O Terra poderia ter feito a manchete: Roberta Sudbrack estaciona no Leblon. Mas o que a überchef gaúcha-candanga-carioca estacionou em dezembro de 2015 foi um trailer -- e numa região do Leblon que nunca apareceu nas novelas de Manoel Carlos. A garagem onde está instalado o Da Roberta fica no finalzão da Bartolomeu Mitre, na esquina da rua Tubira -- um trecho feioso dominado por oficinas mecânicas, mais parecido com a rua da Passagem, em Botafogo, do que com a Dias Ferreira, onde se enfileiram os restaurantes com plantão permanente de papparazzi do Leblon.
Se bem que, a essa altura, a Tubira já se tornou um point de comidinhas hipsters: por ali também estão a loja-conceito da microcervejaria Jeffrey (inaugurada antes do Da Roberta) e a espetaria mineira Steak Me (inaugurada depois do Da Roberta).
O Da Roberta faz parte da onda 2.0 dos food trucks -- o momento em a novidade já passou e ninguém mais está a fim de pagar mais caro por qualquer coisa só porque foi preparada num caminhão. No caso de Roberta, o caminhão -- ou melhor, o trailer -- é um retorno às origens: sua estréia comercial na cozinha aconteceu em Brasília, primeiro numa carrocinha, e depois num trailer, onde vendia cachorro-quente. Já naquela época -- nos anos 90 -- Roberta usava um pão que ela desenvolveu com um padeiro, comprava salsichas artesanais e lambuzava o dog num molho feito diariamente por sua avó, com tomates frescos comprados de madrugada no mercado.
No Da Roberta, a matéria-prima continua artesanal. Os padeiros e a mestre-salsicheira são devidamente creditados, assim como a fabricante dos queijos, que vêm (surpresa!) do agreste pernambucano (são da Campo da Serra).
Sud Dog | Baobá | Brisket
O velho cachorro quente de Brasília perdeu o molho de tomate, ganhou uma cobertura de queijo gruyère derretido e um fio de mostarda Dijon com sementinhas, e hoje se chama SudDog (R$ 23). Junto com o bolo molhado de chocolate (R$ 16), compõe a dupla que fez o sucesso do SudTruck, o food truck que circula nas ruas e em eventos desde o fim de 2014 -- e que serviu como balão de ensaio para o Da Roberta.
Pastrami
Com chilli de pernil, o cachorro vira um SudChilli Dog (R$ 25); com lingüiça, queijo derretido e aïoli de urucum, torna-se o Baobá (R$ 25). Com duas lingüiças, molho chimichurri "e só", vira um Chori, o choripán da Sudbrack (R$ 22). Eu adoro o SudDog original; experimentei o Baobá e, pro meu gosto, achei que o queijo fica sobrando num sanduba de lingüiça (da próxima vez vou provar o Chori -- o que vem com "chimichurri e só").
As estrelas do restaurante, porém, são os sanduíches feitos com carne do peito bovino. Curado e defumado, vira pastrami -- o Da Roberta serve entre duas fatias de pão de fermentação natural, com mostarda (R$ 20 a meia-porção, que já é grande) ou com mostarda e queijo (R$ 22 a meia-porção). Assado em baixa temperatura com rapadura e acompanhado de repolho mantecato (delícia adocicada!) e aïoli de urucum, torna-se o Brisket -- que acaba de entrar no cardápio fixo.
Bolo molhado de chocolate
Uma terceira linha de sandubas usa pão pita (árabe), servidos ou com lingüiça merguez (de receita marroquina) ou com faláfel feito na casa. Ainda não provei.
O Da Roberta não tem prato nem talher: até mesmo as batatas rústicas (com aïoli de urucum, R$ 12) devem ser comidas com a mão. Você faz o pedido no caixa, paga (com dinheiro ou cartão de débito) e espera ser chamado para pegar o seu sanduba. Chegando antes das 17h, você ainda consegue garantir um dos tamboretes com assento de concreto (inteligentíssimo design anti-afanadores de souvenirs). A partir do cair da tarde, e nos fins de semana, a fila é grande.
Vá com fome -- e preparado para se lambuzar
Da Roberta
- R. Tubira, 8 (esquina Bartolomeu Mitre), tel.: 21/2239-1103. Abre de 3ª a domingo das 12h às 22h.
4 comentários