Bróduei (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo

Antigamente, na falta de uma Broadway, tínhamos duas. A Broadway do Arraial d’Ajuda e a Broadway de Canoa Quebrada – as ruazinhas que concentravam a muvuca noturna. Os nomes não eram oficiais, claro, e o mais comum é que fossem escritos em brazuquês: Bróduei.

Nenhuma das Broadways originais resistiu. A do Arraial d’Ajuda perdeu o público e o elã para a Rua do Mucugê, mais adiante. E a de Canoa Quebrada ganhou calçamento e foi rebatizada com o pomposíssimo nome de “Avenida Dragão do Mar”.

Em compensação, temos agora uma Broadway de verdade, funcionando simultaneamente dos dois lados da Ponte Aérea. Em qualquer época do ano você vai precisar investir vários fins de semana consecutivos para dar conta de todos os musicais americanos em cartaz no Brasil.

Eu assisto de vez em quando – e gosto muito. Mas raramente por causa do enredo, das canções ou das versões. Vou a musicais da Broadway no Brasil como quem vai a apresentações da Esquadrilha da Fumaça. Vou para ficar boquiaberto: como é que eles conseguem?

Cada novo musical é um tapa na cara dos que dizem que ator brasileiro é incompetente porque não canta, dança e sapateia. Pois os atores brasileiros de musical não apenas cantam, dançam e sapateiam, como também assobiariam e chupariam cana, caso houvesse musicais americanos ambientados em canaviais ou barracas de pastel de feira.

Todos os espetáculos parecem fazer parte de uma mesma série, que poderia se chamar – o Obama deixasse – “Yes, we can”. Em vez de Hair ou Priscilla, os letreiros anunciaram Yes We Can Parte 14, Yes We Can Parte 17.

Outro dia fui assistir a Yes We Can Parte 22, digo, Um Violinista no Telhado. Nunca vi José Mayer tão bem, e o espetáculo está um absurdo de bem feito.

Mas posso falar? Depois de tantos episódios perfeitamente ipsis-literis dos originais, já estava na hora de dar uma tropicalizada. Uma avacalhadinha de leve. Minha sugestão: cortar uma hora de cada peça.

É fácil: basta transformar todas as chatíssimas músicas lentas em diálogo. E ficar só com os números de grupo, aqueles com coreografia e esquadrilha da fumaça.

Será que a gente não pode? Yes, we can!

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15 comentários

Bravo, Riq!

E mais uma vez, ao ilustrador também, que te transformou brilhantemente num grilo falante, cantante, e dançante. Lindo!

Realmente, fazem igualzinho, mas cá entre nós, as traduções das músicas ficam horríveis! Achei bizarro as músicas dos “brasileiros” Fantasma da Ópera e Mamma Mia!

    Fantasma da Opera ainda vai. Foi feito como musical, a origem da musica é essa. Mas Mamma Mia fica uma coisa meio Sandy e Jr traduzir.

Adorei! Assino embaixo e faço coro com a Liliane, parem de traduzir as músicas…..fica péssimo!

“Pois os atores brasileiros de musical não apenas cantam, dançam e sapateiam, como também assobiariam e chupariam cana, caso houvesse musicais americanos ambientados em canaviais ou barracas de pastel de feira.” – Genial.

Ufa Riq,

Ainda bem que não sou só eu que tenho sono com esse Bróduei.
Tenho vergonha até, em certos momentos fico viajando e contando lustres e portas de saída, tanto aqui como nas gringas.
São músicas demais.

🙂

Ricardo! Excelente a sua ‘Só mais uma coisa’ – “Bróduei”! Espirituosa, bem escrita e por sinal bem absorvida e transmitida letra por letra! Que tal dar um pulinho no Teatro Eva Wilma, para assistir “Da Cabeça aos Pés, sem Pé nem Cabeça? Uma produção brasileira, que faz da sua dança e do seu canto, pretexto, pré-texto mesmo, um moto condutor, sem precisar parar pra dançar ou ‘agora vamos parar pra cantar1! Pois as vezes sinto isso em alguns musicais: hora de dançar, hora de cantar… quando tudo poderia fluir muito melhor ‘encadeado’, ligado, sem breaks, ou paradas propositais… enfim… Convite feito, preciso ressaltar que sim, ficarás de boca aberta, olhos brilhando, pois este musical é um espetáculo para crianças de todas as idades! (lembrei agora, que no dia da gravação da trilha, um músico, ao piano indagava: ‘ei, mas esta música começa de um jeito, depois vai de outro… como as crianças vão bater palminhas?’ Eu expliquei a proposta, que eu não queria uma música ‘quadradinha’ e ele tocou desconfiado. Ah! Se ele visse o que eu vejo ao final de cada espetáculo… Todos, crianças, adultos, ‘todos’, não apenas batem palmas, mas cantam ‘a letra’ das músicas e ainda ‘dançam’ parte da ‘coreografia’…Yes, nós podemos cantar, dançar, encantar!!! rs

Pena na minha querida cidade, Belém do Pará, não termos a chance de assistir a esses espetáculos. As turnês dificilmente chegam até aqui…

Apoiadíssimo! Posso incluir mais uma súplica? Por favor, não traduzam as músicas! Só lembrava de uma conhecida cantora de casamentos, mais brega impossível! By the way, adorei Priscilla!

Falta tambem bons roteiros originais e producoes brasileiras, uma vez q todos estes espetaculos, ou a maioria deles, vem com figurino todo pronto, igual ao original americano.
E muito bom o musical americano e suas versoes brasileiras tambem sao otimas, acho q serve de estimulo para a industria nacional a produzir os seus, em escalas maiores.

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