exemplo: na sexta dia 18 de setembro de 2015, com o dólar comprado no Brasil a R$ 4,10, 1.000 dólares renderiam 3.190 nuevos soles em Lima. Mas se você trocasse 4.100 reais (o equivalente a 1.000 dólares no Brasil naquele dia), conseguiria apenas 2.788 nuevos soles.

    Ou seja:

    Pitaco 3:

    Não compre a moeda ‘errada’ só porque está mais barata

    Todo dia me perguntam: com a libra tão cara, será que não é melhor levar euro para Inglaterra? Com o euro tão caro, será que não é melhor levar dólar para a Europa? E outro dia apareceu: com o dólar tão caro, será que não vale a pena levar dólar australiano para os Estados Unidos?

    :mrgreen:

    Vale a pena não. Como eu já disse mais acima, na hora de fazer o novo câmbio você vai pagar a diferença e mais o sobrepreço do cambista.

    Mas atenção: o que eu não recomendo é comprar dólares para levar para a zona do euro, ou comprar euros para levar para a Inglaterra. Mas se você já tem essa moeda em mãos, vale mais a pena levar e trocar uma vez só, lá. Não troque no Brasil não, porque seriam duas operações de câmbio.

    Pitaco 4:

    Não compre nem troque em qualquer lugar

    Muito mais eficiente do que inventar soluções mirabolantes (tipo levar dólar australiano para a Europa) é tomar mais cuidado na hora de comprar moeda no Brasil e fazer câmbio no exterior.

    Aqui no Brasil, não seja comodista: pesquise o dólar menos caro para comprar. O site Melhor Cambio traz o comparativo de vários bancos e corretoras para você economizar na compra. A qualquer dia, você vai ver no mínimo 5% de variação entre as melhores e as piores cotações. É um IOF!

    E no exterior, se precisar cambiar a moeda que comprou no Brasil, troque o mínimo indispensável em aeroportos, nos fins de semana e em lugares próximos a atrações turísticas. (Veja aqui as minhas dicas de Santiago e Buenos Aires.)

    Na Europa, descubra agências bancárias com setor de câmbio – a cotação sempre é melhor do que a de casas de câmbio de rua. No Leste Europeu, algumas casas de câmbio de rua são tão salafrárias quanto os motoristas de táxi – assim que o real estabilizar de novo (#oremos) eu indicaria usar o cartão de crédito só para não passar raiva.

    Pitaco 5:

486 comentários

Perdemos um pouco exceto no câmbio paralelo pela América do Sul, em que a gente sai ganhando 😛

Muuuuito obrigada pela dica do site Jooin, foi uma mão na roda para conseguir um câmbio ‘menos ruim’ no dólar pois embarcarei domingo rumo à NY. Aliás, peguei muitas dicas de lá também 🙂

Aproveitei um pouco estes últimos anos de real forte para viajar, e posso atestar, as dicas aqui são precisas, finas, cirúrgicas. Japão, por exemplo, não vale comprar a moeda no Brasil (talvez em São Paulo, moro em Brasília), e o melhor câmbio que você faz é levando dólar ou euro, e trocando lá. Leste europeu tem que ter muito cuidado com casas de câmbio, troquei um pouco de dólar uma vez numa casa de câmbio na estação de trem central de Praga e até hoje tenho raiva deste episódio. Eu acrescentaria tão somente que em algumas experiências minhas em países com moedas pouco negociadas (Tailândia, por exemplo), a cotação do cartão do crédito, especialmente na função saque, era muito ruim, então esta não é uma boa forma de fugir da necessidade de fazer dois câmbios. O melhor mesmo é, como dito no post, comprar dólar ou euro no Brasil e trocar no país destino.

Oi! Já comprei passagens para o Japão. vamos em janeiro de 2016.
melhor levar dólar ou Iene?

    Olá, Margarete! No oanda.com a cotação interbancária (“comercial”) está em 0,33 real por yen. No site da cambionet aparece a cotação de 0,40 — um deságio de 20%. Se você não conseguir yen por uma cotação até 10% maior do que o oficial (no momento, seria 0,36), será melhor levar dólar.

Estou com uma duvida, estou indo viajar para o Peru (Cusco) agora em outubro e gostaria de saber se eu consigo trocar dolar canadense por la? E se existe algum site em que eu possa ver a cotacao no Peru?
Mais uma vez obrigada pelos post maravilhosos

    Olá, Camila! O Ricardo Freire está neste momento em Cusco e já viu a sua pergunta. Ele vai dar uma investigada e traz a resposta.

    Perfeito vou ficar no aguardo…

    Se ele puder me falar tambem como esta a cotacao..tanto para canadense, americano e real, ficarei muito grata!!!

    Olá, Camila! Ai vão as cotações apuradas hoje, segunda-feira dia 28 de setembro, pelo Ricardo Freire, em Cusco:

    Real = 0,70 sol
    Dólar = 3,20 soles
    Dólar canadense = 2,40 soles

Parabéns pelo post!
Irei viajar no próximo mês para Europa e carreguei parte do dinheiro no cartão pré-pago em dolár, já que não tinha o cartão em euro disponível no momento.
É muito desvantajoso utilizar o cartão em dólar para pagar em euro ou não faz diferença?

Boa noite Bóia!
Parto amanhã com destino à Santiago e de lá vou direto a Mendoza. Contrariando a dica de não comprar as moedas desses países por aqui, soube que em Búzios as casas de câmbio praticam uma cotação bem bacana. Baseado nos valores dos posts daqui, decidi trocar algo antes da viagem, consegui pesos argentinos a R$0,26 (3,84 pesos por real) e pesos chilenos a R$0,0059 (169 pesos por real), nada espetacular, porém achei mais prático pois moro em cidade vizinha. Uma boa para quem mora na região e vai viajar ou quem estiver passeando por lá. Um Abraço!

    Olá, Daniel! Isso sem dúvida se deve à grande colônia e ao expressivo número de argentinos o ano inteiro em Búzios, e não se reflete em outros lugares do Brasil.

Olá Ricardo. Seu artigo foi muito esclarecedor. Até já divulguei no Facebook.
Costumo comprar dólar e euro para guardar para viagens, assim, só tenho que me preocupar com a passagem aérea na hora em que decido ir.
Não compro há quase 1 ano, por puro esquecimento.
Vc acha que devo continuar comprando, ou neste momento é ‘roubada’ ?

    Olá, Dora! Não somos economistas nem futurólogos. Só sabemos que, depois de comprado, 1 euro valerá 1 euro indefinidamente.

Bóia, parabéns pelo artigo. puro bom senso.
Em novembro vou à Tailândia. Comprei o pacote ainda em Janeiro com o Dólar a 2,35 e pagando de cinco vezes. Bom demais.
Esses dias cheguei a cogitar de comprar baats, a moeda tailandesa para levar daqui, uma vez que o dólar está indo para a estratosfera. Não concretizei a operação em virtude das casas de câmbio não disporem dessa moeda. Após ler o seu esclarecedor artigo pergunto o que você acha de levar uma parte do dinheiro em dólar, cartão de débito, cartão de crédito para sacar dinheiro e uso exclusivo em emergências.

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