Atentados terroristas: devo cancelar a viagem?
Os riscos de viajar
Viajar não é um esporte 100% seguro. A mais tola das viagens é capaz de provocar toda sorte de inseguranças, muitas delas igualmente tolas, mas que acabam nos tirando o sono. A gente tem medo de perder o avião, medo de não achar táxi na chegada, medo de ser enganado no câmbio, medo da língua, medo do cartão travar, medo do hotel sumir com a reserva, medo do hotel ser ruim, medo do despertador não tocar, medo de não conseguir fazer o passeio, medo de ser assaltado ou furtado, medo de chover, medo de não cair neve… Tem gente que tem medo — alguns, fobia! — de feriado: e se eu chegar e todo o comércio estiver fechado, o que vou fazer?
Se todos esses medinhos nos assombram na véspera de viajar, o que dizer do medo de um atentado terrorista?
Muitos dos riscos do início desse tópico podem ser evitados ou minimizados. Viajantes que não queiram sair de sua zona de conforto (ou que queiram aumentar sua zona de conforto) reservam traslados, contratam guias, aderem a passeios em grupo, cacifam hotéis de luxo.
No entanto, a única maneira de eliminar o risco de terrorismo na viagem é escolhendo um destino totalmente livre de terrorismo. Deixar o passaporte no cofre, não usar relógio, não andar com máquina fotográfica no pescoço e não dar mole com mochila e sacolas são atitudes que minimizam o risco de assalto ou roubo. Mas não há nenhum conselho que se possa dar para alguém que queira evitar ser alvo de um homem-bomba, a não ser: não vá para lá.
Isso quer dizer que eu estou aconselhando cancelar a viagem à Europa?
Não. O que eu quero dizer é que não existe nenhum argumento 100% infalível para mudar a opinião de alguém que esteja com medo de viajar para um destino com risco de terrorismo.
No entanto, caso você esteja em dúvida, ou precise de argumentos para dar a todos os que pressionam você a desistir da sua viagem, os próximos tópicos podem ser úteis.
Argumentos racionais para não cancelar a viagem
Não sei se existem dados sobre isso, mas aposto que estatiscamente estamos mais sujeitos a levar uma bala perdida durante os 355 dias do ano em que vivemos no Brasil do que uma bomba nos dez dias que vamos passar na Europa.
O risco de terrorismo não deve ser um risco muito diferente de andar de avião. Sempre que subimos num avião, sabemos que existe uma remotíssima possibilidade de cair. A probabilidade de estar no destino do próximo atentado terrorista no lugar e na hora exata da próxima explosão é a mesma de estar exatamente no vôo que o piloto alemão jogou nas Dolomitas, em março do ano passado (matando 10 vezes mais gente do que o atentado de Istambul — e nem atentado terrorista foi).
Até o momento não parece haver um plano coordenado desses atentados. Não houve nenhuma reincidênca num mesmo destino. (Por outro lado, isso pode aumentar a paranóia — onde será o lugar do próximo?)
A Europa convive com terrorismo há décadas. Antigamente o terrorismo era político; de 20 anos para cá, tem sido de fundo religioso. Em 2005, 3 bombas explodiram no metrô de Londres, matando 37 pessoas. Antes disso, em 1995, uma bomba explodiu no metrô de Paris, com 4 vítimas fatais. Em 11 de março de 2004, 191 pessoas morreram num grande atentado no trem suburbano de Madri. Nada disso fez com que londrinos, parisienses e madrilenhos emigrassem em massa, abandonando suas cidades inseguras ou deixando de andar de metrô ou trem. E nós continuamos a viajar a Londres, Paris e Madri esse tempo todo, como se nada tivesse acontecido.
Aliás, nada como deixar a fervura baixar.
Dê tempo ao tempo
Depois de algum tempo de um atentado, a poeira baixa e a gente fica mais tranqüilo para viajar. Até os Eagles of Death Metal, a banda que se apresentava no Bataclan no momento do atentado de novembro em Paris, já voltaram à cidade.
De todo modo, é interessante ver como o conceito de lugar inseguro vai mudando com o tempo. Na década de 70, Nova York era vista como um lugar tão perigoso que americanos de outras partes do país evitavam visitar; a campanha I love New York foi lançada para tentar reverter a decadência turística da cidade!
Um dos destinos da moda do momento, a Colômbia, já foi um lugar quase proibido para se fazer turismo.
Devo cancelar a viagem? Consulte o travesseiro
Como eu disse anteriormente, não existe nenhum argumento 100% infalível para convencer alguém a viajar para um lugar onde há risco de terrorismo, por mais ínfimo (na minha opinião) que esse risco possa ser.
Devo cancelar a viagem? No fim das contas, o conselheiro que você deve ouvir é o seu travesseiro. Se alguma viagem, qualquer viagem, está tirando o seu sono (por preocupação, não por excitamento), o melhor a fazer é cancelar.
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32 comentários
Cheguei em Paris dia 21/12 e fique até 02/01, quando retornei ao Brasil. Tudo lindo e iluminado como nos anos anteriores. Este ano não havia tantos turistas quanto nos anos anteriores, mas no dia 29 em diante a Champs E. estava repleta, cheia mesmo de turistas de todas as nacionalidades e a alegria era constante e irradiante em todos. Muitos policiais como nunca tinha visto antes e a sensação de segurança era enorme e nada nos deixou preocupados, nem mesmo outros lugares em que a presença de turistas é maior
A pior coisa que me possa acontecer é morrer na minha cama!
