Bacon (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo.

A humanidade se divide entre povos que não têm estômago para quase nada antes do meio dia e povos que encaram qualquer coisa às 7 da manhã.

Os vietnamitas mal acordam e já vão tomar phô, uma temperadíssima sopa com lascas de carne semicruas, macarrão e verduras, que eu acho deliciosa – desde que me sirvam da hora do almoço em diante.

Na Índia não toque em nenhum item do café da manhã que não tenha formato, textura e consistência de uma fatia de pão de forma. Todo o resto, por mais inocente que pareça, será apimentado.

E sabe aquele arroz sem gosto que vem no teishoku dos japas mais tradiças, e que a gente põe shoyu por cima para descer? Pois no café da manhã do Japão esse arroz tem menos gosto ainda, e pôr shoyu por cima é considerado sacrilégio. (Para sua informação, o acompanhamento é peixe frito.)

Aqui pertinho o café da manhã do Nordeste também não é para os fracos: tem banana da terra cozida, inhame, às vezes até carne de sol. Mas eu caio de boca no resto – tapioca, bolo de macacheira, cuscuz de milho.

Não existe desjejum mais elegante do que o francês: café com leite, baguete, croissant, manteiga, geléia. Saiba que, quando ingerido com charme, atitude e nonchalance, não engorda.

Mas o café da manhã que eu realmente não entendo é dos americanos e ingleses. O problema ali não é nem comer ovos com bacon – e, no caso dos britânicos, feijão branco com molho doce – logo pela manhã. O que me escapa à compreensão é como alguém pode comer ovos com bacon, com ou sem feijão doce, a qualquer hora do dia.

Tá bom, eu sei, a gente come torresmo, que é pior. Mas torresmo tem lá suas atenuantes. Para começar, ninguém por aqui pede torresmo no café da manhã, pede? Tampouco come torresmo todo santo dia. Quando vem à mesa, o torresmo já traz o seu próprio álibi. Uma cerveja gelada. Ou a couve e a laranja da feijoada.

Discrição é o nome do jogo. Tome o caso do presunto. Fresquinho e comportado, ele participa do seu café da manhã sem jamais dar bandeira de que saiu do mesmo lugar que o bacon.

Para todos os efeitos, o presunto é parente do queijo. Praticamente um laticínio. Oinc! Oinc!

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25 comentários

Feijão doce, feito com feijão carioca- o marron -, leite de coco e açúcar faz parte do almoço de comida baiana típica. Em geral, acompanhando moqueca de peixe apimentada ou xinxin de galinha. Não sei de onde vem a tradição – a colônia inglesa foi grande aqui, dominava o comércio, até hoje existe um cemitério dos ingleses na Ladeira da Barra. Era um prato comum, antigamente; tenho visto pouco nos últimos anos.

quando eu não tinha gastrite o americano até dava pro gasto, mas o inglês me dá nojinho só de ver! haha

Na Alemanha se come direitinho normalmente: müsli, iogurte, pão, queijo, café
Mas tem o café da manhã de salsicha branca típico da Baviera que é uma coisa!
Nos lugares tradicionais de verdade, só é servito até meio dia: salsicha branca (não pode comer a pele!), cerveja de trigo e um pretzel pra acompanhar.
Na universidade, na sexta-feira, dá pra comer isso na cantina até 12h. =S

Rsrsrs…o presunto é praticamente um laticínio foi a melhor!
Eu quase morri em Londres com aquele feijão com catchup doce que os ingleses comem no café da manhã.
Foi a pior experiência gastronômica da minha vida! E foi apenas uma garfada! Aquilo é sem condição! Rs

Ahhhh, eu como bacon com ovos a qualquer hora do dia. Amo os habitos alimentares dos americanos e talvez por isso eu esteja 20 kilos acima do peso 🙁

Vou me lembrar do charme, atitude e nonchalance na minha próxima viagem à França. Certeza que voltarei em forma. 😉

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