Bugues na areia em Alagoas: até quando vão tolerar este absurdo?

Capa da Folha de S. Paulo

É um contra-senso. Enquanto no Brasil inteiro o Ministério Público e os estados disciplinam a ocupação de praias e acesso a piscinas naturais, em Alagoas se vê um retrocesso.

Praias do norte alagoano que nunca fizeram parte do circuito de bugueiros, como as da Rota Ecológica, estão sendo invadidas por bugues guiados e quadriciclos de aluguel.

Em trechos de São Miguel dos Milagres, onde uma lei municipal proíbe o trânsito de veículos na areia, os bugues e quadriciclos atravessam trechos ocupados por banhistas, normalmente vindos das redondezas, passando rente a crianças brincando na areia e peladeiros aproveitando a maré baixa.

Bugue na Praia do Riacho

Para piorar, ontem a Folha de S. Paulo coloca na CAPA esta foto pornográfica de um bugue em Barreiras do Boqueirão, em Japaratinga. Estimulando um sem-número de turistas a querer fazer este passeio quando estiverem em Maragogi.

Bugue na Praia do Riacho

Poucas coisas são tão trágicas quanto praias preservadas entregues a veículos. Cearenses e potiguares sabem o que é perder suas praias para os carros. Na Bahia, que sabe lidar melhor com o turismo do que qualquer outro estado do Nordeste, o trânsito de carros na praia é coibido há séculos. Em Porto de Galinhas também foi regularizado; os bugues passam apenas por um pequeno trecho a caminho de Maracaípe.

E justo num trecho batizado e marketeado como Rota “Ecológica” as coisas começam a dar para trás.

O mais triste é que esse litoral norte alagoano é perfeito para outro tipo de viagem panorâmica: de jangada. A barreira de recifes torna o mar tranqüilíssimo até na maré alta. A paisagem vista do mar é muito mais bonita do que da areia. E este é um dos poucos trechos do litoral brasileiro em que o passeio pelo mar pode ser feito. Todos ganhariam: as praias, os turistas, a mão de obra local.

Jangada na Praia do Toque

E enquanto a polícia e as autoridades deixam bugues e quadriciclos destruir as praias do norte de Alagoas, os motoristas de carros que trafegam legalmente pelas rodovias são insistentemente parados para averiguações e blitzes.

Alagoas precisa escolher: ou preserva as praias que ainda mantêm aparência selvagem, ou transforma todo o seu litoral numa imensa Praia do Francês.

Visite o VnV no FacebookViaje na Viagem
Siga o Ricardo Freire no Twitter@riqfreire


39 comentários

Parabéns pela matéria. Fiquei tristíssima ao ler por me lembrar daquele paraíso que é a praia do Toque, e outras ali perto com suas fazendas intermináveis de côco. Com Natal foi assim: a primeira vez que fui a Genipabu parecia que tinha decido no paraíso. Lugar de impressionante beleza, as cores das lagoas, indescritível. Quando votlei 10 anos depois, mal reconheci o local… Espero que isso não aconteça com aquele pedacinho do céu que é a Rota Ecológica. De verdade… fiquei passada…

Ler o texto do Nilson Sales me faz ter a certeza que paulatinamente os recursos naturais do litoral nordestino serão destruídos.Certamente, pensamentos tacanhos como este, comungandos pelas autoridades locais,são os responsáveis pelo surgimento de verdeiras aberrações como Maragogi,praia do Françês e Gunga,apenas para me restringir à Alagoas.A praga da máfia do buggy se espalhou e hoje é ” endêmica” no nordeste,causando poluição atmosférica e principalmente sonora.Sinceramente,torço que as novas lideranças políticas mudem esse panorama, sob pena de, em breve,a rota ecológica ser mais uma lembrança do passado.

É possível o turismo sustentável, pra isso basta se estabelecer regras, o RN tem exemplo disso, educação, fiscalização, tudo isso depende do interesse do poder público. Não é proibindo o acesso de carros que se vai garantir a sustentabilidade do meio ambiente Tem muita coisa além disso. Ecochatos existem, e sua ignorância impede de ver os dois lados das coisas, de procurar informação. O meio ambiente está aí pra nos servir, e podemos usufruir dele com responsabilidade, pensando em, no futuro continuar usufruindo. Em tantos anos de história do buggy turismo do RN, se não me engano esse ano aconteceu a primeira morte, infelizmente. Mas quantos não morrem por ano por aí em tantas e tantas modalidades de turismo ecológico, ou de esportes?