Gosto demais de seus comentários.
Sou carioca mas moro e trabalho em Istambul e me sinto muito segura aqui. Os comentários acima falam tudo e fico imensamente feliz de perceber a resposta do povo brasileiro a esse infeliz fato.
Olá, Marcela! Que bom ouvir um comentário de uma carioca dizendo que se sente segura em Istambul. Vou para Istambul na minha lua de mel no final de abril e tô sofrendo uma baita pressão da família para alterar o roteiro. Mas acho besteira… Acho que o risco de alguma fatalidade existe em qualquer viagem e considero uma hipocrisia carioca ter medo de ir para um destino turístico na Europa!
Gostaria só de saber de você se sentiu alguma mudança no policiamento após o atentado e como é a sua sensação de segurança aí em Istambul.
Obrigada!
Bjs
É isso ai marcie..nos encontramos la em fevereiro!!
Embora jamais tenha enfrentado uma situação de terrorismo, tive, por exemplo a experiência de ir para a Grécia no auge do primeiro quebra quebra. Sabendo evitar algumas áreas e tomando cuidado, não tivemos problemas.
Tenho mais receio de revoltas populares como as que tomaram o Egito e me fizeram desistir de uma viagem em 2011 do que de atos terroristas. Penso que depois de um ato terrorista, dificilmente outro acontece no mesmo local logo em seguida. O mesmo não vale para as revoltas como a citada ou guerras, as quais se arrastam ao longo de mais tempo.
Duvido que haja algo novo em Paris, Istambul ou Jakarta nos próximos meses.
Adicionalmente, mesmo respeitando o receio alheio, sou da opinião que é mais perigoso andar pelas ruas das grandes cidades brasileiras do que estar num país como a Turquia por exemplo. Acho que para o turista, em certas situações é mais uma questão de fatalidade.
O terrorismo gera um grande impacto emocional em todos nós no momento dos fatos, mas como seres humanos, acabamos esquecendo.
Alguém hoje desiste de viajar aos EUA depois do 11/9? Da Espanha depois dos trens de Atocha? De Londres depois dos atentados acima citados? De Bali depois da explosão daquele bar? Ou pior, dos muitos atentados em Israel?
Concordo plenamente com a observação de que nada é 100% seguro, quiçá ficar em casa.
Excelente post!
É isso. Não se pode prever o que vai acontecer…
Passamos o natal e ano novo entre os destinos: Berlim/Bélgica/Paris/Londres e Edimburgo, o que posso dizer é que em momento algum senti qualquer tipo de insegurança. Claro que, ficamos atentos, evitamos alguns lugares nas datas comemorativas, mas os climas das cidades, das pessoas e das atrações em si, nos envolveram muito mais do que um possível ato de terrorismo. Claro que fiquei de olho nos noticiários, nosso receio maior foi em pegar metros e lugares fechados, o que não ocorreu em nosso período de estadia nesses lugares. Ah! Eu particularmente, ficava um pouquinho tensa no deslocamento via avião entre esses lugares, porque eles te revistam (nos EUA me revistaram mesmo, antes de entrar no avião quase precisei tirar a roupa rs), te fazem perguntas (na verdade, nada fora do habitual), não sei, fiquei um pouco tensa sim, mas porque no mesmo dia um avião para Paris teve um alerta de bomba e tal, ninguém nos tratou com mal, ou com grosseria, longe disso, mas eu sentia um clima tenso… O único empecilho que vi, de viajar para esses lugares foi que em todas as atrações turísticas tem que abrir mochila, ser revistado, gera uma filinha, mas, uma dica, tente sair leve ou, já vá cumprindo o ritual (abrir casaco, tirar cachecol, abrir bolsa) pra ganhar tempo. Em Paris por exemplo, eu achei que estaria mais enfeitada, mais iluminada, senti que os atentados deixaram sim uma marca na cidade, talvez em outros anos (essa foi minha primeira vez) tivesse sido diferente, ou eu que criei expectativas demais, não sei, mas posso dizer que tudo foi incrível! Todos os lugares, tudo cheio de gente, pessoas felizes de férias circulando, muito grupo de chineses, italianos, enfim, vida que segue! Não nos arrependemos em momento algum, valeu muito a pena, e mesmo transitando pelas capitais cujo ameaça de terrorismo era (e ainda é) considerada iminente, me senti muito mais segura do que andando pelos cruzamentos da cidade de SP.
Vou contar uma coisa totalmente tola para vocês Há alguns anos, logo assim que cheguei em Roma, uma notícia me chamou a atenção nos jornais. Uma freira estava parada esperando o ônibus. Quando este se aproximou do ponto, ela foi para perto do meio-fio (para pegar o ônibus, claro!), mas tropeçou, bateu com a cabeça no ônibus ainda fazendo manobra e morreu. Uma morte tola, coitada! Mas a vida é cheia de riscos. Não deixem de viajar por medo do que seja. Quando chega a nossa hora, não há para onde correr. Boa viagem a todos.
Tenho o mesmo argumento estatístico que o seu, Ricardo.
A possibilidade de levar um tiro na porta de casa no Brasil é muito maior que estar em um ataque terrorista.