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5 idéias para receber melhor os estrangeiros no Brasil

Como receber melhor os estrangeiros no Brasil

Recentemente apresentei em Salvador, no evento Agenda Bahia, a palestra Como o Brasil pode ser campeão do turismo. Vou começar a destacar alguns trechos e publicar ao longo das próximas semanas.

O maior problema de infra-estrutura no Brasil não está nos aeroportos nem no transporte: está na comunicação. Ao contrário de países muito mais pobres que o nosso (onde, não por acaso, o turismo internacional é mais relevante para a economia), por aqui temos pouquíssima sinalização em outros idiomas — e a imensa maioria dos que lidam com turistas não sabe sequer informar preço em inglês. Levando em consideração que 70% dos turistas que visitam o Brasil são viajantes independentes (porcentagem que se repete todos os anos nas pesquisas da Embratur) e que, portanto, não têm um guia a seu lado o tempo todo, é preciso pensar em mecanismos e soluções que diminuam a necessidade do estrangeiro fazer perguntas que não serão entendidas.

Algumas coisas que já me passaram pela cabeça e que não são tão difíceis assim de ser implementadas:

–> GERADOR DE CARDÁPIOS TRADUZIDOS

O nome é meio Tabajara, mas quanto mais penso, mais acho que seria uma grande solução para o problema dos cardápios sem tradução — ou, pior, mal traduzidos. (Vamos lembrar que, quando morou no Brasil, o Seth Kugel, atual Frugal Traveler do New York Times, batizou a sua empresa de tradução de textos de “Sleeve Juice” — ou “suco de manga de camisa”, que foi a legenda do suco de manga servido num Mercure de Curitiba.)

A idéia é a seguinte: montar um site com um banco de dados dos (500? 1.000?) pratos e petiscos mais comuns servidos em restaurantes e lanchonetes do Brasil inteiro. O dono do estabelecimento — ou o seu sobrinho de 14 anos, na lanhouse mais próxima — pesquisa e seleciona os pratos que serve, estabelece uma ordem entre os itens, assinala os idiomas em que quer ver os pratos traduzidos e pimba: é só salvar o arquivo e imprimir.

Daria também para subir o logotipo do estabelecimento (opcional, pípol; se não tiver logo nem scanner, escolhe um tipo de letra e escreve o nome do lugar) e listar os ingredientes de cada prato (basta selecionar de uma lista com todos os ingredientes mais comuns usados no Brasil).

Para dar certo, só é preciso uma boa programação e uma equipe de tradutores competentes — estrangeiros que morem no Brasil, de preferência em diferentes regiões, que saibam o que estão traduzindo. Google Translation não vale, obviamente.

Se o Sebrae encampasse um projeto desses, seria perfeito em todos os sentidos (pela competência e capilaridade da organização). Lá na Bahia me disseram que o Sebrae local se interessou pela idéia. Tomara que levem adiante…

–> CHIP BRASILEIRO NA CHEGADA

A melhor divulgação de um destino é a que o turista faz no seu Facebook, no seu Instagram. São essas as imagens que vão direto para os seus amigos e influenciam novos viajantes. É estratégico para o Brasil que os turistas que venham para a Copa consigam postar nas suas redes sociais.

No entanto, fico pensando na burocracia, na perda de tempo e em todos os perrengues que um estrangeiro vai enfrentar para comprar um chip (simcard, em gringuês) pré-pago. Que lojas estão capacitadas para atender estrangeiros? Quais são os documentos que eles só saberão que precisam depois de esperar na fila e se comunicar por mímica com o atendente?

Pensei num mecanismo bacaninha. A Anatel, ou a associação das teles (existe?), põe no ar um site de pré-venda de chips online para visitantes do exterior. O estrangeiro dá todas as informações que a burocracia pede para o cadastro, informa o aeroporto de chegada e paga — com uma determinada antecedência, tipo até 10 ou 15 dias antes de embarcar, para dar tempo do seu pedido ser processado.

Ao desembarcar, logo depois de pegar as malas, o turista estrangeiro passa no quiosque da Anatel (ou das teles) no saguão, montado para toda a época da Copa (digamos: entre 1º de junho e 12 de julho), apresenta o seu passaporte, assina o que precisar ser assinado, e já sai com o chip brasileiro para pôr no celular e avisar o mundo que está no Brasil.

