O senso comum classifica os viajantes pelo seu volume de gasto. Quem senta lá na frente do avião é invejado, como se viajar contando os tostões fosse um demérito.
Na verdade, na vida real quem viaja melhor não é quem tem mais dinheiro -- é quem dispõe de mais tempo.
"Mochilão" pode ter virado sinônimo de viagem barata, mas originalmente o termo remete a uma viagem sem fim: como fazer o seu dinheiro render o máximo de tempo possível na estrada.
A pandemia, porém, introduziu uma nova desigualdade -- transitória, mas real.
Depois de 3 meses de quarentena, os viajantes agora se dividem entre os que mantiveram emprego e negócios funcionando, e os que se viram abruptamente sem receita.
Pessoas da classe média para cima que não perderam renda ainda ganharam um bônus: depois de três meses sem gastos com vida social, fizeram uma poupança inesperada -- que pode rapidamente ser revertida em viagem.
Ma se antes do corona, não precisava ter dinheiro para viajar -- era preciso ter tempo! -- agora também ter feito uma poupança inesperada não é suficiente. É preciso ter coragem. (Eu esperaria mais um pouquinho.)
Publicado em 10/7/2020
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