Cairu, uma bela adormecida baiana

Azulejos portugueses no Convento de Santo Antônio

Preços de 2010.

Cairu é uma das cidades mais antigas do Brasil — e a única sede de município que é um arquipélago, formado por 26 ilhas (incluindo aí as ilhas de Tinharé, onde está Morro de São Paulo, e de Boipeba), sem nenhum território no continente. É uma cidadezinha que está no caminho de quem vai a Boipeba pelo estuário ou para Camamu pela BA 001 (rodando mais 22 km em direção ao estuário).

Cairu: a Cidade Alta vista do estuário

Desta vez eu resolvi que ia parar de me contentar em ver só de longe as duas igrejas da Cidade Alta — a igreja do Rosário, mais antiga, de 1610, que parece contemplar o Convento de Cairu, que começou a ser construído em 1654 — e dar um jeitinho de finalmente parar para visitar.

Antigamente seria preciso pegar o barco lento de linha que faz a rota Graciosa-Cairu-Torrinha-Boipeba (numa viagem que leva algumas horas). Hoje, com a operação das lanchas rápidas entre Valença e Boipeba, basta resrvar lugar e dizer que quer parar em Cairu. Foi o que fiz. Embarquei com mala e tudo em Boipeba, pensando em dar um rolê por Cairu antes de seguir viagem.

A passagem Boipeba-Cairu

A passagem custou R$ 25 (até Valença seria R$ 35) e em pouco mais de meia hora eu já desembarcava em Cairu. Fui até a lanchonete em frente ao píer, tomei um refrigerante e pedi para guardarem minha mala.

Casarão em CairuCairu: Convento de Santo AntônioCairu: fachada do convento de Santo Antônio

Subi à Cidade Alta só com a bolsa da câmera. No meio da manhã, Cairu tem ares de cidade abandonada. Até Velha Boipeba parece ser mais movimentada. O casario é bem menos interessante do que se pode supor de longe. Mas a parada não é infrutífera, não.

Convento de Santo Antônio: fachada barroca

No alto da ladeira estará o Convento de Santo Antônio, a jóia que vale a parada em Cairu.

Foi a primeira igreja barroca do Brasil. Sua fachada serviu de modelo para (igualmente magnífico) o Convento de São Francisco de João Pessoa (a igreja que mais me emocionou nas minhas andanças por aí — talvez porque não esperasse que fosse tão bela). Leia mais sobre os aspectos arquitetônicos do convento de Cairu neste grande artigo do professor paraibano Alberto Sousa.

Na sacristia

As obras de restauração, feitas com verbas da Petrobrás, estão paradas há um ano (e devem ser retomadas a qualquer momento). Mas quer saber? Acho que a visita fica ainda mais mágica com os andaimes e os afrescos fora de lugar.

O lugar é tão pouco visitado que não tem ninguém na porta para receber os visitantes. Fui entrando, fui entrando… e lá pelo meio da visita apareceu um senhor baixinho de fala mansa. Achei que fosse um guia. Me levou à sacristia, mostrou os azulejos portugueses mais significativos, apontou detalhes da pintura do teto, demonstrou a superioridade do barroco predominante contra o neoclássico do altar mais novo.

Na sacristiaAzulejos portuguesesNa nave

Acabei só perguntando seu nome na saída. Mancada. Não era um guia — era Frei Hilton, o guardião do convento.

Azulejos portugueses no Convento de Cairu

Dei uma passadinha na outra igreja, a do Rosário, que também está teoricamente sendo restaurada. Mas o interior está oco; por enquanto, só vale para quem quer ver uma igreja pelada.

Então desci a ladeira, tomei mais um refrigerante na lanchonete, peguei minha malinha e voltei ao atracadouro para esperar a saída da próxima lanchinha a Graciosa, um lugar à beira da BA 001 que é a ligação de Cairu com o mundo (de lá você pega uma van para Valença, ao norte, ou Taperoá, ao sul, ou faz parar um ônibus de linha para continuar pela Costa do Dendê).

A lancha da rota Cairu-Graciosa

A passagem da lancha custa R$ 4, e há saídas sempre que se juntem oito passageiros. Precisei esperar meia hora até fazer quórum. Daí, em 10 minutos estava na Graciosa.

De lá fui para Itacaré. Mas só conto os detalhes no próximo post…

43 comentários

O passeio foi por acaso , mas conhecer o frei acabou se tornando inesquecível … coisas de Deus! Este lugar é sem duvida abençoado .

Adorei o texto! Na proxima vez , procure a Pousada da Mangueira, ali pertinho , a beira mar e peça uma deliciosa moqueca.

Voltei ontem de Morro de São Paulo, estive tambem em Cairu, visitei o Mosteiro e lá ainda está a figura fantástica do Frei Hilton, que nos emocionou. Ele tem um poder inexplicável de apenas tocando suas mãos falar tudo que está acontecendo com você.Ele é tão simples que todos pensam que é um funcionário, mas na verdade é um homem com poderes impressionantes. Sugiro à todos que forem ao Morro que não deixem de visitar o Mosteiro e o Frei HILTON, prá mim a melhor parte da viagem.
25/06/2013

    Wagner, faço das suas as minhas palavras. Cairu vale o passeio, mas o Frei Hilton me emocionou e marcou a viagem!

Acabei de voltar de Morro, com uma passada em Cairu. Frei Hilton continua lá, firme, forte e sábio. Vale a pena ouvir as palavras do Frei ao final da visita.

Riq, acabo de voltar de Morro de São Paulo.
Passei por Cairu, adorei a cidade.
As obras no Convento continuam, vai ficar lindão quando ficar pronto.
Quanto a Morro, esta totalmente em obras, da Rua da Fonte Grande até a escadaria que leva até o farol. Os recursos para as obras certamente são oriundos da nova taxa de turismo cobrado de todos que chegam até lá de R$10,00.

Já eu não conhecia…
Em contrapartida reconheci os “nossos” azulejozinhos setecentistas.
Adoro azulejos e já fiz várias formações sobre o tema…
Qual a matéria da minha aula de hoje à tarde?
A independência do Brasil (lá vou eu fazer o papel de professora maluca a fingir que sou o D. Pedro em cima do cavalo a gritar “Independência ou morte” – os miúdos têm 11 anos e ainda acham graça a esta história romanceada). Os meus alunos brasileiros não sabem nadinha de história do Brasil, apesar de alguns temas estarem integrados no nosso programa (não mais a partir desta matéria, claro). Para além de já terem vindo há alguns anos, os pais não lhes passam nada (possivelmente por pouco também saberem). Fico com pena, mas o mesmo deve ter acontecido (e continua) aos filhos dos nossos emigrantes na Europa.Pouco sabem de Portugal.

Gostei muito de Cairu. A cidade é tranqüila, limpa. Para quem gosta da arquitetura, sua situação beira do rio, faz de Cairu parada quasi obligada em seu camniho a Boipeba.
Ricardo, pela descripção que você faz do “guia” e a mesma pessoa que me mostró o Convento de S. Francisco (despois deixei um donativo pelo Convento, então estava sem reformas ainda que o precisava)
Adorei as fotos (eu tenho mais em câmara analógica pré-histórica e não são tão lindas)

Nas minhas marcopoleadas pela net no mês passado, tomei conhecimento de Cairu… Foi quando estava pensando em ir à Barra Grande. Lembrei da definição: “única sede de município que é um arquipélago, formado por 26 ilhas”. Tinha ficado interassíssima e agora, com seu post, me sinto tipo assim, mimada! É como se alguém fizesse a lição de casa pra mim! 🙂

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