#apagão

Minha crônica no Guia do Estadão de hoje.

twitterapagadoFoi por pouco, muito pouco mesmo. Coisa de dez segundos. A gente estava no corredor, prontos para sair. O botão do elevador já tinha sido apertado; faltavam um ou dois andares para chegar. Foi quando a luz do teto começou a piscar, e o display parou de indicar em que andar o elevador estava. Em seguidinha – puf. Breu.

Uia: que sorte. Escapamos de ficar presos no elevador.Entramos em casa, olhamos pela janela. A rua toda estava às escuras. Algum poste devia ter caído nas redondezas. Acendemos uma vela e descemos pela escada.

Indo a pé para a pizzaria, reparamos que todas as ruas de Higienópolis estavam sem luz. Ao atravessar a General Jardim, o Edifício Itália totalmente apagado lá longe indicava que o negócio era sério: o Centrão também estava escuro.

Só fui ouvir a palavra “apagão” lá dentro da pizzaria. E então caiu a ficha: a gente tinha escapado de passar a noite inteira dentro do elevador! (O vigia da noite não sabia sequer abrir a porta da garagem; que dirá resgatar gente presa entre andares.)

Seja lá como for, a pizzaria Veridiana é um dos lugares mais agradáveis de São Paulo para se estar durante um apagão. Todas as mesas estão charmosamente equipadas com lamparinas acesas. Os salões, de pé direito altíssimo, têm três ou quatro candelabros com velas grossas pendurados no teto. Iluminado apenas por velas, o lugar fica ainda mais bonito: pízza nas catacumbas. Dizem que quando as luzes se apagaram, todos começaram a cantar parabéns a você.

Pois eu estava ali, refletindo sobre a sorte de ter escapado da prisão no elevador, alimentado por uma pizza perfeita, perto de casa, a salvo das agruras do trânsito e da paradeira do metrô, poupado do desespero de quem ficou ilhado longe da família, quando me dei conta de uma tragédia da qual eu não tinha escapado.

Tudo isso acontecendo, e eu não estava no Twitter!!!

Meu celular, com a bateria arriada, tinha ficado em casa. Enquanto eu estava ali, desconectado, boa parte do povo que eu seguia estava narrando o apagão em tempo real, repassando as últimas informações – e fazendo um monte de piada, algumas até bem boas.

Cheguei em casa e fui direto ao laptop. Usando o resto da bateria e uma conexão móvel 3G, fui atrás de todas as tuitadas que tinha perdido nas últimas horas. Mas replay não é a mesma coisa.

A luz voltou. Atrasado, tuitei: apagão é batizado que nem furacão? Se for, o nome desse apagão é Geisy.

13 comentários

O Brasil não tem infraestrutura para suportar o crescimento econômico e o aumento da demanda quando a massa se integra ao mercado. Se todos (“todos” é figura de linguagem) podem comprar eletrodomésticos, tem apagão; se todos podem andar de avião, tem caos aéreo; se todos podem comprar carro em 500 vezes sem juros, o trânsito vira um inferno (estacionar, então)… Infelizmente, parece que a maior parte da população está condenada a não ter NADA. Apenas um reduzido grupo de X consumidores – podem chamar de elite ou qualquer outro nome – pode adquirir bens e serviços, pois o país só suporta esta determinada quantidade X de consumidores.
Já houve apagões semelhantes em agosto de 1985, precisamente num domingo (ter boa memória às vezes é ruim; esquecer é uma dádiva…), em 1995, 1997 e 1999, em 2001 tivemos racionamento, e até hoje nos engabelam sobre as reais causas e sobre o que (não) é feito para impedir que isso volte a acontecer. Mas esperar alguma coisa dos nossos desgovernos é ser ingênuo, é querer demais.

Olá, vi sua matéria no jornal, e fui logo entra no seu twitter…rs
Lê no papel é melhor que no computador, sem dúvidas…
Meus parabéns, vc escreve mto bem! E seu reláto foi ótimo!
..Meu #apagão foi sem graça…
Estava no computador, batendo papo no msn..
e… PUF..APAGOU..
Achei q fosse só na merda do meu bairro ( Jabaquara )
mas recebi 2 ligações.. Vc está sem luz tbm??!!
Logo pensei, a merda é geral !!!
Graças a Deus eu faltei no trabalho.. E por sorte terminei de pintar e secar meu cabelo as 21h ! Já pensou cobelo colorido, com falhas…kkkkkkkkk zuado! mas enfim, fiz o obvio..FUI DORMIR!

Um grande beeijo…

Realmente não só a pizza é muito boa, mas o ambiente da Veridiana é muito agradável.

Já fiquei preso em elevador duas vezes em outras ocasiões por falta de energia. O certo é ser resgatado pela empresa do elevador por uma questão de segurança, mas é impossível esperar, então no desespero vai o porteiro mesmo.

Agora tenho a sorte de morar num prédio com gerador [e nem sabia disso quando me mudei]. Com ele os elevadores, portões, câmeras de segurança, e luzes do prédio e dos apartamentos funcionam. Os aparelhos ligados à tomada, não.

Então só fiquei sabendo que tinha sido feio quando a energia se reestabeleceu completamente já de madrugada.

Muito boa!!!
adorei. meu relato é bem sem graca mesmo.
por sorte, ter um no-break salvou minhas noites de toda a semana pq não perdi uma linha de um trabalho no pc…tomei banho frio. praguejei a luz de emergência alheia e por fim, fui dormir.
as 2:30 uma luz acendeu na minha cara, lembrei da geladeira e fui religá-la e tudo terminou bem…mas agora vou lembrar de tirar tudo o q for possivel da tomada.vai q acontece bem qnd to fora??

Tudo o que eu pensei no meio do apagão foi que se ele tivesse acontecido em 2012, eu ia ficar super com medinho dos maias estarem certos!

Aqui em BH a energia só oscilou. Logo em seguida pipocaram twittadas, dos mais diversos pontos do país, de gente dizendo que a luz tinha acabado. Pensei: deu merda em algum lugar.

Liguei a TV e lá estava ao país às escuras. Pessoas trancadas em elevador, no metrô, pessoas voltando a pé pra casa, transito caótico, pessoas contando os últimos minutos de bateria. Cena de fim de mundo total.

Pensei nos hospitais com geradores limitados, nas comidas estragando, nos ladrões fazendo “a festa” na escuridão, no baby boom que começará daqui a 9 meses… 😛

Eu estava fechando tudo para dormir quando apagou. Quando vi que a paisagem que vejo da minha janela estava toda sem luz (quando fico sem luz, na maioria já vejo luzes “normais” depois da Brigadeiro; na terça eu não via nenhuma luz “normal” até a Serra da Cantareira — olha que vista legal eu tenho!), primeiro fui descobrir se meus pais e irmã, a 40 quilômetros de distância, também estavam sem luz (estavam). Perguntei à minha irmã se estavam sem luz. A resposta dela: “Ué, como é que você sabe?” E foi aí que caiu a fichade ir ao twitter. Mas a primeira coisa que pensei, já que não corri risco de ficar preso no elevador foi:

— Gente, como é que a gente vivia não só sem twitter, mas sem twitter no celular?

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