Pois é , meu caro.
Admitamos que o Senhor advogado, tenha algo exclusivamente contra os buggys. Pois é uma característica das dunas móveis ,ou tecnicamente conhecidas por nômades, se deslocarem, quer seja por influência dos buggys ou dos ventos.
Quanto a compactação, não há fundamento, pois as dunas são constituidas de arenito friável (solto), sem um segundo componente, tipo argila (cimento). Então não tem como compactar.
As dunas preenchem as bacias sedimentares. No nosso caso A BACIA POTIGUAR, ou seja elas mudam de lugar e depois retornam para o lugar anterior, exceto se tiverem cobertas por vegetação (fixas), e nós não andamos sobre dunas com vegetação!!!

Apoiadíssimo Riq! Além da questão de preserevação das praias, há que se pensar na preservação de vidas, principalmente para quem vai à praia com crianças. Não desgrudamos os olhos nem por um segundo dos nossos pequenos, agora, com bugres e afins circulando nas areias, a situação foge bastante ao controle.
Tão bom caminhar, as praias são tão lindas! Espero que essa situação seja revertida pela beleza e segurança da Rota Ecológica.

Complicado essa declaração, porém não ouvi falar em:

Mega construções em áreas de dunas de preservação ambiental;
Licenças sendo compradas por construtoras e indústrias inescrupulosas para construir até em falésias a beira mar;
Falta de saneamento básico público, poluindo os lençóis d’água;
Lixões a céu aberto sem tratamento nem controle dos órgãos publicos; e
Ainda falta de conhecimento sobre das normas e cuidados para a utilização dos buggys no estado do RN que é o pioneiro nesta atividade e que deveria servir de exemplo, pois emprega centenas de profissionais gerando divisas e muitos benefícios para o turismo sustentável que tanto se busca.
e ainda sobrou para os buggynhos….
Kenio Marques de Souza

Concordo plenamente com o Ernesto, o pato. Em algum lugar deste VnV, li que os pousadeiros fundaram uma Associação. Há que existir uma forte mobilização da parte deles para que façam valer a tal Lei Municipal que proíbe os bugres (as pragas) na areia.
Estive na Rota em 2009, 2010 e estou indo novamente na próxima semana. Penso que os investimentos e benefícios sociais que o Nilo, José Carlos e Alírio e os demais pousadeiros, levaram para a região são as credenciais adequadas para que possam exigir das autoridades a fiscalização eficiente da região. Os espaços unicos e especiais que eles nos oferecem (as pousadas) só fazem sentido se a região permanecer também unica e especial como eles tão bem souberam preservar até agora.

São tantas as agressões contra o equilíbrio natural do ambiente, em regiões de todos os estados e municípios brasileiros, que me pego seguidamente pensando por que uma nação só consegue aprender, quando aprende, com tragédias ambientais como as causadas pelas chuvas em regiões onde a interferência humana passou dos limites ou onde apenas, em razão da fragilidade do ecosistema, houve uma intervenção mínima, mas que bastou para causar um estrago imenso. A maioria dos humanos não sabe ver um ambiente ecologicamente equilibrado sem, de alguma maneira, deixar nesse lugar a marca de sua passagem, “eu, idiota de tal, estive aqui, essa é a minha marca idiota”. O ser humano apaixonado por carro, como todo o idiota apaixonado, não pensa nos estragos que a sua paixão pode causar, pois o prazer que sente é maior que tudo e que todos e não pode ter limites, como sentar a bunda em um bugue e ver tudo correndo (e todos correndo dos bugues)sem apreciar as gentes e particularidades das paisagens, que é a riqueza maior de qualquer viagem. Como entender que estes idiotas apaixonados, de todas as classes sociais, quando em férias, justifiquem um passeio de bugue pelas praias como uma oportunidade única de oferecerem aos olhos de seus filhos, essas maravilhas. Explico: o pior de tudo, é que em sua ignorância, inconscientemente, esses idiotas estão certos; A OPORTUNIDADE É ÚNICA, pois, em pouco tempo, as maravilhas que oportunizaram aos seus filhos, correndo de bugue, deixarão de existir, e os seus filhos não poderão mostra-las aos seus netos, porque o avô e a avó, pagaram para detonar o lugar com as rodas de bugues. Uhúúúúúúúúúú! vamos detonaaaaaaar! Esse é o grito de guerra dos idiotas em férias; e está dada a largada para a destruição geral.

Atenção: Os comentários são moderados. Relatos e opiniões serão publicados se aprovados. Perguntas serão selecionadas para publicação e resposta. Entenda os critérios clicando aqui.

Assine a newsletter
e imprima o conteúdo

Serviço gratuito