Uma vila de casarões quase centenários, cercada pela mata atlântica que ainda resiste no bairro do Cosme Velho: assim é o Largo do Boticário, um dos lugares mais encantadores do Rio. Escondido atrás de um beco, a salvo do burburinho da rua Cosme Velho, o largo preserva o sossego da época em que foi ocupado, a década de 20 do século passado.
O casario, porém, estava decrépito há alguns anos. As casas, fechadas (uma chegou a ser invadida), esperavam em vão por compradores que se dispusessem a fazer reformas e morar ali. Em abril de 2018, uma lei municipal finalmente autorizou a mudança de uso e a reforma do espaço, desde que mantida a arquitetura original.
A nova lei era o que o megagrupo hoteleiro francês Accor (leia-se: Ibis, Mercure, Novotel, Sofitel) esperava para fechar a compra de todas as casas, por R$ 20 milhões, e anunciar um plano de reformas de mais R$ 50 milhões para instalar ali um hostel multiuso que promete reabrir o Largo do Boticário para os cariocas.
Jo & Joe, o hostel 3.0 do Largo do Boticário
O Largo do Boticário vai receber a primeira unidade da rede de hostels Jo & Joe, a mais nova bandeira da rede Accor. Desta vez, em vez de comprar marcas já existentes (como foi o caso com Mama Shelter, Fairmont, Raffles e Swissôtel), a companhia desenvolveu o conceito do zero.
O material de divulgação define o Jo & Joe como uma 'open house' -- um lugar aberto à convivência entre visitantes e moradores da cidade. O lugar vai combinar hostel, hotel, espaço de co-working, bar, restaurante e balada. A idéia é criar um pequeno bairro com pegada millennial.
O hostel vai oferecer grandes dormitórios compartilhados, e também dormitórios menores que podem ser reservados inteiros por grupos de amigos ou famílias, além de quartos privativos, como num hotel. As diárias das camas, a preços de hoje, custariam entre R$ 80 e R$ 100 nas reservas individuais, e entre R$ 40 e R$ 50 nos dormitórios fechados em grupo -- sempre incluindo o café da manhã.
Como o Largo do Boticário fica longe da orla (mas a passos do Trem do Corcovado), o hostel vai oferecer vans para as praias urbanas (Copacabana, Ipanema) e também para as praias de surf da Zona Oeste (Prainha, Grumari). O Largo é bem servido por ônibus que levam em menos de 10 minutos à estação Largo do Machado do metrô, de onde se chega rapidinho ao Centro (conectando com o VLT na estação Cinelândia) e aos outros bairros da Zona Sul.
O complexo deve abrir entre 80 e 100 vagas de trabalho. O 'casting' dos funcionários vai priorizar a carioquice e a diversidade (mas virar-se em inglês será um requisito fundamental).
O projeto de reforma está a cargo do escritório de Ernani Freire, especialista em renovação de patrimônio histórico, que já recuperou a Casa Daros em Botafogo e o Parque das Ruínas em Santa Teresa.
A abertura está prevista para 2020.
Praticidade + segurança
Jo & Joe em Paris ainda em 2018
O primeiro Jo & Joe foi inaugurado em 2017, em Hossegor, um vilarejo de praia perto de Biarritz, na costa atlântica da França (point clássico de surfistas).
Até o fim de 2018 deve abrir o primeiro dos três Jo & Joes previstos para Paris. Vai se localizar na Porte de Gentilly, no limite sul de Paris, junto ao Boulevard Péripherique que contorna a cidade. Serão 600 camas, acompanhadas por espaços de co-working, alimentação e diversão que devem atrair os 10.000 estudantes residentes na Cidade Universitária Internacional que fica a 10 minutos de caminhada. O hostel vai estar a 5 minutos da estação servida pela linha RER B, que é mais expressa que o metrô e está a 5 paradas de Saint-Michel, próximo ao Quartier Latin, e 6 paradas de Châtelet-Les Halles, já na Rive Droite.
Rio: luz no fim do túnel?
Se você quer ter esperança de que o Rio de Janeiro vai sair do buraco, é só prestar atenção nos movimentos no grupo Accor. Em meio à maior crise de imagem do Rio de todos os tempos, a Accor mantém inúmeras frentes simultâneas de investimento -- fazendo hedge para quando a economia do turismo se recuperar.
A companhia continua investindo mesmo depois de vários anos ampliando sua presença na cidade para Copa e Olimpíada, com novos Ibis na Praia do Pepê, Posto 5 em Copacabana, Porto Maravilha e Parque Olímpico; novos Ibis Budget no Posto 4 em Copacabana e em Botafogo; novos Novotel em Botafogo, na Barra da Tijuca, no Parque Olímpico e no Porto Maravilha; novos Mercure na Praia do Pepê e no Riocentro (um Grand Mercure); e dois hotéis em Santa Teresa, o luxuoso Hotel Santa Teresa MGallery by Sofitel e o moderninho Mama Shelter.
Recentemente -- já com a crise instalada -- a Accor assumiu um lote de hotéis do grupo BHG, que inclui quatro unidades no Rio. O Continental, no Leme, virou Novotel Leme; o Golden Tulip Regente Copacabana se tornou Grand Mercure Copacabana; o Tulip Inn Copacabana passou a ser Mercure Copacabana; e o Royal Tulip, em São Conrado, está fechado para total renovação e reabertura como Pullman Rio.
No front de luxo, além do Pullman Rio, o grupo deu uma arejada total no sisudo Caesar Park Ipanema para se tornar o Sofitel Ipanema com espírito mais praiano, e está há mais de um ano recondicionando o antigo Sofitel Rio para reabrir como o primeiro hotel Fairmont do país.
De tudo isso, no entanto, a revitalização do Largo do Boticário para a implantação de um novo conceito de hospedagem é a notícia mais alvissareira.
O Viaje na Viagem também não desiste do Rio. Eu estou há dois anos dividindo meu tempo entre São Paulo e Rio, e cada vez mais apaixonado pela cidade. Se você quer saber o que está perdendo, veja aqui.
(Ah, sim: comentários riofóbicos não serão publicados. Obrigado.)
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