Não, não deve sair barato operar quiosques assim em todos os aeroportos internacionais 24 horas. Mas é um marketing muito mais efetivo do que o que estamos fazendo.

–> PAINEL DE INFORMAÇÃO DE TRANSPORTE EM AEROPORTOS E RODOVIÁRIAS

Como relembrei lá em cima, e são dados oficiais da Embratur confirmados ano após ano, 70% dos turistas estrangeiros no Brasil são viajantes independentes. Ou seja: montam sua viagem fora de pacotes ou assistência de agências. Quando desembarcam no aeroporto, não têm ninguém esperando com uma plaquinha com o seu nome escrito.

É um momento difícil, até mesmo para um brasileiro que não conheça o lugar. O turista está cansado e fragilizado. Será que vão me enganar? Qual é o jeito mais seguro de sair daqui? Dar segurança para o visitante nesse momento é crucial para as suas primeiras impressões — e muito mais eficaz do que amarrar fitinha de Senhor do Bonfim.

Ano passado, vi esse painel na saída do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris:

Táxi CDG

Por que não aqui? Cada aeroporto e cada rodoviária pode ter um painel, na área de desembarque, que informe, ao menos em português e inglês:

– quanto custa o táxi especial até a(s) zona(s) hoteleira(s)  principal(is) da cidade

– quanto custa o táxi comum até a(s) zona(s) hoteleira(s) principal(is) da cidade

– se há um ônibus, quanto custa e de onde sai

Isso não custa nada, gente, e transforma a experiência de chegada de qualquer visitante, estrangeiro ou brasileiro.

–> INFORMAÇÃO DE PONTOS TURÍSTICOS EM ÔNIBUS DE LINHA

Para um forasteiro — mesmo brasileiro — é muito difícil entender as rotas de ônibus de uma cidade (mesmo nas mais organizadas, com corredores e BRS). Tornar o transporte público usável pelo forasteiro (estrangeiro ou brasileiro) é um jeito de diminuir o custo de fazer turismo no Brasil.

Uma solução bastante simples que me ocorreu é aproveitar que agora os painéis dos ônibus são eletrônicos (e por isso, programáveis para intercalar letreiros diferentes), e inserir a informação do ponto turístico servido por aquela linha. Não seria ótimo você estar numa parada da Nossa Senhora de Copacabana e o ônibus avisar “Sugar Loaf”? Ou estar numa parada próxima à Sé no Pelourinho e o ônibus informar “Barra Beach”? É uma ação com custo praticamente zero.

Numa ação complementar, que demandaria mais esforço e mais manutenção, as cidades turísticas poderiam adesivar as paradas de ônibus com os pontos turísticos servidos por ônibus que param ali.

–> INFORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRAIAS

Alô prefeituras de metrópoles praianas: que tal fazer um painelzinho na entrada de cada praia com a média de preços de cadeiras e guarda-sóis praticados por ali? Ou exigir que quiosques e barracas informem visualmente o preço de cadeira, guarda-sol, coco, refrigerante, água e cerveja? Sentir-se explorado estraga um dia na praia de qualquer, brasileiro ou estrangeiro. E sentir-se vulnerável à exploração — mesmo que a exploração não ocorra! — também influencia terrivelmente a sensação do forasteiro.

Leia mais:

O novo vídeo do Brasil para a Copa: que decepção

Quando o Brasil vai ser um Bric do turismo?

Os preços da Copa: meus 20 centavos

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56 comentários

Pois é. Mas cadê a vontade? Juntando esse monte de problemas de falta de informação/comunicação ao vídeozinho de promoção, aos preços absurdos, estamos mesmo perdendo feio. O Brasil poderia ser fácil um campeão de turismo. Tem pra tudo que é gosto. Mas como descobrir? Enquanto qualquer umaplaneja uma viagem pela Europa sentado no sofá, não consigo saber (nem on line, nem in loco) como sair do aeroporto (qquer um!) e chegar ao centro da cidade (qquer uma). Em inglês então, não dá para descobrir como pegar uma barca Rio-Niterói. ônibus? Nem em poturguês a gente sabe!
Qto ao chip pré-pago: em Londres, na época das olimpíadas, surgiu uma máquina de auto atendimento, tipo de refrigerante, com todos os chips pré-pagos já com internet no saguão de Heathrow. Ë só pagar com o cartão ou notas, apertar o botão, e o chip cai na gaveta, praticamente falando. Enquanto isso, aqui… triste! Já pensou em traduzir seu site, Riq?

