Instantâneo (minha crônica no Divirta-se do Estadão)
É a primeira vez que escolho um restaurante usando esta técnica. Vim andando pelo deck à beira-mar e passando os restaurantes e bares em revista. Num primeiro momento, não me interessava o ambiente. Nem a comida. Em vez de usar os olhos ou o nariz, usei meu celular. Onde houvesse sinal de wi-fi eu entraria.
Para você que pensa que esse negócio de trabalhar na estrada é fácil, saiba que não é. Trabalhadores convencionais precisam apenas de oxigênio, alimento e energia elétrica para trabalhar. Mas quem trabalha da estrada precisa de internet. Basta a sua conexão começar a falhar, e pronto – sua vida vira um inferno.
Sou devoto fiel de Nossa Senhora da Banda Larga e procuro cumprir todas as minhas obrigações com Mizifio, o orixá do wireless. De vez em quando, porém, eles me abandonam. E lá vou eu pagar meus pecados, laptop a tiracolo, procurando um lugar que me mantenha vivo por instrumentos.
Dessa vez até que me dei bem. Estou naquele que provavelmente seja o lugar mais charmosinho da costa sul (a mais democrática) da ilha de Barbados. O lugar se chama Tapas e fica rente a um deck de madeira que funciona como passeio à beira-mar. Daqui do segundo andar vejo o mar verde-esmeralda (menos transparente do que eu gostaria), turistas com câmera, mamães com carrinhos de bebê, cinquentões fazendo jogging.
O dia está nublado, o que é providencial para terminar o trabalho de escritório atrasado. (Com sol é difícil não ficar nervoso imaginando as fotos que estaria perdendo.)
Ouço vuvuzelas. Ué, onde está essa TV mostrando a Copa? Pergunto ao garçom, e ele me aponta a mesa de cinco mulheres loiras que assistem a Alemanha x Gana num laptop. Olho para o outro lado, e o inglês puxa papo falando da minha câmera. Ela é melhor do que eu – digo, como sempre. (É verdade. Tudo no automático. Eu só entro com o olho e com o dedo clicador.)
Chega o prato. Um chicken tikka masala, curry indiano de molho cremoso. Pedi “spicy”, mas veio só um pouco ardidinho. O que importa? O wifi é perfeito.
O jogo da Alemanha continua zero a zero. O sol teima em não sair. Subo a foto da vista no Twitter. Verifico a bateria: restam 37% da força. Obrigado pela companhia. Foi muito bom almoçar com você.
10 comentários
Vi a notícia e lembrei de você… A partir de hoje(01 de julho de 2010), a rede Starbucks vai ter Wifi liberada aqui nos Estados Unidos e no Canadá. Agora, precisou conectar enquanto estiver por aqui, é só entrar num(que tem em toda esquina!).
riq, eu já disse que te amo? não? te amo. ézocara!
Agora Riq , cá entre nós : tem coisa mais absurda ( e antiga ) do que depender de uma bateria ?
Quando é que esse tacape vai deixar de existir hem ?
Não consigo compreender essa involução tecnológica que ainda não resolveu esse mico-da-bateria .
Relou pessoal do vale do silicio e escambau !
E a falta de tomadas nos lugares? Hoje em dia tomada é mais importante que torneira 🙂
Não sei o que é melhor, o texto ou essa última frase 🙂
Bem certinho, Riq! Apesar de não ter a mesma necessidade profissional que você tem, eu tenho esse hábito de mal chegar em algum lugar e já verificar se o wi-fi dá o ar da graça na tela do iPhone…
Pouco viciadinha… rsrssss….
😛
Me identifico muito, muito, muito Inclusive com “Basta a sua conexão começar a falhar, e pronto – sua vida vira um inferno” 😀
Vou sair prum passeio em meia hora 🙂
Haha existe vida inteligente fora do futebol. Nem todo mundo é igual a mim e meus 200 colegas que lotavam o auditório da Companhia! 😉
Riq,
onde vc vai assistir o jogo daqui a pouco? Tá impossível trabalhar com tanta gente organizando festinha pré-jogo à minha volta então vim aqui beber um pouco de inspiração. Obrigada! 😉