De ônibus em Torres del Paine: city-tour de parque :-)

Demorou. Demorou anos e anos e anos, mas eu finalmente entendi por que tantas pessoas — praticamente a maioria dos viajantes (todo mundo que viaja pra mim é viajante, ou turista, tanto faz) — se dão por satisfeitas depois de fazer um city-tour e já se declaram prontas para partir para a próxima.

Torres del Paine: vistas de fora do parque

Aconteceu comigo na quinta-feira, em Torres del Paine, na Patagônia chilena. A ficha caiu. Não tenho mais moral de falar mal de city-tour.

Da janela do bumba

OK, eu sei que eu não fiz um city-tour de city. Fiz um city-tour de park. Mas o que importa é que eu gostei. E me dei por satisfeito. E assim compreendi o processo mental de quem corre o mundo fazendo apenas e tão-somente city-tours.

Não precisei esquentar a cabeça com nada. Entrei numa agência, perguntei se tinha lugar em algum tour saindo no dia seguinte, me encaixaram num busão. 20 mil pesos chilenos — 40 dólares — por cabeça. (Com extras: 15.000 pesos chilenos — 30 dólares — para entrar no parque. 3 mil pesos — 5 dólares — para visitar uma caverna no caminho. 13 mil pesos — 26 dólares — pelo almoço. Total: 100 dólares pra cada um.) Às 7h30 eles passariam no nosso hotel.

Desce, tira a foto, sobe de novo

Bom, até aí eu estava apenas comprando um passeio para um lugar a 150 km de distância da cidade onde a gente estava, Puerto Natales. Não tinha idéia de que seria um city-tour de parque.

Eu só fui entender mesmo no dia seguinte. Durante as 11 horas do passeio, o ônibus parou sete vezes. Três vezes fora do parque (uma na Cova del Milodón, uma caverna onde foi achada a pele de um animal pré-histórico; outra num bar de beira de estrada; outra num mirante de onde se vê as torres melhor do que dentro do parque).

A caverna do milodón

E quatro vezes dentro do parque: uma parada num mirante para ver os Cuernos, outra para ver a cachoeira do Salto Grande, outra parada para almoçar num refúgio à beira do lago Pehué, e a última para dar uma caminhada pela beirada do lago Grey para ver icebergs de perto e a geleira Grey de longe.

Os Cuernos

Ou seja: durante sete horas eu só desci do ônibus nos lugares mais mágicos à beira da estrada, onde eu pude tirar exatamente as mesmas fotos que todo mundo tira, e voltar para o quentinho do ônibus em questão de minutos.

O Salto Grande

Minto: na pernadinha de quinze minutos (para ir e para voltar) ao Salto Grande e na caminhada de meia hora (para ir e para voltar) pela beira do lago Grey eu enfrentei o frio patagônico e um vento polar de tão forte e tão gelado. E nesses dois momentos eu confirmei minha idéia previamente formada de que esse negócio de caminhar no frio em parque não é pra mim.

Lago Pehoé

As Torres, os Cornos, os Icebergs do Lago — tudo isso foi pra mim como a Torre Eiffel, o Louvre e Notre-Dame, vistos da comodidade do meu bateau-mouche sobre quatro rodas. Não precisei me sujeitar à atividade enfadonha de realmente entrar em nenhum deles. Fiquei feliz com as minhas fotos. (Sem falar que o tempo colaborou em 80% do trajeto!)

Lago Grey

Eu sei que eu deveria ter ido de outra maneira. Deveria ter feito o circuito dos trekkistas, dormindo em refúgios ou hosterías simples. Ou cacifado uma estada carissíssima no Explora ou na Hostería Las Torres.

Geleira Grey, no Lago Grey

Mas caminhar no frio para mim seria o equivalente a ter que descer do ônibus do city-tour e partir para o metrô. Enfrentar o vento seria me obrigar a me comunicar com gente que não fala a minha língua. As paisagens que eu não vi, as surpresas que eu não tive não me fazem falta — como não fazem a quem abdica de descobrir uma cidade com seus próprios olhos e suas próprias pernas.

Close nas Torres

Trouxe minhas fotos — meus troféus. Quem vai dizer que eu não conheci Torres del Paine?

Agora, a sério:

O tour de dia inteiro de ônibus pelo parque de Torres del Paine se revelou 100% adequado ao meu plano de ver o melhor da Patagônia com a melhor relação esforço x benefício possível.

Agora: não acho que valha a viagem de El Calafate até lá só para fazer esse passeio. É muito sacrifício pra ver uma montanha famosa.

Continuo achando que quem não curte caminhar no frio deve, sim, fazer o passeio de ônibus que eu fiz. Mas recomendo que fique mais dias em Puerto Natales, para fazer outros passeios — como as travessias pelos lagos do parque, ou a excursão de barco à geleira Serrano no parque Bernardo O’Higgins — e assim rentabilizar a viagem.

O melhor de tudo é incluir Puerto Natales/Torres del Paine num circuito entre Punta Arenas e El Calafate, para não precisar refazer nenhum caminho de volta.