Eu tenho pena de quem tentar se virar em SP.

Tirando o metrô, que pelo menos aqui é limpo, organizado e tem mapas fáceis (embora só com indicações em português até onde eu sei) o transporte em SP é um caos.

Eu nunca entendi como funcionam os ônibus aqui, que horas eles passam, qual o intervalo, pra onde vão, onde param.

Sem contar que hoje em dia com esse monte de passes e cartões eletrônicos eu nem sei dizer como se paga um ônibus em SP, se eu posso entrar nele e ainda terá um cobrador na catraca pra eu pagar em dinheiro, por exemplo.

    Nossa, que exagero… basta entrar num site chamado google que você descobre a existência de um outro site chamado “sptrans” para resolver todas as dúvidas. Aliás, o próprio google maps te indica quais os ônibus pegar, basta você clicar em “como chegar” e escolher a opção “de transporte publico”. Não tenha medo dos “passes e cartoes eletronicos”. É tão fácil que até eu que moro em Minas tenho bilhete único e uso sempre que vou a São Paulo.

    Exato Patricia, é que as pessoas pensam que as informações vão cair do céu. Basta procurar um pouquinho né? Comodismo puro.

    Em BH, por exemplo, os horários de ônibus são frequentemente desrespeitados e/ou alterados sem aviso. Até sei o itinerário das linhas que preciso pegar, mas é normal eu ter que ficar 40 minutos no ponto esperando por um ônibus que tem viagens com intervalos de 15 minutos…

Por experiência própria, a ideia do chip é essencial.

Estive em SAMPA com uns gringos e fomos comprar um chip na Claro. 40 minutos para tirar copia de passaporte, registrar o chip e pagar, sendo que eu tava fazendo o meio de campo com a tradução senão não tinha saído nada.

Mas o pior de tudo é a rede 3G. Um gringo que chega vai comprar um chip pré pago. Se paga 50 centavos por dia para ter conexão de dados, sendo que é super limitada, quando chega no meio do dia seu limite de tráfego acabou e não faz mais sentido usar dados em rede edge (sendo que a 3G já é lenta e ruim, a EDGE é uma ode à conexão discada…).

Sendo que na Itália me tomou 15 minutos para comprar e registrar o chip pré pago, isso sem falar uma vírgula em italiano…

E Em BH que vi vários conhecidos que não sabiam que o aeroporto ficava nos confins de minas morrer no taxi até o centro?! Achei suas idéias ótimas mas fico com uma certa revolta ao ver que algumas opções tão simples que melhorariam MUITO as nossas próprias viagens dentro do país só são pensadas quando vamos receber alguém de fora..

    Faltou especificar. Digo morrer no taxi pq não sabia que o aeroporto era longe. Que daria na faixa do 100 reais e muito menos a xistencia de um ônibus mais em conta! Nada!

Adorei as idéias, Ricardo. Parabéns! Estou à disposição para colaborar com o projeto dos cardápios traduzidos, caso esteja a fim de liderar esta empreitada (ou indicar quem estaria interessado). Recebo muitos visitantes estrangeiros e sinto na pele as traduções mal feitas nos restaurantes, mesmo em SP.

Trabalho com redação publicitária, traduções e agora estou começando um novo negócio em viagens. Seria um ótimo trabalho para tentar aprimorar os serviços aos turistas no Brasil.

Se houver interesse, por favor, me contate por email. Obrigada!

Muito legal! As 3 últimas ideias também são super úteis para os turistas brasileiros mesmo, antes, durante e depois da Copa!

Boas idéias Ricardo. Acabo de voltar de uma viagem aos EUA e usei uma delas na mão contrária. Comprei aqui em SP um chip americano pré-pago, carreguei com cartão de crédito e ao chegar no aeroporto de Vegas o celular já estava operante. Como absolutamente tudo que depende de governo aqui não funciona ou funciona mal, empresas que atuem assim já entregando o chip antes da viagem podem se dar bem. Usei a travel mobile (só googlar que aparece). Abs!

    Aqui em Omã, assim que vc sai do desembarque tem um quiosque da Oman mobile e da Friendi mobile.
    Só passaporte e vc está conectado

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