É muito comum morar em São Paulo e desconhecer completamente alguns dos tesouros da cidade. Quando, há relativamente pouco tempo, eu comecei a ouvir sobre uma tradicionalíssima doceira portuguesa no Centro Velho, pensei: nossa, como posso morar há trinta anos na cidade e não saber disso?
Felizmente, descobri que não era um caso de ignorância absoluta, mas de pequena distração (quem manda viajar tanto?). A doceira em questão, a Casa Mathilde, é realmente tradicionalíssima: foi fundada em 1850. Mas é um endereço tradicional de Ranholas, perto de Sintra, onde funcionou até 1974. Em São Paulo, trata-se de uma tradição (aham) bastante recente: abriu em junho de 2013, revivida pelas mãos de empresários portugueses, detentores das receitas originais. E desde então tem arrebanhado uma legião de gulosos, que vão ao Centrão em busca de doces portugueses com qualidade e variedade jamais vistas aqui na antiga colônia.
Depois de muito ouvir falar sobre o melhor pastel de nata da cidade, lá fui eu, num sábado de manhã, tirar a prova. Não que eu tenha autoridade para fazer uma crítica gastronômica a qualquer doce, empada ou canapezinho que seja. Mas como grande fã do acepipe (é provável que seja o meu doce favorito; só não digo com certeza absoluta porque, entenda, esta é uma pergunta muito difícil para pessoas com a minha falta de porte físico), eu saberia dizer se a viagem ao Centro Velho compensa.
Senhoras e senhores: aquela portinha da Praça Antônio Prado, enviezada com o prédio Martinelli, é o atalho mais à mão ao paraíso.
O pastel de nata é maravilhoso, infinitamente superior a qualquer similar que eu tenha provado antes por aqui. Pode haver alguma coisa na receita ou no modo de fazer (e isso eu não saberia avaliar), mas acho que o segredo do pastel de nata da Casa Mathilde deva ser o mesmo de Tostines e da Confeitaria de Belém, em Lisboa: está sempre fresquinho (e morninho), devido às várias fornadas ao longo do dia.
O lugar é enorme (ali já funcionou o Fasano, duas encarnações atrás) e a variedade de doces, como já disse, incrível. Mas como provar os outros quando o melhor doce português já criado está ali, recém-saído do forno, em toda a sua perfeição? Deixo os outros doces pra você. Fico com o pastel de nata
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Casa Mathilde
Praça Antônio Prado, 76. Tel.: 11/3106-9605
2ª a 6ª das 9h às 19h30 | Sábado das 9h30 às 16h30 | Fecha domingo
Metrô: São Bento (linha 1/azul)
Atrações do Centro Velho para combinar com a Casa Mathilde
Faça do pastel de nata um delicioso fecho para um passeio pelo Centro Velho de São Paulo. Algumas das atrações principais:
Primeiro arranha-céu de São Paulo, foi concluído em 1934. Até hoje, na minha opinião, o edifício mais bonito da cidade. Muitos paulistanos desconhecem sua existência porque o Martinelli não aparece no skyline da cidade -- está tapado por prédios mais altos do Vale do Anhangabaú. Todas as atenções são voltadas para o antigo edifício Banespa, seu vizinho, cuja visão é desobstruída e que é tido como um dos símbolos da cidade -- embora não tenha um décimo do charme e da originalidade do bolo de noiva cor-de-rosa que é o Martinelli.
O comendador Martinelli, que construiu o prédio (e foi à falência), instalou um palacete na cobertura -- que é justamente o destino da visita guiada. A visitação é gratuita; é realizada de 2ª a 6ª das 9h30 às 11h30 e das 14h às 16h; sábado e domingo, das 9h às 13h. Vale a pena confirmar o horário antes de ir: o telefone é 11/3104-2477. A entrada é pela rua São Bento, 397.
Centro Cultural Banco do Brasil
A filial paulistana do CCBB não é grandiosa como as do Rio, Belo Horizonte ou Brasília, mas tem seu valor. Algumas das melhores exposições da cidade (além de peças de teatro não-comercial) se realizam por ali. Consulte a programação no site. Fica na rua Álvares Penteado, 112. Tel.: 11/3113-3651. Abre de 4ª a 2ª das 9h às 21h. Fecha 3ª.
O colégio jesuíta que deu origem a São Paulo de Piratininga ficava neste largo do Centro Velho. O prédio não é original e a geografia mudou radicalmente desde então -- mas a localização tem valor sentimental para os paulistanos. No local funciona o Museu Anchieta, que conta a história da fundação da cidade. O Pátio do Colégio fica pertinho da Praça da Sé; tel. 11/3105-6899. O museu abre de 3ª a domingo das 9h às 16h30. Fecha 2ª.
Em plena degradação da Praça da Sé (redobre os cuidados ao passar por ali), este centro cultural sempre tem alguma boa exposição. Confira a programação no site. Fica no número 111, à esquerda de quem olha para a Catedral da Sé; tel: 11/3321-4400. Abre de 3ª a domingo das 9h às 19h. Fecha 2ª.
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