Paine Grande

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    120 comentários

    Ricardo, vc é meu guru de viagens, mas dessa vez vou discordar 😆 Torres del Paine é um dos lugares mais impressionantes a que já fui, e ficar hospedada no parque (ou nas bordas, como foi meu caso, no Hotel Rio Serrano) foi uma experiência inesquecível. O hotel (como todos por lá) oferecem vários passeios de diferentes níveis (no meu caso, fiz passeios básicos, com saidas de van, caminhadas leves e até piquenique). Foram três dias mágicos, recomendo muito.

    Tentei acessar a agência – tour express – mas o site não abre.
    Tem mais alguma indicação de agência que faça o City Tour – achei bem interessante.
    Estou programando uma viagem para outubro com minha mãe (mobilidade reduzida).
    Obrigada

      Olá, Giuliana! O post é bastante antigo. Localmente você encontrará agências que ofereçam o passeio. Note que “city tour” é uma brincadeira do Ricardo Freire, ninguém vai se referir ao passeio desta maneira.

      Entendi, obrigada pelo retorno. Adoro as dicas que encontro aqui.
      Se algum usuário tiver indicação de agências, estou buscando!

    Boia, sabe de alguma agência bem conceituada que faz este passeio de 1 dia em Torres del Paine a partir de Puerto Natales? Estou com dificuldade de encontrar.

      Olá, Joice! É bastante fácil se encaixar em passeios localmente. Se você quiser ir com tudo já esquematizado, dê uma olhada nos passeios de agências locais vendidos pelo nosso parceiro Viator (clique aqui).

      Melhor mesmo é sair com seu carro do Brasil e seguir até o fim do mundo meio sem rumo. Fiz em março e foram 43 dias entre Argentina e Chile e ficou a sensação que tenho wue voltar, ficou muita coisa para ver e curtir. Sei que esse tipo de expedição não é para a maioria, mas voar até el calafate ou ushuaia e alugar um carro é uma opção muito válida.

    Boa tarde, vou aqui deixar um relato que possa ajudar a alguém que esteja planejando ir visitar o Parque Nacional Torres del Paine. Estive lá agora em janeiro de 2019 e foi a maior roubada da minha viagem. Tinha lido relatos de pessoas dizendo que foram a partir de El Calafate. Então, resolvi alugar um carro em El Calafate (o que me obrigou a ir e voltar para El Calafate). A estrada de El Calafate para Puerto Natales é mto perigosa, no sentido de que venta absurdamente. Não se pode sair do carro prá nada, com risco da porta ser levada. Inclusive, existe uma cláusula no aluguel estipulando uma franquia mais alta, específica para capotagem, pois é super comum nessa estrada. Vi um carro capotado na ida e outro na volta. Tb não tem sinal de internet. Além disso, o percurso que deveria ser feito em cerca de 4 horas, faz-se em 6 horas pois a Ruta 40, por onde se deveria ir o tempo todo, tem um trecho em ripio e todo mundo avisa prá não ir por ali. Então o percurso fica mto maior. É uma viagem mto cansativa.
    Estando em Puerto Natales, tem-se que novamente viajar 2 horas para chegar ao parque, pois a estrada tem alguns trechos também em rípio.
    A entrada do parque vale para 2 dias.
    O parque é lindo mas venta absurdamente. No dia que fomos a velocidade do vento no chão era de 70 km/h e no Mirador Salto Grande, mto indicado pois é mto bonito, estava 120 km/h, de forma que não se podia ir.
    Fizemos uma pequena trilha para ver o Glaciar Grey, a partir de uma praia. Depois de mto caminhar, naquele vento absurdo, voltamos sem ver. Consegui ver de longe a partir de um hotel que passamos de carro, ainda dentro do parque.
    De forma, que ir a esse parque, com uma logística tão complicada é uma roubada. Depois de fazer todo esse trajeto para estar lá, a chance de não conseguir ver nada é muito grande.
    Vimos paisagens belíssimas das Torres del Paine, a partir da estrada, antes de entrar no parque.
    Bem, se a pessoa não tem condições de se hospedar dentro do Parque Nacional Torres del Paine, que é mto caro, não vá. Não vale a pena mesmo.
    Se quiser mesmo ir, aconselho que vá para Puerto Natales de avião para não ter que enfrentar a estrada e todo o gasto de aluguel de veículo, combustível e tal para lá. E de lá faça a excursão com agência, que o Ricardo Freire fez.
    Um abraço.

    Oi tudo bem? Muito bom seus comentários, estou indo para o Chile em fevereiro/19 e estou em dúvida se vou direto para Puerto Natales ou Punta Arenas e pego os tour para fazer os passeios, qual sua recomendação? Obrigada

      Olá, Patricia! Em Punta Arenas você pode ver pingüins até março. Os demais passeios saem de Puerto Natales mesmo.

    Olá
    Quero fazer exatamente este tour de 1 dia no arque de Torres del Paine. Estarei lá no dia 18 de novembro. Devo reservar o passeio daqui do Brasil com antecedência ou estando em Puerto Natales é fácil contratar? Recomendam alguma agencia?

      Olá, Ana! Se você conseguir marcar aqui do Brasil, ótimo. O Ricardo Freire marcou na véspera lá mesmo, mas não sabemos se de lá para cá a situação mudou.

    OLá! Irei para El Calafate em dezembro. Alguém pode me indicar uma agencia que alugue carros em El calafate e devolva em Punta Arenas, por gentileza.

      Olá, Sonali! Nenhuma agência topará que você alugue num país e devolva no outro.

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